quinta-feira, junho 30, 2011

DUAS QUADRAS
Para Quevedo
Na minha biblioteca
Há mais mortos do que vivos.
É fácil e nunca seca
Conviver com tantos divos!

Com estes defuntos queridos,
Aprendo no dia-a-dia.
Sisudos ou divertidos,
Todos me dão alegria.

(inéditas

segunda-feira, junho 27, 2011

DO MEU DIÁRIO

Praça do Burgo

Torre de Armas (beffroi)


Bruges, 20 de Junho de 2011 – É certo que ninguém poderá conhecer o mundo inteiro; porém, viajante que se preze, há-de, pelo menos uma vez na vida, passar por esta cidade belga.


Apanhei o comboio na estação de Lille-Flandres e lá fui até Bruges, cidade toda ela monumental, desde a casa de habitação mais humilde até aos grandes edifícios públicos ou às magníficas construções religiosas. Tem todas as marcas de um antigo e excepcional entreposto comercial, tal como o fora Veneza durante centenas de anos.


E as comparações com a pérola do Adriático vão até mais longe, porque Bruges também tem água e canais - sem a profusão de Veneza, claro -, onde o visitante também pode fazer a sua volta de barco. E até a confeitaria aproxima estas duas cidades, onde o chocolate é rei. Faltam-lhe o vidro de morano e as máscaras de carnaval.


Quem sai da estação dos caminhos-de-ferro depara-se de imediato com uma enorme mancha verde, que, de certo modo, esconde o que lá mais à frente, seja qual for o caminho que se siga, se verá. E depois cai-se numa espécie de museu a céu aberto, não sabendo o visitante impreparado por onde começar. No entanto, mesmo que não se faça um dos percursos indicados nas publicações turísticas, o visitante acabará sempre pior ter um dia cheio de beleza e agradáveis surpresas.


As praças do Mercado e do Burgo são, sem quaisquer dúvidas, as mais importantes desta cidade belga surgida já tardiamente, no século IX. Na praça do Mercado, encontra-se a famosa torre de armas, o befrroi, que é o verdadeiro ex-libris da cidade. É também nesta praça, um verdadeiro “fórum”, que se juntam os naturais de Bruges e os incontáveis turistas. Lá encontrará o visitante a incontornável – perdoe-me o leitor o abuso deste adjectivo – FNAC.


Enumerar aqui os museus e as igrejas, os canais e as pontes, seria fastidioso. Pegue o leitor nas suas pernas, e, se puder, ponha-se a caminho de Bruges, ou seja, de um vasto museu, onde vivem cerca de cento e quinze mil pessoas. N'oubliez pas votre parapluie!

domingo, junho 26, 2011

DO MEU DIÁRIO

La Grand'Place (Lille)

Lille, 19 de Junho de 2011 – Quem quiser conhecer uma cidade a sério, há-de calcorrear-lhe as ruas. Os autocarros para turistas são úteis, mas mostram de passagem e com conversa pré-gravada. Uma cidade como Lille merece sempre um olhar atento.

A rua Nationale é uma das ruas estruturantes da cidade nova. Subindo-a até ao seu termo, o visitante fica na Grande Praça, ou Grand’ Place ou Place Général Charles de Gaulle, o mais conhecido filho da terra. É uma praça de grandes dimensões, cuja harmonia arquitectónica resulta de uma mistura de estilos e de cores, que lhe conferem um carácter próprio. Por detrás encontra-se o antigo Palácio da Bolsa e numa relação de contiguidade a Ópera de Lille. São bem visível em todo aquele centro da cidade o denominado estilo flamengo “Flamboyant”.

A Place Charles de Gaulle tem sido ao longo dos séculos o coração de Lille, ainda que se encontre já fora do perímetro da cidade velha. Outrora, terá sido um espaço adequado à realização de feiras e mercados, paradas militares e outros acontecimentos de relevo. Na actualidade, dá guarida a cafés e esplanadas, restaurantes e até a uma incontornável FNAC. Dir-se-ia que a praça faz jus ao carácter mercantil que sempre caracterizou esta cidade do norte de França, vizinha dos grandes portos comerciais dos Países Baixos.

