domingo, agosto 30, 2009

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 30 de Agosto de 2009 – Já começámos a ouvir coisas extraordinárias e mais ouviremos até 27 de Setembro próximo. A direita mais direita, que também temos a direita menos direita, acha agora que a solução para os problemas da economia portuguesa passa pela ajuda às PME.
Tempos houve em que o PCP clamava como João no deserto pelo apoio às PME. Porém, como era o PCP a falar, a direita, a mais e a menos, apoiava e estimulava o aparecimento de grandes grupos económicos, porque só assim poderíamos ganhar as batalhas da modernidade, da internacionalização e da competitividade, ou seja as batalhas dos ãos e dos ades. Entretanto veio a crise, exactamente numa altura em que se pensava que as continhas do Estado estavam em ordem, após aquela desgovernação de Barroso e Santana e de Portas com ambos.
Não sabendo bem o que fazer no momento que passa, os passarões do costume baralham e tentam dar de novo, na esperança que da baralhação saiam os trunfos capazes de ganhar o jogo. Sim, que neste momento ainda é tudo um jogo. E lançam a ideia de apoiar as PME, parecendo ser a actual pedra filosofal da direita mais direita. Apoiar as PME é necessário e talvez seja a mais patriótica das soluções, digo eu, por pura intuição, que de economia duvido que até os próprios economistas saibam.
Temo, contudo, que seja apenas um amor de Verão. No Outono, quando se discutir o OE se verá o que vai acontecer. Até lá, deixemos actuar os cartomantes.


sexta-feira, agosto 28, 2009

AQUI

Aqui do sítio onde moro
Avista-se o Tejo
E a grande acidade.
Mas na Primavera,
Eu prefiro andar no olival
Por entre ervas
e arbustos bravios,
sorvendo-lhes a fresquidão
e os aromas
E ignorando o Tejo
e a cidade.

É nessas horas
De abandono feliz,
Que rememoro Cesário Verde
E os seus versos alexandrinos.

E às vezes até parece
Que a fresquidão
e os aromas
Se propagam também aos versos.

Ou simplesmente,
Transparece.

quarta-feira, agosto 26, 2009

NÃO TENHO PALAVRAS SÁBIAS

Não tenho palavras sábias
Nem virtuosas para vos dizer.
Se procurais essas palavras,
Esta não é a certa porta
Onde devereis bater;
Porém, a cidade está repleta
De homens sábios e virtuosos,
Que, certamente, vos dirão
As palavras que os vossos corações,
Generosos, tanto procuram.

Eu só sei falar de cigarras,
De potros fogosos e bravios
E destes dias calmosos de Verão.
E se um conselho meu quereis ouvir,
Pois bem, aqui o tendes:
Sede ledos como as cigarras,
Fogosos e bravios como os potros
E desfrutai estes calmosos dias de Verão.

Simplesmente,
Que o tempo – o inexorável tempo –
Se há-de encarregar de fazer o resto.


DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 26 de Agosto de 2009 – 06H15. À porta do Posto Médico de Santa Iria, na Rua S. Francisco Xavier, concidadão nossos, muitos, faziam fila na esperança de se inscreverem para uma consulta médica.

Estive, vai não vai, para parar o carro, pegar na máquina fotográfica e fazer duas ou três fotografias, que uma boa fotografia, diz-se, vale mais que mil palavras. De qualquer modo, mesmo sem fotografias, quero aqui deixar o meu protesto veemente pelo desprezo que os governos, uns após outros, revelam pelos utentes do SNS.

No caso de Santa Iria, a situação tem contornos de verdadeira perseguição. Os serviços funcionam num prédio de habitação, sem elevador e sem quaisquer acessos destinados a deficientes. Acresce que as instalações se têm degradado e nunca foram feitas obras de beneficiação dignas desse nome.

A Junta de Freguesia tem-se batido pela construção de um Posto Médico condigno. Tem promovido várias iniciativas reivindicativas, para ajudar a resolver um problema de toda a população. Porém, apesar dos esforços da autarquia, tudo permanece inalterável, com excepção da degradação que o tempo vai operando. O mobiliário das salas de espera era um nojo. O chão idem.

