segunda-feira, dezembro 26, 2011

DO MEU DIÁRIO

Altar da Sr.ª de Mércoles

Santa Iria de Azóia, 26 de Dezembro de 2011 – Nos últimos tempos tenho-me entregado muito à preguiça. Uma leitura ou outra, meias-horas de marcha para combater a sedentarização e pouco mais. Mas isto não pode continuar!


Ontem, já tarde, peguei no último “Reconquista” e na segunda página deparei com um poema de Tarsício Alves, padre, alusivo à quadra natalícia e aos tempos que vão correndo. Agradável surpresa, porque Tarsício Alves foi meu explicador de latim, no primeiro ano da década de setenta (do século passado, claro) e com ele tive o primeiro contacto com os textos de Cícero.


Era um jovem padre que se dedicava à poesia e ao estudo das línguas. Sabia latim e grego (clássico e moderno), francês, italiano, russo, inglês, hebraico e outras! Sim, e outras! E ainda tinha tempo para dedicar ao estudo do património, tendo editado um trabalho sobre a capela de Nossa Senhora de Mércoles. Um sábio e um ser humano de eleição.


Castelo Branco merece este Homem!

domingo, dezembro 25, 2011



TENHO O VELEIRO ANCORADO



Com David Mourão-Ferreira ne memória




Ah, dói tanto esta ferida,

que trago no coração.

É por te não ver, querida,

que não tenho outra razão.



Preciso de te falar,

de te abrir o coração.

Já não posso mais calar

a minha inquietação.



Tenho o veleiro ancorado

e sinto forte a aragem.

Vem meu amor desejado

pra fazer nossa viagem.



Vamos sulcar largos oceanos

à aventura e sem medo.

Quero mostrar-te lugares,

contar-te um velho segredo.



Vem. Vamos neste veleiro,

hoje, já, sem rota certa.

Vem meu amor feiticeiro,

que a porta está sempre aberta.




in Quadras Quase Populares, Ulmeiro, Lx., 2003.

sábado, dezembro 24, 2011



QUANDO

quando o teu choro inundou
o silêncio doloroso daquela noite longa

quando me apoderei da certeza
de perfeição desejada

quando...

quando meu amor
soube tudo
do pouco muito que queria saber
corri pelas ruas da cidade
como um cavalo sem freio
para repartir a alegria incontida
de ter dado vida à vida

e após respirar fundo o ar
de Lisboa ainda adormecida
recostei-me no banco do automóvel
e deixei que os meus olhos vertessem
uma lágrima comovida.

Lisboa21 de Janeiro de 1981

quarta-feira, dezembro 21, 2011

DO MEU DIÁRIO



Santa Iria de Azóia, 21 de Dezembro de 2011 – Hoje, pelas 18H00, na Biblioteca Municipal de Castelo Branco, será lançado um novo trabalho do poeta João de Sousa Teixeira, Súbita FlorestaEnquanto durar a eternidade, da rvjeditores, com um prefácio de Carlos Semedo, que fará também a apresentação.




Voltarei a falar deste trabalho em prosa de João Teixeira, aliás, João de Sousa Teixeira, focando o espaço do Barrocal e de personagens como João Moncarche e Mariazinha, de “copos de leite” e de “meninas amélias”, isto é, de espaços e denominações que ainda continuam a povoar o meu próprio imaginário.




Aqui fica a notícia, neste humílimo espaço, para a cidade e o mundo.

sexta-feira, dezembro 16, 2011



COMO SALOMÃO
(inspirado nos Cantares)
I
Só os deuses sabem,
Ó amada minha!,
Como o meu coração se agita
E a minha alma rejubila,
Quando entro na tua vinha
E saboreio os melhores cachos.

II
Só os deuses sabem,
Ó minha amada!,
Como é forte e doce o néctar precioso
Que saboreio nos teus lábios.

Por isso quero ser, noite e dia,
Ó minha amada!,
O guarda da tua vinha.


Santa Iria, 2001


terça-feira, dezembro 13, 2011

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 13 de Dezembro de 2011 – Era bom que alguém levasse aquela senhora alemã, que quer governar toda a Europa, a um bom oftalmologista. É que eu vejo a senhora sem óculos – e não topo se usa, ou não, lentes de contacto – e sei que ela sofre de miopia. De uma miopia tão grave, que um dia há-de ter que comprar um cão para poder andar na rua.


Édipo ainda teve Antígona, boa filha e também boa irmã, que o amparou, quando, finalmente, percebeu a causa das desgraças que se abatiam sobre Tebas e teve de deixar o poder. Édipo cegou-se e quis expiar todos os seus crimes, chamemos-lhe assim. A sr.ª Ângela, que de anjo pouco terá, terá mesmo de comprar um cão, porque quando cair em Berlim, não terá nenhuma Antígona a seu lado.


Mas era óptimo que levassem Merkel a um bom oftalmologista - nunca a Medina Carreira nem a António Barreto -, porque a miopia da senhora já trouxe muita desgraça e mais desgraça trará, se não lhe receitarem um eficaz par de óculos.