Não sei bem porquê, mas lembrei-me do romancista Fernando Campos e de uma das suas personagens de A SALA DAS PERGUNTAS, ou seja, do nosso grande Damião de Góis, que terá sido um amigo de Erasmus de Roterdão e que representou Portugal na antiga Flandres.

DO MEU DIÁRIO

Vitrais- Sacré Coeur - Lille

Lille, 18 de Junho de 2011 – Em Lille, a cidade natal de Charles de Gaulle, que é nome de muitas ruas, avenidas e praças e avenidas, em todo o hexágono – e até de um aeroporto, em Paris - sente-se bem a diferença de temperatura. Céu farrusco. Plúmbeo não que é erudito e eu não estou cá para eufemismos!
A capital da Flandres francesa é uma industriosa cidade – entenda-se industriosa no seu sentido mais lato –, habitada por cerca de duzentas e vinte mil almas, das quais cem mil estudam nos diversos graus de ensino das suas abundantes escolas, públicas e privadas. Daí que Lille seja uma cidade alegre e muito jovem.
A igreja do Sacré Coeur, quase paredes meias com o local onde me encontro alojado, é um monumento que merece visita. E foi o que eu fiz há cerca de uma hora. Tive direito a ouvir o coro e a um passa-bem do prior local.
Começa bem esta visita ao berço do General que simbolizou a resistência francesa no fim da guerra de 39-45 e que os franceses elegeram, na década de sessenta, como presidente da república. E que haveriam de apear do poder na sequência do Maio-68.



Lille (à noite, no hotel), 18 de Junho de 2011 – Vistas bem as coisas, teremos que concluir que a Europa é mais una do que se crê por aí. A Europa “kitch” dos mass media parece-me definitivamente instalada: os mesmos programas de televisão, os mesmos jornais, as mesmas revistas pink, etc. No mínimo o kitch e o pink unem uma certa Europa. E também os mendigos que surgem por todo o lado.
Em França já começou a pré-campanha para as presidenciais. Os candidatos vão surgindo e Sarkozi, o pequeno homem dos saltos altos, será reeleito. Porque os franceses, que todos supúnhamos mais esclarecidos, afinal de contas são como os restantes europeus.
De Gaulle, Pompidou, Giscard d’Estaing e Miterrand já são, até para mim que não sou dado a essas coisas, saudosos presidentes de França.

sexta-feira, junho 24, 2011

DO MEU DIÁRIO

Gare du Nord-TGV

Paris-Lille (TGV), 18 de Junho de 2011 – Apesar da crise portuguesa, eu estava a precisar de uns dias fora, longe dos Crato, dos Medina e dos Duque, que, independentemente de terem razão ou não, foram ao longo de muitos meses contribuindo para a nossa depressão colectiva.


Nada pior do que um país perder a sua saúde mental!


Eu estava a precisar destes dias longe da pátria, porque só eu sei ( e o Zé Ribeiro também), quão difíceis foram este ano e o transacto.E eu quero preservar a minha saúde mental.


Escrevo no TGV. É a primeira vez que utilizo o “Train Grand Vitesse”, que os Drs. Crato, Medina e Duque tanto abominam. Eu cá imagino-me em 1865 e do que seria de Portugal se, com dívidas e deficit, não tivesse ficado ligado à velha Europa. Não teriam chegado os livros e as experiências de que fruíram os homens da geração de 70.


A paisagem é engolida pela velocidade do comboio. Só posso ter desta rápida viagem uma opinião impressiva. Vou ficar por aqui até Lille.

quinta-feira, junho 23, 2011

La Géode

La Grande Halle


Paris, 18 de Junho de 2011 – Ontem, por achar que tinha sido demasiado “kitch”, omiti a voltinha no Sena, numa das “Védettes du Pont Neuf”. Mas juro aqui a pés juntos, que não voltarei a cometer omissões deste jaez. Pois foi, voltinha no Sena, que, ao contrário do ulissiponense Tejo, permite observar sempre as duas margens. Fiquei a saber que a ilha de S. Luís é o sítio mais caro da Cidade e que a ponte Alexandre III é a mais elegante de todas.