Era bom que neste tempo pré-eleitoral, os habituais caçadores de votos dissessem o que pretendem fazer. Nomeadamente, os candidatos do PS e do PSD, cujos partidos, com toda a certeza, hão-de governar o país, nos anos futuros. Era bom que se comprometessem com a população e não se limitassem a acompanhar os fazedores de promessas. Com o PS à cabeça, que promete muito, mas se revela sempre refractário ao trabalho e à procura de soluções.



segunda-feira, agosto 24, 2009

AS CEGONHAS

Partem antes do equinócio
E antes do equinócio chegam.

Nos cocurutos das árvores
E nos velhos campanários,
Constroem as suas habitações;
Donde, com indiferença,
Gloterando, placidamente,
Espreitam as nossas vidas.

Falo das cegonhas
E da sua mania das alturas.

domingo, agosto 23, 2009

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 23 de Agosto de 2009 – José Sócrates tem sido um mau primeiro-ministro? Não tenho, a esse respeito, quaisquer dúvidas; porém, considerá-lo o pior primeiro ministro de sempre, como fez Paulo Portas, é manifestamente injusto, porque é difícil igualar ou ultrapassar um governo como o de Santana Lopes, do qual fez parte o mesmo Paulo Portas. E até o governo do anfitrião dos decisores da guerra do Iraque terá sido pior.

Sócrates aumentou todos os impostos? É verdade que aumentou alguns e que tem deixado correr o marfim dos impostos sobre os produtos petrolíferos de uma forma escandalosa, permitindo lucros fabulosos às petroléferas e arrecadando a “massa” dos consumidores dos derivados do petróleo.

No plano dos princípios, Paulo Portas não está em condições de dar lições a Sócrates. É um defensor dos ricos e poderosos, apesar daquele seu jeito estudado e calculadinho de andar de feira em feira a apertar a mão ao povoléu e a beijar peixeiras. Se chegar ao poder através de alguma coligação, não exercerá o poder para aliviar os mais desprotegidos. Paulo Portas não é uma abertura ou saída para o que quer que seja. Paulo Portas é um muro entre ricos e poderosos e o genuíno povo de Portugal.

Paulo Portas, se já se esqueceram, é um comprador de submarinos para coisa nenhuma. Num Estado de direito a sério… Paulo Portas, o grande pregador das feiras, não andaria por aí em constante pregação, como uma virgem imaculada.

Desgraçadamente, Portugal é esta coisa que apodrece e fede.

quarta-feira, agosto 19, 2009

AZENHAS DO MAR




Viajar para o estrangeiro parece, nos tempos que correm, ser um desígnio nacional. E no entanto, devotam-se ao esquecimento verdadeiras pérolas lusas. Vai-se à procura do belo lá longe, quando temos o belo dentro de casa. Penso que assim diria um tal Luiz Vaz e com toda a razão.


terça-feira, agosto 18, 2009

DO MEU DIÁRIO

Moscavide, 18 de Agosto de 2009Fragmentária Mente saíra este ano, custe o que custar. Sei que o mundo ficará exactamente como está, porque não tenho nada de novo para dizer ou dar ao mundo. Tenho o que tenho e só acontecimentos excepcionis impediriam a publicação deste meu quarto livrito.

Digo livrito, porque se trata de um pequeno livro (capciosamente não escrevi livro pequeno), que, sendo pequeno no formato e no número de páginas, não trará nada de novo ao mundo.
Bem sei que os poetas com p maiúsculo cultivam o conceito, enbrulhando-o em engenhosas formas que encantam e espantam os que lêem. Eu prefiro dizer coisas triviais e de forma trivial. Quero a minha poesia branca e pueril e de mensagem simples, exactamente assim, pois foi assim que três bons amigos já falaram dos meus versos.

