sexta-feira, novembro 28, 2008

DAS MIL E UMA NOITES

Deve a vasta humanidade
Aos cornos de Xariar
A divina Sherazade
E seus contos de encantar;


Deve-lhe a gentil irmã
- de seu nome Dinarzade -,
que, cedo, cada manhã,
acordava Sherazade.


“ Minha irmã, se não dormis…”
E começa a narração.
Sherazade tudo diz
Para encantar o Sultão.


Histórias mil desfia
(Oh, qual delas a melhor?)
E o tirano ludibria,
Calmamente, e sem temor.


Salvando assim a vida
Às donzelas de Bagdade,
Foi, claro, muito atrevida,
Mas ganhou a liberdade.

quarta-feira, novembro 26, 2008

JOSÉ GOMES FERREIRA

Ah, eu gostava tanto da poesia de Gomes Ferreira!
Gostava daquele jeito tão seu de dizer as coisas, da sua retórica única, do modo natural como metia mulheres nuas nos poemas.
Ah, eu gostava tanto da poesia de Gomes Ferreira!
Gostava daquele jeito tão seu de ser solidário, dos seus protestos viris, do modo simples como transformava o real em poesia.
Ah, eu gostava tanto da poesia de Gomes Ferreira!
Gostava daquele jeito tão seu de andar na lua, mas sempre a olhar a Terra, que enchia de árvores e folhas e flores e frutos.
Ah, eu gostava tanto da poesia de Gomes Ferreira!
Gostava, sobretudo, dos violinos que tão habilmente escondia em cada verso.

Barata, Manuel, Fragmentos com Poesia, Ulmeiro, Lisboa-2005.



sábado, novembro 22, 2008

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 20 de Novembro de 2008 – Dias Loureiro, o ex-ministro das polícias de Cavaco Silva, ex-banqueiro-BPN e actual conselheiro de Estado, pretendia ser ouvido na Assembleia da República, onde, naturalmente, ainda tem muitos amigos e se sentiria como peixe na água, para explicar as trapalhadas do denominado banco laranja.

Entendeu a maioria que não deveria ser ouvido e a meu ver bem. Que a justiça e os investigadores ou os investigadores e a justiça façam o seu trabalho e Dias Loureiro que espere pelo veredicto da investigação e dos tribunais.

Se a moda pegasse - e já vi defender que o homem pode ver o seu nome enlameado durante muito tempo, isto é, até que haja decisão dos tribunais -, tratar-se ia este português diferentemente dos outros portugueses. Infelizmente, eu sei que a democracia, que deveria pugnar sempre por uma igualdade de tratamento para todos, trata muitas vezes os cidadãos de maneira desigual. Desta vez, louve-se a decisão da maioria PS.

Eu sei que Dias Loureiro só queria explicar. Então que explique fora das instituições. Explique no “Expresso” ou no “Povo Livre”. Pior estaria eu, porque me fechariam todas as portas na cara.

quarta-feira, novembro 19, 2008

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 19 de Novembro de 2008 – A comunidade educacional vive à beira de uma guerra civil, porque uma ministra teimosa quer impor um modelo de avaliação aos professores, pouco lhe importando se o dito é bom ou mau. Avaliar, avaliar, avaliar, é a palavra de ordem.

Escorado numa maioria absoluta, este governo tem-se esmerado em afrontar as pessoas, como se “a choldra” tivesse de ser ainda pior do que efectivamente é. E arroga-se o direito de nos querer meter Lisboa pelos olhos dentro, como se tivesse recebido divina inspiração e fosse detentor de puras e definitivas verdades. È um governo altista e com tiques totalitários.

Este (des)governo, que quis atacar as chamadas corporações e os privilegiados do país, há-de ficar para a História como o governo que mais defendeu o capital financeiro e que mais atacou os interesses legítimos dos trabalhadores. É o governo que fecha centros de saúde e maternidades, escolas e outros serviços públicos de reconhecido interesse. Este não é um governo fazedor. Este é um governo exterminador. È um governo de leões contra os pequenos e de cordeiros em relação aos poderosos, tal como sentenciou Fernão Lopes em relação a D. João I.