Pequeno almoço no hotel, copioso, que o almoço, se acontecer, será em Lille, lá para as quatro da tarde.


Hoje, o dia começou cedo, porque todo o tempo é pouco, quando se anda por estas paragens. Um namoro antigo, obviamente. Ida à cidade da ciência e da Indústria, em la Villette, que começa com esta pergunta a um carteiro:

- Por aqui também se vai para a Cidade da Ciência, senhor?


A resposta não se fez esperar, ainda que muito diferente da que era esperada:


- Como sabe, Senhor, a ciência não é o meu forte. Eu sou apenas um pobre carteiro.


Percebi imediatamente e continuei o meu caminho ao longo do belo canal de La Villette. Trezentos ou quatrocentos metros andados, descobri o “Grand Halle”, que, intuição minha, é parte da construção em ferro que existia no Marais (olá Lídia Martinez!), onde, em 1970, se comemoraram os noventa anos de Pablo Ruiz Picasso. O estilo é Baltard ou Napoleão III.


Entrei na livraria, onde adquiri uma antologia de poesia árabe e constatei a existência de dois poetas portugueses. Fernando António, sim o Nogueira Pessoa, e Herberto Hélder. Curiosa a fotografia do livro de Herberto Hélder; porém, não vos direi porquê. Ou talvez vos diga, lá para o fim destes escritos franceses.


Chuvinha com fartura. Apesar de tudo, ainda tive tempo para fotografar a “Géode”. Depois reapropriei-me das malas e pus-me a caminho da “Gare du Nort”, que o TGV não espera.

quarta-feira, junho 22, 2011

DO MEU DIÁRIO

Orly

Lisboa (aeroporto), 17 de Junho de 2011 – 9h45. O avião permanece em terra. No mínimo, partiremos com vinte minutos de atraso. Se cada minuto deste atraso correspondesse a um ano de nosso atraso em relação aos nossos parceiros mais avançados da Europa, poder-se-ia dizer que andamos vinte anos atrasados.


Paris (Orly), 17 de Junho de 2011 – Vinte minutos à espera por um espaço e por uma escada para sair do avião. O comandante (João Couceiro) vai, fazendo o seu trabalho, debitando estas preciosas informações. Tempo cinzento e ameaçador, nos arredores de Paris.


Finalmente, o espaço e a escada para a saída. Todos para o autocarro, que a Gália não é diferente da Lusitânia!


Odisseia nos transportes públicos até Porte de la Villette, que é nas portas da cidade que os viajantes mais pobres se podem albergar.


Jantarinho no coração da movida parisiense – a dois passos do Boulevard Saint Michel - , alinhando numa daquelas sugestões escritas a giz na ardósia: “petite salade, agneau et verre de vin”. O coração de Paris - S. Michel e Saint Germain – está repleto de restaurantes para turistas e estudantes, que, no caso vertente, é quase a mesma coisa.Restaurantes chineses, japoneses, turcos, espanhóis de tapas e também da boa e celebrada comida tradicional francesa. Um dia encontraremos por ali um Tico-Tico e /ou uma lusa churrasqueira, onde se hão-de celebrar os santos populares de Lisboa, no mês de Junho.


23h00. Nova pancada de água e regresso de metro ao hotel. Na rua de Rivoli há agora inúmeros semelhantes nossos que passam a noite a céu aberto, embrulhados em cobertores e sei lá eu que mais. É a França de Sarkozi e dos seus amigos de direita, que já não faz jus à tradicional tríade: liberdade, igualdade e fraternidade.

quinta-feira, junho 16, 2011



HÁ CINQUENTA ANOS




Há cinquenta anos, quando nós ainda éramos todos, eu tinha seis anos e era feliz.