E para ser rigoroso vos direi que puer tem sido sempre o meu coração.



segunda-feira, agosto 17, 2009

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 17 de Agosto de 2009 – Manuela Ferreira Leite é o cúmulo da hipocrisia. De resto, como o seu mestre Aníbal e a generalidade dos seus condiscípulos da cúpula do PPD/PSD. Cometem as maiores injustiças quando governam; porém, após uma qualquer barrela no Coliseu ou em outro sítio do estilo, fazem passar a ideia de que são criaturas imaculadas e com particular vocação para a promoção do bem público.

É evidente que não gosto de Manuela Ferreira Leite, que foi a responsável pelos piores ataques contra a Função Pública. Esquece a bondosa senhora, que já foi ministra das Finanças e da Educação (há pessoas com tais talentos, que poderiam ser titulares de todas as pastas!), que lançou os piores ataques contra os trabalhadores da Administração Pública, dando azo a que corruptos e relapsos se sentissem com coragem para proferir contra tais trabalhadores todos os impropérios. Os estragos causados por Manuela Ferreira Leite, na sua guerra contra a Função Pública, são incalculáveis.

Hoje, termino como comecei: Manuel Ferreira Leite preside ao partido que personifica a hipocrisia. Advoga a transparência e o culto da verdade para os outros; contudo, revela-se incapaz de impor tais valores dentro da sua própria casa. Se esta senhora vier a ser primeira-ministra, Portugal regressa aos piores tempos de Santana Lopes. Do PPD/PSD nada de bom há a esperar. Não é gente que se dê a Portugal.

quinta-feira, agosto 13, 2009

DO MEU DIÁRIO

Forte da Casa, 12 de Agosto de 2009 – É público e notório o nervosismo dos “Bloggers” ligados ao PS, com o decorrer dos dias, que nos aproxima, inexoravelmente, do dia do grande escrutínio.

Há um “blogue”, “o Jumento”, que, até muito tarde, dando umas no cravo e outras na ferradura, ia fazendo de independente, não se coibindo de criticar alguns aspectos da governação de José Sócrates.

O “Blogger”, que não sei quem seja, mas que tem revelado muita informação sobre a DGCI (Direcção Geral de Impostos), foi, digamos assim, o principal crítico de Paulo Macedo. Comecei a lê-lo nesse tempo, com assiduidade, porque era um espaço com algum interesse.
Como dizia um dos tios de meu pai, o tempo é o melhor mestre dos homens. E o cáustico “o Jumento” é hoje um “Blogger” sem poder de encaixe e em perfeita sintonia com o actual poder. Malha em toda a oposição, mas Jerónimo de Sousa, Bernardino Soares e Mário Nogueira, tornaram-se nos bombos da festa deste homem, que, lá bem no fundo, deve ter um problema qualquer com os comunistas portugueses.

Se a verdade for como o azeite, um dia se saberá. Alguma coisa há-de ser, porque o nosso “Blogguer” está vivendo uma verdadeira guerra civil. Como o PS, de resto.

quarta-feira, agosto 12, 2009

DO MEU DIÁRIO

Rua de Entre Bairros
Santa Iria de Azóia, 12 de Agosto de 2009 - Há muitos anos que a Mata vem perdendo população. E na actualidade, de forma irrversível. Permanecem as viúvas e os viúvos, umas dúzias, poucas, de casais de meia idade, os casais jovens contam-se pelos dedos das mãos, crianças... Bom, e dramático é mesmo não haver crianças, ou serem tão poucas, que, se o projecto educativo "Belgais" acabar, com ele acabarão as vozinhas menininhas que ainda se iam ouvindo e que já não eram de crianças criadas na aldeia.
Nesta altura do ano, com a vinda dos emigrantes, assiste-se sempre a alguma animação. Porém, também estes aprenderam novos caminhos e já não dispensam a praia e o viajar "cá dentro". E ainda bem que assim é, nomeadamente para os emigrantes de segunda e até de terceira geração. Ainda há dias encontrei um jovem, Tiago de seu nome, que me foi apresentado como filho de um amigo, o Zé Reis, no repleto Estádio da Luz.
O pior é nos outros meses todos, em que corremos o risco de atravessar a freguesia sem encontrar vivalma.

segunda-feira, agosto 10, 2009

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 10 de Agosto de 2009 – Nunca votei em Cavaco Silva e por mais mil anos que ambos vivamos, mantendo o meu perfeito juizo, nunca nele votarei. Se se tratasse de um tecido, deste não mandaria fazer um fato.

