segunda-feira, julho 30, 2007

MENOS ESTADO/MAIS ESTADO


Republicação

Nesta república do faz-de-conta, está na moda dizer mal do Estado e dos denominados trabalhadores da Função Pública. O desvario começou com a entrada em funções do (des) Governo de Durão Barroso que, servindo-se do Estado, é hoje Presidente da Comissão Europeia, e nunca mais parou.
O rol dos dislates é incomensurável. Brancos pretos e amarelos, com ou sem formação, mas normalmente bem instalados, vociferam contra os privilégios dos funcionários do Estado, esquecendo-se, muitas vezes, de olharem à sua volta. Conferem privilégios aos outros que, ainda que o não sejam, são bem inferiores aos desses acérrimos defensores de menos Estado e melhor Estado, mas que nunca reclamaram menos privado e melhor privado.
Nos meios de comunicação social, os empregados dos grupos empresariais do sector, defendem caninamente o tacho. Destilam mentiras e mais mentiras acerca de pessoas e instituições que muitas vezes desconhecem. Cegos, vêm privilégios onde os não há. Com a cegueira da redução do défice, pouco se preocupam com os problemas das pessoas e das famílias. De resto, numa atitude muito pouco cristã.
Economistas de meia tigela, gente que nunca produziu pensamento nem arriscou um pataco, com a crueza dos magarefes, propõem despedimentos, cortes nos salários e nas prestações sociais percebidas pelos trabalhadores do Estado. Nunca pediram nem pedirão a redução dos seus salários, porque se têm todos em muito boa conta. Ai, se nós soubéssemos os negócios ruinosos que essas almas pouco piedosas por vezes conduzem ou apadrinham! Muitos deles são filhos de antigos funcionários, muitas vezes corruptos, que fizeram carreira atropelando trabalhadores honestos e se reformaram aos cinquenta anos com chorudas reformas.À pátria - esses patifes sem vergonha, que tanto trabalham aqui como noutro sítio qualquer, nunca deram nada. Aproveitaram todos os benefícios - até os da educação à borla - e uma vez empoleirados, acham sempre muito aquilo que o Estado lhes exige. São os primeiros a reclamar segurança para as suas pessoas e bens. Se lhes fosse permitido, de bom grado, pagariam apenas às polícias e pouco mais. São os defensores do princípio do utilizador pagador.Como bons totalitários que são, acreditam que esta é a única e mais capaz forma de governar o mundo. Mas isto um dia vai mudar e há por aí rapazes que vão levar umas bengaladas. Que Deus me preserve a vida para assistir a esse, decerto, majestoso espectáculo!
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agosto 26, 2005

domingo, julho 29, 2007

SESIMBRA











JOSÉ RIBEIRO

Como se fosse um auto-retrato

TRÍPTICO

I

Cada coisa
em cada momento.

E se o amor
for premente,
que só ele
habite
a minha mente.

II

Os livros...
Os livros
aconteceram
e foram
a minha glória
e desventura.

Aconteça
o que acontecer,
louvarei
todas as horas
que lhes dediquei.

III

Oh!, pudesse eu
resolver
os meus problemas
com sorrisos
e bonomia.

Claramente,
outro galo
cantaria!....

segunda-feira, julho 23, 2007

IBERISMO

Republicação

O ministro dos comboios e dos aeroportos disse há dias, para desgraça e gáudio de uma direita velhaca e oportunista, que era iberista. E a dita direita fez um escarcéu de tal ordem, que o dito ministro e o seu chefe de governo sentiram necessidade de dar explicações.

Eu sou iberista e não tenho medo, e acrescento hoje, nem vergonha de afirmar o meu iberismo, alto e bom som, como não tenho quaisquer dúvidas em afirmar, como já anteriormente o fez Miguel Torga, que a minha pátria telúrica só termina nos Pirinéus. E mais, se sou habitante da Ibéria, sou ibérico, naturalmente. Coisa diferente é ser espanhol, porque hispânico também sou. E suponho que Natália Correia também se sentia hispânica.

No início do actual milénio, alguém afirmou que o milénio anterior foi o dos pequenos estados como Portugal e que o actual será o do seu desaparecimento. E provavelmente o vaticínio é correcto, mas nenhum de nós cá estará para certificar a sua justeza.