O governo do combate ao défice, vai deixar o país mais deficitário em múltiplos domínios. Este governo e esta maioria são um desastre nacional.

terça-feira, novembro 18, 2008

S. MARTINHO II

Traz-nos o bom S. Martinho,
Sem nada em troca pedir,
Castanhas, chouriço e vinho
E vontade de curtir.

Este santo sem altar
- da terra do Rabelais -,
Tem o condão de alegrar
Os amantes de água-pé.

Quase às portas do Inverno,
Dá-nos dias de Verão.
Ò meu S. Martinho eterno,
Pura é minha devoção!

Mais um copinho de três
Só mais um pr’ assossega,
Só mais um de cada vez,
Porque aqui ninguém se nega.

sexta-feira, novembro 14, 2008

QUATRO QUADRAS PINGA-AMOR

Tenho uma quadra singela
Pra te dizer ao ouvido.
Quando ta disser não digas
Que sou rapaz atrevido.

De hoje não pode passar,
Se não passa a validade.
Quero-te dizer, amor,
Que te amo de verdade!

Este amor é tão sincero,
Tão sincero e delicado,
Que já não posso, meu bem,
Tê-lo no peito guardado!

A noitinha à janela,
Vai ser grande a emoção,
Quando de forma singela,
te abrir o coração.


segunda-feira, novembro 10, 2008

S. MARTINHO

São Martinho é português,
Ninguém pode duvidar.
Dá-nos tinto aragonês
E outros vinhos de encantar.


Não há outra santidade
Deste povo mais querida.
Há festas por toda à parte,
Alegres e divertidas.



Castanhas, chouriço e pão,
Tudo regado com vinho!
Haverá melhor razão,
Pra gostar do S. Martinho?


in Barata, Manuel, Fragmentos com poesia, Ulmeiro, Lisboa 2005.

sexta-feira, novembro 07, 2008

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 7 de Novembro de 2008 – É claro que prefiro Barack Obama a Mcaine, na presidência dos EUA, ainda que não alimente grandes ilusões quanto às futuras políticas da superpotência, mormente no plano internacional. Os interesses americanos instalados em Washington, e nomeadamente a indústria da guerra, hão-de acabar conflitos e começar conflitos, porque é este o húmus da política americana.

Barack Obama ganhou as eleições, porque os oito anos de Bush contribuíram para desprestigiar os EUA aos olhos dos próprios seguidores, na Europa e no resto do Mundo, pois tantos foram os disparates do patusco George W., que vai deixar o Mundo menos seguro do que antes do 11 de Setembro de 2001. E sobretudo, deixa a América e o Mundo a braços com uma crise financeira deplorável, que se há-de tornar crise económica, e que os povos dos países hão-de pagar com língua de palmo e meio.

O poderoso timbre da voz de Obama ouvir-se-á em todos os cantos do planeta. Até nas aldeias mais recônditas do Quénia. Porém, esta ordem mundial iníqua não será alterada por vontade da poderosa América. A construção de um mundo melhor há-de ser obra dos povos do Mundo. E necessariamente contra os interesses da América instalados em Washington.

E eu queria tanto que a eleição de Obama fosse o prenúncio de um mundo mais justo e pacífico!

domingo, novembro 02, 2008

QUATRO QUADRAS

Vão as horas, vão os dias,
No seu constante fluir;
Mesmo as poucas alegrias
Me visitam a fugir.

Sob a ponte passa a água
a caminho do vasto mar.
Só em mim, teimosa, a mágoa
não tem pressa de passar.

Velozes correm os anos;
Pra onde, não sei ao certo;
só ficam os desenganos
e as marcas do desconcerto.

Que consertar não consigo
Esta vida sem sentido.
O fado é severo comigo;
Mas, não me dou por vencido!