O homem que ocupa actualmente o lugar de topo da hierarquia do Estado, a presidência da repùblica, não é o presidente de todos os portugueses. É um presidente de facção, porque são muitos os sinais de que quer e vai favorecer o partido donde proveio, o PPD/PSD.

É certo que não tendo sido por mim eleito, não tenho de ter em relação à pessoa expectativas espúrias. Cumpre-me viver o melhor que sei e posso e ajudar a correr com ele na próxima oportunidade, no estrito respeito pelas regras da democracia.

Sei que há modulações de forma e conteúdo para o exercício de certos cargos. Entre Soares e Cavaco, nunca hesitaria, porque sei que Soares defende causas que eu também posso defender. Entre Cavaco e Sampaio, nunca hesitaria, porque sei que Sampaio defende causas que me são caras. Entre Cavaco e Eanes, não hesitaria, porque sei que as atitudes éticas de Eanes podem ser por mim defendidas, ainda que o general tenha feito uma aproximação ao PPD/PSD, nos últimos anos. Mas tudo o que digo em relação a Cavaco posso dizer em relação aos primeiros-ministros.

Só que o Presidente é suposto voar sobre o ninho dos cucos.

quinta-feira, agosto 06, 2009

DO MEU DIÁRIO




ERICEIRA
Foi amor à primeira vista.
Tudo começou noOutono de 1980.
Com a Zélia, a Natália e o João Maria.
A Filipa chegaria alguns meses depois.

quarta-feira, agosto 05, 2009

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 5 de Agosto de 2009 – Anteontem, mais ou menos a esta hora, um sujeito de cerce de sessenta anos, cabelo grisalho, bem vestido e bem falante, que acabara de ser condenado por um tribunal da república a sete anos de prisão, declarava que a justiça o tinha condenado sem que fosse feita prova dos factos, durante o julgamento. Atacou as magistraturas judicial e do ministério público, com a sombranceria de quem sabe que não cumprirá um só dia de prisão.

Falo de Isaltino de Morais, que é presidente da Câmara Municipal de Oeiras e que já foi ministro de uma pasta qualquer, no tempo do actual magnífico presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que, antes de sair na rifa à Europa, nos coube em sorte como primeiro ministro, aqui no rectângulo.

O homem acusava a justiça e proclamava a sua inocência, como se a origem dos milhões mandados para a Suiça e as trapalhadas em Cabo Verde e a fuga ao impostos, segundo os jornais e suponho que admitidas em sede de julgamento, tenham sido explicadas cabalmente, ficando demonstrada a lisura de todos os procedimentos.

Bem sei que não basta acusar; porém, como diz o povo “quem cabritos vende e cabras não tem… Era aconselhável, no mínimo, que o senhor não fosse tão arrogante. Fala do cimo dos seus milhões e confiante de que a justiça continuará inoperante e a proteger os poderosos.

Isaltino não acredita que Portugal poderá vir a ser um país decente.

Era bom, era desejável, era salutar, que ex-companheiros de governo e candidatos a altos cargos se pronunciassem em relação a este caso. Em nome da verdade e da transparência. Não basta o cliché estafado de que se acredita na justiça do país.

terça-feira, agosto 04, 2009

DO MEU DIÁRIO

Cotovia, 23 de Julho de 2009 – Oliveira e Costa, Dias Loureiro e Arlindo de Carvalho, entre outras, assassinaram Ti Chin-Fu, e, ao contrário de Teodoro, o personagem de Eça, não sentiram qualquer tipo de culpa, de arrependimento, de remorso. No fundo, “estes ricaços” não experimentam qualquer um daqueles sentimentos. E por isso, com a maior desfaçatez, apresentam-se bem falantes e dizem-se de consciência tranquila. E acima de tudo, dizem-se confiantes na justiça.