Sabe-se, igualmente, que na origem de Portugal estiveram apenas razões de índole política. Basta ler com atenção a "Formação de Portugal" do sábio Orlando Ribeiro, que não era propriamente um homem de esquerda, para perceber estas coisas comezinhas. O tempo, é mais do que evidente, foi cavando as diferenças que marcam hoje a singularidade de Portugal em relação aos restantes povos ibéricos.

É bom lembrar, no entanto, que os reis da dinastia de Avis tentaram a fusão dos reinos peninsulares e que a questão cantral passou sempre por saber quem havia de montar o cavalo do poder.

Seja como for, não é com esta gritaria toda que se discutem ideias. E isto já é peixeirada!

Eles sabem que a união ibérica lhes retiraria a capacidade que vão tendo de administrar a quinta.

sexta-feira, julho 13, 2007

PALAVRAS NA MODA


Hà palavras que, de quando em vez, ganham notoriedade. Quando ditas muitas vezes pelos políticos , pelos banqueiros e outros endinheirados ou até pelos intelectuais. Estão na moda palavras como inveja e suas derivadas, desagradável e a frase "era o que faltava!".
Quando se agita a possibilidade de tornar a vida dos portugueses mais transparente, nomeadamente no que concerne ao modo como se construíram determinadas fortunas, argumenta-se que tais procedimentos vão alimentar a inveja e o "voyeurisme". Não passa pelas cabeças sãs dessas criaturas de Deus, que há gente que luta denodadamente por mais justiça e que é razoável publicitar os milagres. Tudo se reduz, redutoramente (passe o pleonasmo), a uma questão de inveja. Eu não tenho inveja de ninguém e estou-me nas tintas para quem tem fortunas. O que ninguém me pode exigir é que viva e conviva com a injustiça.
Desagradável é outra dessas palavras. Quando a luz do dia nos revela as pequenas e grandes mazelas morais da nossa sociedade, em vez de se chamar aos bois pelos nomes, diz-se que é de lamentar e que a situação é desagradável. É. É desagradável viver no mais descabelado amoralismo. Desagradável é viver sem princípios. Desagradável é pactuar com tiranetes e aldrabões.
"Era o que faltava" é uma frase muito utilizada pelo nosso PM. Admito que com algumas variantes. Por tudo e por nada, quando perguntado acerca de qualquer coisa, lá vem a sacramental "era o que faltava". Já ocorreu tantas vezes, que já merece ser um caso a estudar. O que nos faltava era um PM socialista mais preocupado com os temas caros à direita do que a própria direita. Corra a Europa para onde correr e Portugal estará sempre alinhado com o lado mais conservador.
Há nos governantes socialistas um complexo tão visível em relação há direita, que até parece viverem envergonhados com o que dizem ser. A direita arroga-se o direito de governar, porque tem do poder uma larga experiência e pensa saber fazê-lo melhor que as outras correntes ideológicas da sociedade. E o PS, com medo de desagradar à direita e com medo do juízo da direita, vai mais longe no seu afã de mal- fazer do que a própria direita. Sócrates , criado no meu país, é o PM que já nos sobeja!

MIGUEL TORGA

TRÍPTICO

I

Tinha
a necessidade
de nos dizer
como via
o mundo.

E escrevia,
escrevia,
escrevia:
diários,
contos,
romances
e poesia.

II

Bicho da terra
como se intitulava,
ao que fazia
conferia
uma nobre
dimensão ética.

Por isso,
às vezes,
dou por mim,
ainda,
devorando
a sua obra
poética.

III

Europeu
e universal,
amou,
profundamente,
Portugal!

O RIO E A PONTE











quarta-feira, julho 11, 2007

VIVA O "TRAIN GRANDE VITESSE"

dezembro 15, 2005

VIVA O TRAIN GRANDE VITESSE!

O novo aeroporto da OTA pode não ser absolutamente indispensável para já; porém, adiar para mais tarde o TGV seria um crime de lesa pátria. Adiar agora, seria adiar para as calendas gregas, para o dia de S. Nunca à tarde, para a semana das duas quintas-feiras. Adiar é proibido. Seja benvind o TGV!

Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz!!!!! Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz!!!!!!!

Portugal não necessita de consensos. Os consensos conduzem sempre à inacção. Os consensos são os grandes causadores do nosso atraso permanente em relação à Europa.Vivam todas as rupturas progressivas e produtivas. Às malvas os consensos! Abaixo os detractores do TGV!
ZZZZZZZZZZZZZZzzzzzzzzZZZZZZZZZZZzzzzzzzzZZZZZZZZZZZZZzzzzzzzz!!!!!!
Os grandes empreendimentos nunca são do agrado geral. E se nem os Descobrimentos mereceram o apoio unânimo dos portugueses. Por que carga d'água o TGV havia de merecer a unanimidade? Abaixo os Velhos do Restelo! Abaixo todos os Tonhos! Abaixo todos os belmiros! Viva o train grande vitesse!