Nunca festejávamos os meus anos. E só sabia que fazia anos, porque a minha mãe me dizia: “hoje fazes anos, filho!” E eu, contente por fazer nos, corria pela rua e anunciava aos rapazes e às raparigas que era o dia dos meus anos.

Nós brincávamos sempre na rua, que era o prolongamento natural das nossas casas, que tinham quase sempre as portas semiabertas ou semicerradas que para o caso tanto faz. Era a rua Nova da Escola, que não tinha ainda estes paralelos ásperos, que continuam a causar-me irritação. A rua era térrea e quando chovia ficava lamacenta e nós brincávamos com a água das poças e por vezes chapinhávamos e sujávamos as saias das raparigas já casadoiras e fugíamos para nos rirmos delas.

E construíamos casinhas, imitando os nossos pais. E nelas mostrávamos o peixe às raparigas e elas nos mostravam o cochicho, sim, peixe e cochicho, que era assim que, puerilmente, chamávamos aos nossos sexos.

Hoje já não somos todos! E os que somos já não nos alegramos com a candura de outrora. Agora, às vezes, fazemos anos para nos dizermos que ainda somos; porém, arredios da simpleza e da alegria de, quando criança, minha mãe me dizia: “hoje fazes anos, filho!” E eu corria pelo interior do sol de Junho a dizer aos rapazes e às raparigas que fazia anos.

Vertiginosamente, a névoa vai tomando conta dos nossos olhos e os nossos corações deixaram, há muito tempo, de rejubilar com o alvorecer dos dias.


Nota– Sim, Pessoa está presente. Pessoa e Caeiro. Porém, foi assim mesmo a minha infância.

terça-feira, junho 14, 2011

AMEIXEIRA

Florida a vistes e agora aqui a tendes de frutos carregada


AINDA E SEMPRE O TEMPO

Na minha parcimoniosa produção escrita publicável, o tempo tem ocupado um lugar privilegiado. Se me perguntarem porquê, sou capaz de entaramelar uma resposta pouco lógica e plausível. Sobre o tempo escrevo, mesmo quando o tema é a brisa que passa, a frágil rosa, a doce ameixa, o riso divertido de meu pai.

Na verdade, amada, até quando do nosso amor falo, lá aparece o tempo a tudo balizar. Ora cronológico, ora meteorológico, ora psicológico! Ora…

O tempo agarra-se-nos à pele ainda antes do alvorecer e connosco continua para lá do definitivo anoitecer.

sábado, junho 11, 2011



NÃO ME VENHAM DIZER A MIM



Não me venham dizer a mim
Que já não há milagres!...




Inda ontem, sexta-feira,
o milagre aconteceu,
quando à infância regressei,
no sabor dum damasco.




Foi na Mata,
Onde os damascos
São suculentos e doces
Como as laranjas de Jafa.




Não me venham dizer a mim,
Que já não há milagres!...






(10.06.2011)

sexta-feira, junho 10, 2011

POEMA

companheiro!

chegou a hora de juntar
as pedras
e chama-las pelos nomes,
antes que os rios enlouqueçam
e a terra fique seca
como a pele dos sapos.

Um dia
Tiraremos vinho do cotovelo
-sobretudo tinto-
quando as torres das catedrais
forem pássaros de cristal
a cortar o silêncio
de uma gota de água
a cair na areia.

Como vagabundos
sem dinheiro
em cada madrugada
faremos a lenta travessia
entre o deserto
que estreita o futuro
e a arca de porcelana
onde guardamos
os sonhos.

-em nome da paciência
e pelas casas que o teu
construiu
no tempo em que as cerejas
não tinham vergonha
de amadurecer em Maio.