Justiça com minúscula, porque se abate inclemente sobre os mais humildes e se verga perante os poderosos. Justiça com dois pesos e duas medidas; justiça que fecha os olhos aos próceres do regime e é capaz de condenar o larápio de iogutes; justiça que reclama tantas mordomias e prerrogativas e não se deixa escrutinar; justiça que os estudos de opinião apontam como o cancro da sociedade portuguesa.

Eles assassinaram Ti Chin-Fu; porém, nunca serão perseguidos, quer pela própria consciência, quer pela Justiça. Dentro deles não habita um Teodoro

Por isso mesmo, Portugal não é um país decente. É esta coisa deletéria e fétida!


DA UTILIDADE DO LUTO VISÍVEL

Quando o meu avô paterno partiu – dele herdei o nome -, usei um fumo negro para cumprir a nossa tradição. Durante seis meses, não dancei e nem sequer saltei às fogueiras pelo S. João.

Quando o meu avô materno expirou, usei gravata preta na hora de o entregarmos à terra. E confesso que não senti, nem mais nem menos, a sua definitiva partida.

Quando a minha avó Maria chegou ao fim, não me lembro de ter posto uma gravata preta, porque coincidiu com o dia do casamento da minha afilhada. Porém, Assevero-vos que chorei muito o fim de minha avó Maria.

Faz hoje seis meses, cansado de resistir, meu pai deixou-nos. A gravata preta tornou-se inevitável durante horas, porque me competia receber quem dele se despedia. Quando o deixámos na terra encharcada, fui para a nossa casa e tirei a gravata, ainda que por dentro fosse – e continuo a sê-lo – um enorme pranto.

domingo, agosto 02, 2009




Alhandra, a toureira, no dizer pitoresco de Garrett, nas Viagens,
que chorou comovidamente Soeiro Pereira Gomes, ainda é uma terra operária.


sábado, agosto 01, 2009

SESIMBRA



O mar de Sesimbra é uma pedra do lar, como dizia Torga



DO MEU DIÁRIO



Charneca da Cotovia, 30 de Julho de 2009 – É uma questão de amor e as questões de amor não se discutem. Amo Sesimbra como se fosse a minha terra natal. E no entanto, não tenho amigos nesta vila ribeirinha que tanto me seduz.


Comecei a vir a Sesimbra no já longínquo ano de 1973 do século passado. Com o meu tio José Batista. E lembro-me perfeitamente do dia em que fui picado por um peixe-aranha. Podia, obviamente, ter cessado aqui a minha relação com esta simpática vila piscatória; mas às vezes, até me parece que a picada contribuiu para este longo amor.


E como não sou homem para traições, enquanto as pernas mo permitirem, hei-de vir a Sesimbra. Nem que seja para jantar no Tony Bar ou no Velho e o Mar, cujas montras de peixe me fascinam quotidianamente. Ou na Toca do Leão, onde vou com alguma regularidade.


Sesimbra sempre!

DO MEU DIÁRIO

Charneca da Cotovia, 29 de Julho de 2009 – As férias estão a chegar ao fim e não fiz nada das muitas coisas que tinha para fazer. Dormi mais algumas horas do que é costume, fiz de cozinheiro da família e dediquei-me a esta prosa ensossa, que o Manel Ramos nunca encaixou. Eu explico.

O Manel Ramos, que morreu agnóstico há já vários anos, perguntou-me inúmeras vezes a razão pela qual eu escrevia um Diário. Pensava o sábio homem que estes escritos só têm importância quando são escritos por celebridades. Era uma opinião, entre outras, que nunca me levou ao abandono deste meu querido Diário.

Incompatibilizámo-nos alguns meses antes da sua morte, que ninguèm fez o favor de me comunicar. Eu conhecia a ex-mulher, que depois voltou a ser mulher, creio, o irmão António Ribeiro, que foi professor da Faculdade de Ciências, e antigos colegas do Externato Ergon, onde ambos leccionámos. Incomtibilizámo-nos porque o Manel tinha mau feitio e eu também. Guardo dele algumas dezenas de cartas e postais, alguns poemas inéditos e a página da sua autobiografia, onde fala de mim. Uma autobiografia em latim, que não sei se chegou a terminar. Dotado de uma inteligência invulgar, perdia-se com pequenas coisas e com coisa nenhuma. Tinha excesso de inteligência e uma preguiça crónica. As cartas, por vontade do próprio, nunca serão publicadas.