Abaixo o trofafá-trofafá-trofafá!!! ZZZZZZZ!!!ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ!!!

VIVA O TGV!!!

Incondicionalmente com o TGV!!!

MANUEL MARIA

TRIPTICO

I

Entre os vates,
era o primeiro.
E gabava-se até
de comer,
beber
e foder,
sem gastar dinheiro.

II

Grande Manuel Maria
animou os Parras
e o Nicola
e com tal génio
e magia,
que era dos poucos
que o Intendente
temia.

III

Repentista o fizeram;
porém;
Bocage
trabalhava
arduamente.

Que a poesia
não é só
imaginação
e talento

domingo, julho 08, 2007

AS FOTOGRAFIAS

Nas fotografias abaixo publicadas, pode-se ver quão difíceis eram as condições de trabalho dos homens e das mulheres da Mata, que plantavam as oliveiras, colhiam e apanhavam a azeitona, naquelas inóspitas encostas. Fosse o Ponsul o Douro e teríamos aqui motivos para romances e para poemas. A obra humana, que o tempo se encarregará de destruir, ainda pode ser observada do Ponte da Monheca, donde foram tiradas, esta manhã, as fotografias que quero partilhar convosco. A Mata é a aldeia onde é desenvolvido o projecto educativo BELGAIS de Maria João Pires e integra o concelho de Castelo Branco.

MATA (ENCOSTA DO PONSUL)
















A LUSITANA MANIA

A lusitana mania
de esperar por quem não vem
provoca melancolia,
muito mal e nenhum bem.

Sempre de calças na mão
Ou esta à esmola estendida.
Tão estranha condição,
Tornou-se um modo de vida.


Era preciso matar
Esse rei Sebastião,
que não pára de enganar
a nossa triste nação!


Ao mito do desejado
Dê-se um combate eficaz.
Traz este país castrado
Ou capado, tanto faz.

sexta-feira, julho 06, 2007

BATISTA BASTOS

Um célebre jornalista da lusa praça, tem-se constituído ao longo dos últimos anos, como um dos últimos redutos éticos de Portugal. Chama-se Batista Bastos, Armando Batista Bastos, escreve em português sem mácula, mas a sua voz tonitruante já se assemelha à dos patriarcas bíblicos, que eram assim como que uma ponte entre Deus e os mortais.
Batista Bastos é humano e terreno como todos os seus concidadãos e se o país é o que é, também ele terá a sua quota parte da culpa. Provavelmente, o colunista não terá semeado bem a palavra ou tê-la-á semeado no país errado. Sendo este o país que temos, há que viver nele, denunciando o que está mal, obviamente, mas sem aqueles ares de quem está sempre zangado.
Eu sei o que dói a Batista Bastos. Descontente com o PC, que os outros partidos e a comunicação social reduziram à condição de sobrevivente, o jornalista saíu e aproximou-se do PS, que sempre teve em relação ao PC uma vocação troglodita. Acontece que o PS tem traído todas as esperanças e Batista Bastos sente-se envergonhado. Como já não tem idade para voltar a trás, toca a tratar tudo e todos da mesma forma. Mas era bom que aceitasse o princípio de que os partidos não são todos iguais.
Eu também sou a "choldra!". O lamaçal somos nós todos, os que não ousamos transformar este país, tornando-o decente e um lugar de fraternidade. Eu também sou a "choldra!", porque vou aceitando que me espoliem de todos os meus direitos. Eu também sou a "choldra!", porque ponho os meus interesses à frente da colectividade. Eu também sou a "choldra!", porque abdiquei de ser revolucionário e de transformar o mundo.
Exactamente o que fez BB!Por isso não dou conselhos a ninguém!

quinta-feira, julho 05, 2007

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Quando se fala de liberdade de expressão, o grande público não sabe, regra geral, do que se fala. Antes de mais convém esclarecer que a liberdade de expressão existe para uns quantos, que são sempre ouvidos a pretexto de tudo e de nada, funcionando como verdadeiros oráculos.