Com um grande abraço de PARABÉNS

Massamá, 09 de Junho de 2011

Manuel Ribeiro Vaz

quarta-feira, junho 08, 2011

DO MEU DIÁRIO





Fotografias da Rua dos Vencedores

Santa Iria de Azóia, 8 de Junho de 2011 – A cidadania também se exerce trazendo ao conhecimento público as mazelas que nos são vizinhas. E não há que levar a mal a denúncia de situações que carecem de soluções rápidas e eficazes.
Eu vivo no Bairro do Cativo, em Santa Iria de Azóia, donde se vê o Tejo e a linha do norte e a ponte Vasco da Gama. Vivo num bairro de vivendas, de génese ilegal quase todas, mas que já tem alvará de loteamento desde 2005. Para o bem e para o mal, tenho pertencido à direcção da AUGI e à Comissão de Melhoramentos. Bem sei que podia trabalhar mais e melhor, mas vou fazendo o que me é solicitado e que mais se coaduna com as minhas competências.


E hoje quero falar do meu Bairro, onde cultivo roseiras e contemplo as rosas e outras flores do meu pequeno jardim. Hoje quero falar da Rua dos Vencedores, a artéria mais movimentada do bairro e que se encontra esburacada, ou seja, capaz de danificar automóveis e até de provocar acidentes. É uma rua que carece de repavimentação urgente.


Bem sei que há logo quem venha dizer que a Junta assim, que a Junta também, que a Junta, etc. A Junta não tem meios para resolver este problema, que implica gastos mais ou menos avultados. É da competência da Câmara Municipal de Loures tratar deste assunto. E não vale vir com conversas da treta.


Nestas coisas, as cores partidárias ficam de fora dos textos.
A DEPRESSÃO

Anda o povo deprimido
Por causa da depressão.
Descobre no comprimido
Um meio de salvação.

Ou num copo de bom tinto
Abundante em Portugal.
Mesmo assim, inda pressinto,
Que não resolve este mal.

Isto, amigos, só lá vai
Combatendo a roubalheira.
E quem a pátria trai
De forma infame e rasteira.


(inéditas)

terça-feira, junho 07, 2011

QUADRAS EM LOUVOR DO SENHOR BELMIRO

As OPA (s) do ti Belmiro,
Não são opas de vestir.
Este homem, que tanto admiro,
Até faz as pedras florir.

Floresce o grupo Sonae
Tão vertiginosamente,
Que produz lucros num ai
Encantando toda gente.

Só Portugal permanece
Na cauda da velha Europa.
Será que quem enriquece,
Tem respeitinho p’la tropa?

Portugal merece mais
Respeito e dedicação.
Há por aí uns pardais
Que comem tudo grão a grão.

(inéditas)

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 7 de Junho de 2011 – Dois dias depois da estrondosa vitória da direita nas eleições legislativas, o tempo continua nublada. Dir-se-ia que ao contrário do que era esperado- um radioso sol de Junho – o país amanhece cinzento e cinzento continua, pelo menos aqui na capital do reino, como se fôssemos agora entrar no outono.


Pode ser que o bom tempo regresse e se instale de vez, porque Portugal precisa de sol e muita luz. É certo que temos tido muito sol e a luz de Lisboa tem sido celebrada por poetas e outros artistas. Até por cineastas famosos. Creio, todavia, que são só visões de artistas. Sobra-nos sol e falta-nos luz, porque só assim se explica esta nossa espécie de vocação pelos abismos.

Mas pode ser, pode ser que tudo, futuramente, seja diferente.

domingo, junho 05, 2011

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 5 de Junho de 2011 – Conheci o Luís Telhado em Julho de 1976, quando o PREC ainda escaldava. Tivemos pequenas escaramuças verbais; porém, soubemos sempre deixar as pontes de pé, que é assim que deverá ser. No dia do meu casamento – e porque não fizera convites – o Luís apareceu de surpresa para me dar um abraço. E cumprimentar a minha família. Por mais anos que eu viva, nunca esquecerei esse gesto. Como não esquecerei as roupas que ofereceu à Filipa, quando era bebé.