Sim, o problema da Europa e do Ocidente é a desindustrialização. Mais o capital beduíno e as holandas e os patriotas do cifrão, que tudo vêem e tudo medem em função dos seus mesquinhos e insaciáveis interesses. E também do espírito santo e de todos os espíritos santos lusos e do mundo inteiro.

quinta-feira, dezembro 08, 2011

DO MEU DIÁRIO

Sociedade Recreativa 1º de Agosto Santa Iriense

Santa Iria de Azóia, 8 de Dezembro de 2011 – A sala de espectáculos (multiusos) da Sociedade Recreativa e Musical 1º de Agosto Santa Iriense encheu-se, a noite passada, para se falar da vida e obra de Alves Redol. Sala cheia e ninguém arredou pé antes do porto de honra com que se encerrou esta iniciativa cultural, que vai ter novos capítulos nos próximos dias.
Falou-se mais do homem do que da obra. Desta falou-se ao de leve e para realçar o modo com Redol recolhia a matéria que, numa fase posterior, haveria de romancear. Dos AVIEIROS se falou, do BARRANCO DE CEGOS e dos GAIBÉUS. E também do CONSTANTINO, pois claro.
Afinal de contas, o nome da biblioteca desta colectividade de cultura e recreio teve mesmo o consentimento de Alves Redol, que esteve presente em sessões culturais. O convite foi levado pessoalmente por José Maria da Silva e por Manuel Lourenço, no distante ano de 1964. Ontem, ambos abriram o livro e disseram como foi.
Uma palavra para José Movilha – verdadeira enciclopédia da vida e obra de Redol -, que foi, de longe, a pessoa que mais informação trouxe ao colóquio.
E claro, também uma palavra de agradecimento a todos os que, de uma forma ou outra, possibilitaram a realização deste evento, comemorativo do centenário do nascimento do introdutor do neo-realismo em Portugal.

domingo, dezembro 04, 2011

DO MEU DÁRIO

LOBO DE CARVALHO, SOUSA DIAS E CRISTINA MENDES


Santa Iria de Azóia, 4 de Dezembro de 2011 – Ontem, houve colóquio no Castelo de Pirescoxe. De PATRIMÓNIO físico se falou durante mais de duas horas.
Usaram da palavra Sousa Dias (arquitecto), Cristina Mendes (acérrima defensora do património de Santa Iria) e Lobo de Carvalho (arquitecto). Três intervenções interessantes, em que os oradores expuseram as suas ideias acerca do património e da sua conservação.
Sousa Dias, que é um pensador do urbanismo e que teve a felicidade de trabalhar na área da arquitectura que escolheu, falou do modo peculiar como os portugueses sempre construíram as suas cidades, ora amontoando casas sobre casas, ora obedecendo a planos racionais, dando de Lisboa o exemplo do Castelo e da Baixa Pombalina. Falaria ainda da Cidade da Praia, em Cabo Verde e de Vila Real de Santo António.
O Professor Sousa Dias explicou a feliz conjugação de esforços que conduziu à reconstrução e/ou restauração-reconstrução do Castelo, ou seja, o local com História que os urbanistas procuram para desenvolverem os seus projectos. Ainda que a restauração-reconstrução do Castelo tenha sido concluída após a construção da Quinta do Castelo, esta foi toda pensada em função do Castelo e do Tejo.
Cristina Mendes falou do Castelo propriamente dito e do papel que desempenha na localidade. Fez uma sinopse completa da História do morgadio, desde as origens à actualidade, com o enfoque nas famílias que foram proprietárias da propriedade, ou seja, um vasto espaço que confinava com o Tejo.
Lobo de Carvalho falou do conceito de PATRIMÓNIO, um conceito recente e europeu, diferente dos conceitos orientais, onde não há a intenção da conservação, mas da reprodução “tout court”. Introduziu ainda o conceito de PATRIMÓNIO natural. Parece-me ter havido convergência de pontos de vista entre os dois arquitectos numa questão fundamental: nada é eterno; e, por conseguinte, há que ajudar o PATRIMÓNIO a perecer com dignidade.
Como não tirei quaisquer apontamentos, poderei ter cometido imprecisões. Se o fiz, fi-lo involuntariamente; creio, todavia, que não abastardei o pensamento de ninguém. E sinto-me feliz por ter estado, ainda que displicentemente neste evento, do qual saí com mais conhecimento acerca do trabalho dos fazedores de cidades.

quinta-feira, dezembro 01, 2011

veredas e caminhos

Santa Iria de Azóia, 01 de Dezembro de 2011 – Neste 1º dia de Dezembro, feriado nacional, inicio uma nova etapa na minha vida. E com uma sensação estranha. Eu explico: nunca gostei da minha actividade profissional na Função Pública, embora sempre tivesse feito tudo para desempenhar bem as minhas funções; e ontem, quando pedi para me deixarem sair, pressenti que por detrás ficava uma porta para sempre fechada.
Não sou dado a grandes comoções; reconheço, todavia, que não passamos incólumes pelas instituições, que, ainda bem que assim é, são, antes de mais, constituídas por pessoas. E se não gostava das funções, sempre gostei das pessoas, com as quais me fui relacionando, ao longo de quase trinta e seis anos, sem quaisquer problemas. E ontem, antes de sair, comovi-me abraçado a um dos homens mais humilde que conheço e cujo nome aqui fica: José António Cana Verde, o funcionário da reprografia. E também da Luciana. Ambos sportinguistas, com quem me fui metendo ao longo destes anos.
Porta fechada, capítulo encerrado, nova etapa na minha vida. De livros e de flores e de frutos quero que o futuro seja feito. Ler poetas e fazer livros é uma intenção antiga; porém, como os tempos não vão muito com os prazeres da minha vida, outro poderá ser o caminho. A ver vamos, como dizia o cego.