São especialistas de armamento, especialistas de religiões, especialistas de matéria musical, especialistas de gripe das aves, especialistas do médio oriente, especialistas de assuntos nipónicos, especialistas de tsunamis, especialistas da arte de podar roseiras, especialistas...

No fundo, os especialistas são entes imprescindíveis para que o sol possa nascer todos dias a E e pôr-se a O, para que as nossas mulheres continuem a engravidar e os grãos de trigo a germinar no solo e a crescer à superfície, como diria o impagável e sempre actual Bertolt Brecht.

Lá bem no fundo, os especialistas são aqueles impagáveis seres que, tendo tanto tanto saber, fazem assim como que uma ponte entre os inefáveis deuses e os humanos, rasgando para estes o caminho da luz. Os especialistas são aqueles que nos ajudam a escolher os presidentes e os primeiros ministros e nos convencem da bondade deste país belmiro, cada vez mais injusto e egoísta.

O cidadão comum, o que não publica baboseiras nos jornais e não é ouvido na televisão, sempre disse o que quis dizer. E provavelmente de uma forma mais livre e substantiva do que os jornalistas e outros articulistas. Que estes sabem perfeitamente que quem manda é o indíviduo que tem o chapéu na cabeça, como diria António Lobo Antunes.

Quando me aparecem certas encomendas a falar de liberdade de expressão, apetece-me mandá-las àquela parte. É que muitos delas serviram e servem "seus senhores", de forma acéfala; conformaram-se com a censura e o exame prévio; e, mais amos servirão para defenderem taxos e interesses, para que o pãozinho e o leite não falte no lar às suas criancinhas. Para certas encomendas, a liberdade de expressão é uma treta!

Honra a todos aqueles que, contra ventos e marés, defendem genuinamente a liberdade de expressão e a própria liberdade!

AGOSTINHO DA SILVA

Agostinho da Silva era, indiscutivelmente, uma personalidade fascinante. E talvez seja mais produtivo procurar as origens desse fascínio, do que etiquetá-lo de pensador e /ou filósofo. Em minha humilde opinião, aquele homem que os portugueses já conheceram no crepúsculo da vida, foi alguém que soube usar magistralmente a comunicação e galvanizar a juventude com algumas ideias simples, mas fortes.

Agostinho da Silva logrou alcançar grande popularidade, nos finais da década de oitenta do século passado, num período de grande optimismo nacional, resultante do crescimento económico e da saúde financeira do país. O discurso de Agostinho da Silva, que os seus seguidores dizem equidistante dos conceitos de direita e de esquerda, estava, todavia, em consonância com o ambiente geral do país. "A situação" deu-lhe espaço e meios para expor as suas ideias. Dali nunca viria mal ao mundo.

Os seguidores de Agostinho da Silva eram, sobretudo, jovens universitários, que enchiam os espaços onde o velho professor, num tom quase sempre informal, fornecia as suas ideias e as suas receitas. Muitos deles, agora já bem instalados na vida, já não seguiriam o homem simples e sem apetites pelas coisas materiais. Agostinho da Silva era um pregador da utopia.

Para quem nunca tenha lido recomendo vivamente A Vida de S. Francisco de Assis de Agostinho da Silva, que é uma lindíssima biografia da vida do santo. Um belo poema em prosa, onde Agostinho mais do que em outros escritos nos dá a sua verdadeira dimensão: o amor aos humildes e à silplicidade. A obra é uma edição da ULMEIRO e pode ser adquirida na LIVRARTE.

Não é esta a matriz dos filósofos e dos grandes pensadores.

MATA (OLIVAIS)











quarta-feira, julho 04, 2007

AMIZADE

Para o meu amigo Pe Manuel de Aguiar
Eu não saberei, decerto, definir a amizade com muito rigor. Desconfio até que alguém o faça com rigor. Para mim é antes de mais o gostar de estar com, sem quaisquer constrangimentos, e deixar que o tempo e as palavras fluam livre e espontaneamente. E gostar de partilhar - e ser também parte nas partilhas -, os bons e os maus momentos, as alegrias e as tristezas, os sucessos e as derrotas, a felicidade e o infortúnio. E tudo isto, parecendo tão puco e tão simples, é muito mais importante que uma qualquer constituição europeia.

segunda-feira, julho 02, 2007

LIVROS E LEITURAS

Santa Iria de Azóia, 2 de Julho de 2007 – Bocage – A Vida Apaixonada de Um Genial Libertino, de Luís Rosa, é um romance interessante, não tanto pelo que nos diz acerca do poeta de Setúbal, cuja história é sobejamente conhecida; mas, sobretudo, pelo quadro histórico em que enquadra a sua atribulada vida.