O Luís atravessava então um período muito complicado da sua vida particular. Hesitava entre o Bº Azul, onde residiam os pais, e a sua bem-amada Cascais. Decidiu-se por Cascais, de onde vinha, quotidianamente, trabalhar em Moscavide. Num minúsculo Fiat grená, que parecia estar equipado com um motor de rega. Chegava, poisava as chaves, os óculos escuros e o seu inseparável maço de Português Suave, cumprimentava os colegas e quase invariavelmente dizia: “Lúcia, vou tomar café.” Da Lúcia bem se pode dizer que era uma segunda mãe do Luís Telhado, porque era esta amiga que lhe aturava as madurezas e os atrasos. A vida dá as voltas que dá, mas sei que o Luís, nunca se esqueceu de nenhum de nós e nomeadamente da Lúcia.


O ano passado, encontrei-o em Vila Franca, nos primeiros dias de Maio. Um curto cumprimento de circunstância, porque ia em peregrinação a Fátima. A vida e a idade tornaram-no um homem de fé. Feliz ou infelizmente, não o posso acompanhar em matéria de fé. E este ano já nos vimos novamente e conversámos alguns minutos, no Parque das Nações, junto ao Vasco da Gama. Lá ia nas suas inseparáveis calças de ganga, magro como sempre, mas como sempre afável.


Quando deixar de ter obrigações profissionais, hei-de ir a Cascais almoçar com o Luís e rememorar histórias passadas. Muitas. E algumas rocambolescas. Até breve.

sexta-feira, junho 03, 2011

HÁ MUITAS VOZES NA MINHA VOZ

Para o Vítor Morais, meu amigo.

Há muitas vozes na minha voz
E de todas o timbre reconheço:
Alegres umas, outras tristes,
Todas límpidas e harmoniosas.

Há muitas vozes na minha voz:
A de meu pai sempre presente
- Não a de minha mãe, curiosamente –
E as dos poetas que mais amei.

Há muitas vozes na minha voz
E de todas elas gosto por igual.
No cerzir do verso tento ignorar a mescla;
E, humildemente, procuro ser original.

quinta-feira, junho 02, 2011

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 2 de Junho de 2011 – Passos Coelho, tudo o indica, chefiará o próximo (des)governo de Portugal. Foi levado ao colo por um exército de comentadores, politólogos e economistas, quase todos de direita, que acertaram o passo para derrubar o arrogante Sócrates.

Sendo tudo farinha do mesmo saco, vamos aguardar serenamente pela concretização dos acordos com a “troika” e esperar pela resposta do povo português ao desatino que se prevê e avizinha a passos largos.


No domingo, irei votar, ao fim da manhã. Farei a minha voltinha a pé e depois esperarei pela última e definitiva sondagem destas eleições. Espero que a CDU tenha uma boa votação. Uma boa votação na CDU é a garantia de que nem todas as medidas ruinosas serão implementadas.

A CDU é mais decisiva do que parece.

quarta-feira, junho 01, 2011

DO MEU DIÁRIO

Lisboa, 31 de Maio de 2011 – No próximo dia 5 de Junho, os portugueses vão votar para eleger um novo parlamento; e, por conseguinte, e/ou em consequência dos resultados, para a nomeação pelo presidente da república de um novo 1º ministro.


Estas eleições vão decorrer num tempo particularmente difícil para os portugueses e para Portugal. Nomeadamente, para os portugueses mais carenciados. Com a corda ao pescoço – a corda da bancarrota – a lusa gente vai pronunciar-se, pela primeira vez, em condições de pouca liberdade, porque os três maiores partidos, segundo as sondagens, têm um programa imposto pelo estrangeiro. Sim, que a Europa a que pertencemos, também é estrangeira e como tal se comporta em relação aos seus membros mais frágeis.


O que me surpreende no meio disto tudo é a capacidade do dr. Portas dos bonés e chapéus para aceitar ser um capataz ao serviço dos senhores que tutelam o protectorado. Era espectável que este varão de velha e rija têmpera ousasse pegar em armas contra o “dicktat” do triunvirato e lutasse bravamente pela lusa gente.

Contradições que o poder tece.