Foi um dia bonito e refractário à rotina. Recebemos a visita de um casal amigo, com o qual partlhámos a nossa humilde mesa e tivemos uma vasta e agradável conversa, sob o olhar distante, calmo e fresco da Arrábida. Ponto.

DO MEU DIÁRIO

Charneca da Cotovia, 28 de Julho de 2009 – Dentro de algumas horas, Costa e Santana Lopes irão debater(?), diz-se, as suas ideias para a Câmara Municipal de Lisboa. Temo que não se debata coisa nenhuma, porque tirando questões de pormenor, estes artistas da política não terão muito para debater.

O Menino Guerreiro, que para desgraça nossa até já foi primeiro-ministro, desenrolará um imaginário pergaminho donde constarão as suas múltiplas realizações pretéritas. Tentará com velhos truques retóricos seduzir os lisboetas que, tendo memória curta, até são capazes de se deixarem enrolar de novo. Gostava que lhe perguntassem se se contentaria com um carrito de catorze ou quinze mil contos, mesmo que pudesse ter uns extras como um rádio/ leitor de CD(s), uma mini-televisão e até um frigorificozinho para umas garrafas de água das pedras, porque o senhor tem ares de ter digestões difíceis e até alguns enjoos.

Costa, que foi número dois do governo de Sócrates, vai tentar distanciar-se o mais possível do seu ex-chefe e camarada e também dos seus outros amigos e camaradas no governo, nomeadamente de Mário Lino e Rui Pereira, e reafirmar que encontrou as finanças camarárias em estado clamitoso e que restituiu a confiança dos fornecedores e que tem a casa arrumada.

É óbvio que se eu fosse eleitor em Lisboa nunca votaria em nenhum destes senhores. Votaria em Rúben de Carvalho, que é sério e competente, apesar de ser sportinguista como Santana e como o administrador da empresa de contentores, ou seja, Jorge Coelho. Mas como política é política, Rúben teria o meu voto.

Se não houver contratempo de última hora, vou assistir a este debate do princípio até ao fim, porque o espectáculo promete. Por parte do coveiro do grupo PEI, nomeadamente.

DO MEU DIÁRIO

Sesimbra, 27 de Julho de 2009 – No mesmo jornal, Joaquim Ferreira do Amaral, que foi ministro do senhor Professor Doutor, vem dizer-nos que o défice futuro já não pode ser resolvido à custa dos impostos, porque o Estado já “rapou” o que havia para rapar. Apetece-me dizer (lhe): olha quem fala.

A mim, francamente, não me agrada que o problema tenha que ser resolvido através dos impostos; quer-me parecer, no entanto, que não temos outra solução. E era bom que àqueles que mais têm rapado, lhes seja agora rapado para não andarem permanentemente a rapar enquanto políticos e depois como gestores de empresas públicas e privadas.

Estes tratadores de vidas, das deles e das nossas, por obediência a uma ética de senso comum, deveriam estar com as boquinhas bem caladas.

DO MEU DIÁRIO

Sesimbra, 26 de Julho de 2009 – No “Económico” de ontem Carla Galrão assina um texto sob título “Cinco anos depois Sócrates insiste na “modernidade””. A este título impõe-se a pergunta seguinte: e porque não havia Sócrates, cinco anos depois, de falar de modernidade?

Até parece que a modernidade acontece por obra e graça do Divino e Espírito Santo e que se fica moderno para a eternidade. Eu percebo o ponto, mas jamais negaria a alguém o direito de insistir na modernidade. Esta constrói-se no dia-a-dia, pugnando pelo novo e aceitando-o, sem quaisquer complexos.

Ou será que quem falou um dia de modernidade fica impedido de reincidir no uso da palavra? Ou esta fica guardada para uma antiga ministra da educação e depois também das finanças, que não poderá ser recordada propriamente por ser uma pessoa moderna e adepta da modernidade?