Este romance vale também pela leitura que o romancista faz da Revolução Francesa e das suas repercussões em Portugal, onde pontifica um célebre intendente da polícia, Diogo Inácio de Pina Manique, de seu nome completo. Creio que apesar do enxame de moscas e moscardos e bufos, que espiam e denunciam os partidários da Revolução Francesa, sob as ordens do chefe da polícia de D. Maria I, a louca, o Intendente acaba por sair com a auréola de um amante das artes e grande empreendedor, capaz até de tolerar certos comportamentos aos intelectuais, desde que não ultrapassem o limite do “razoável”.

Outra figura que tem muita importância a nível diegético é o abade José Agostinho de Macedo, “rubicundo”, rato de livros das bibliotecas, grande frequentador de botequins e putas e durante muito tempo amigo de Bocage, que alicia para a Nova Arcádia. Apesar da sua vida mundanal, ora dentro ora fora das instituições religiosas, o padre Macedo acaba pregador da Capela Real, no tempo da regência do senhor D. João, o sexto do mesmo nome, após a morte da rainha louca.

A acção decorre na Lisboa que Sebastião José mandou reconstruir após o terramoto de 1755: o Rossio, a Praça da Figueira, o Chiado e o Cais do Sodré, onde ainda existe, creio, a rua dos Remolares. E o Terreiro do Paço e o cais do Tejo, obviamente. As referências ao Brasil e ao Oriente decorrem da mais que conhecida biografia de Bocage. Refira-se aqui a leitura que Luís Rosa faz da administração do Império Português do Oriente, onde grassa a corrupção e a devassidão dos costumes. O café Nicola, assim chamado, por Nicola ser o nome do seu primeiro proprietário, o Nicola das velas, o botequim dos Parras e o Remolares (o café dos franceses), são os palcos onde Bocage faz os seus supostos improvisos contra tudo e contra todos.

É um romance de leitura fácil, numa prosa de sintaxe irrepreensível, através do qual o (autor)-narrador faz passar toda uma série de conceitos, que, já o escrevi, são verdadeiros aforismos.

É, com toda a certeza, um fresco rigoroso do Portugal da segunda metade do século XVIII.


Rosa, Luís, Bocage- A Vida Apaixonada de um Genial Libertino, Editorial Presença, 1ª Ed., Lisboa/2006.


domingo, julho 01, 2007

SESIMBRA

Regressado há momentos de Sesimbra, compulsei as páginas do meu
diário, onde encontrei o naco de prosa que se segue.
Sesimbra, 3 de Março de 2003 – Dir-se-ia que as vilas que eu mais amo se estão a tornar sítios de acesso difícil. É difícil ir e estacionar na Ericeira; é difícil ir e estacionar em Cascais; é difícil ir e estacionar em Sintra; é dificílimo ir e estacionar em Sesimbra. Nos últimos tempos fui três vezes a Sesimbra e, só hoje, ao fim de muito perseverar, consegui estacionar, embora fazendo vista grossa das ameaças camarárias.

As vilas e cidades ribeirinhas exercem sobre mim um enorme fascínio. E no que a Sesimbra concerne, vistas bem as coisas, a causa só pode ser o mar. Defronte do mar de Sesimbra que, na preia-mar, já engole completamente a praia, olho, como se se tratasse de uma novidade, as mansas águas e sonho com o mundo e com viagens que nunca hei-de fazer. Reminiscências de Cesário Verde, talvez.

Expliquei ao João o sentido profundo do Carnaval, isto é, tal como Backtine no-lo explica: festa de Praça Pública. Na verdade, o Carnaval é a mais democrática das festas, porque todos podemos participar activamente. E tentei explicar a diferença entre esta ideia primitiva de Carnaval e os carnavais já industrializados de muitas localidades portuguesas, que perderam a espontaneidade e, de certo modo, o seu carácter democrático.

Com o sol a incidir obliquamente na água e na areia, deixei Sesimbra pelo lado Nascente, disfrutando ainda da beleza rara e rude da Arrábida, onde se intromete sempre o poeta Sebastião da Gama. Cheguei à Cotovia gozando de um bem-estar tão raro, como se o Carnaval, o mar e a serra se tivessem unido para me proporcionar um naco de felicidade.