quinta-feira, agosto 31, 2006

CASTELO BRANCO - 5


O programa "POLIS" transformou profundamente o centro de Castelo Branco.
Na imagem, do lado direito, vê-se o edifício do Governo Civil; ao centro, o chamado prédio dos Valentes e ainda o início da avenida 1º de Maio, que já fora do 28; à esquerda, ainda se vêm, por entre as árvores, os Paços do Concelho.

CASTELO BRANCO - 4


Vista parcial do magnífico centro da cidade, após as obras integradas no projecto "POLIS".

CASTELO BRANCO -3


Edifício do Paços do Concelho

CASTELO BRANCO -2


(continuação)
Esta rotunda, sem criar qualquer nova centralidade, aproxima e integra num todo mais uno, a Av. General Humberto Delgado, o Bairro do Leonardo, uma das quintas do Amieiro, o Bairro do Cansado e a Quinta Pires Marques, nomeadamente. Dir-se-ia que aquilo que parecia distante e disperso, forma agora, graças à nova rotunda, um todo que, apesar de diverso, é mais harmonioso.

CASTELO BRANCO - 1


A fotografia mostra a fonte da rotunda, situada ao funda da Avenida Gen. Humberto Delgado. Trata-se de uma rotunda estruturante, que permite que o trânsito automóvel flua em seis direcções, incluindo a Espanha, pelas termas de Monfortinho.

MATA (vista da Rua Nova da Escola)


Foi nesta rua, sem paralelos e vivendas, que brinquei durante a minha infância.
Tudo servia de pretexto. Tínhamos um especial prazer em brincar com a água, que corria na rua, durante o Inverno e a Primavera.
À nossa maneira - de abundante tendo apenas a vontade de brincar-, éramos felizes. Mesmo quando acabávamos à chapada.
Tudo recomeçava logo a seguir ou no dia seguinte. Com alegria e sem ressentimentos!

sábado, agosto 26, 2006

FANTASIA PARA DOIS CORONÉIS E UMA PISCINA

De um modo geral, a crítica literária universitária é parcimoniosa na utilização de adjectivos, quando se ocupa de autores contemporâneos. Sente-se mais responsável e, prudentemente, não emite juízos de valor, que o tempo poderá ou não confirmar. Como não é esse o meu caso, direi que FANTASIA PARA DOIS CORONÉIS E UMA PISCINA, de Mário de Carvalho, é um romance sublime, que a pátria certamente não merece, como poderia dizer o autor no seu registo parodístico.
Mário de Carvalho é um autor que se lê com facilidade, porque as suas histórias são imaginosas sem deixarem de ser verosímeis e a sua prosa é das mais escorreitas que Portugal produz.
Credite-se ainda ao autor de OS ALFERES uma superior ironia e algumas inovações no plano estritamente formal. Aquela de pôr o narrador a dialogar com as "coronelas", tornando-o momentaneamente personagem, reabre a nunca encerrada questão do papel ontológico do narrador. É o autor, sem papas na língua, a dar voz às duas mulheres, para que ninguém possa dizer que o romance é misógino (É claro que li o "LL").
Neste romance, Mário de Carvalho produz uma radiografia de Portugal, onde não falta sequer um tal Januário, trazido pelo coronel Lencastre, seguramente na casa dos cinquenta e muitos e que representa o que de pior há na sociedade portuguesa: o proxeneta (lactu sensu), o gabarola, o chico-esperto, o trafulha, etc. Afinal de contas, aquele que só paga em tribunal. Haverá sem dúvida um excesso caricatural, mas fica-se com a ideia de que passarões assim perpassam amiúde o nosso quotidiano. No seu "falajar", a coronela Maria das Dores é impagável. O mesmo se poderá dizer do "falajar" do filho do coronel Lencastre. No fundo são espécimes que existem, mais recorrentes até do que seria desejável e que são parte deste Portugal burlesco ( às vezes também grotesco), em que temos de viver. É talvez esta conformidade com o real quotidiano, a que os literatos chamam efeito de verosimilhança, que explicará o sucesso de FANTASIA PARA DOIS CORONÉIS E UMA PISCINA.
Nesta obra finíssima, onde a língua ganha palavras novas e o vernáculo de Maria das Dores não ofende, é também de registar os diálogos dos pássaros - que grandes passarões! -, que vão assistindo e comentando as acções dos humanos. São, apesar do muito que têm aprendido, o resto do velho éden, que os humanos não se cansam de enjavardar (palavra cara ao autor e que este seu leitor usa com frequêmncia). Por vezes, são tão tagarelas como a fauna humana do país.

quarta-feira, agosto 23, 2006

A HERANÇA DE ESZTER

Foi através do padre Manuel de Aguiar, antigo professor de português no liceu Pedro Nunes e homem de vasta cultura e erudição, que conheci o escritor húngaro Sándor Márai, quando me presenteou com o romance As velas ardem até ao fim. Li a obra com uma volúpia adolescente e sobre a mesma produzi um pequeno texto, que consta do meu diário ainda inédito.
Há dias encontrei A Herança de Eszter, do mesmo autor, que comprei imediatamente e que voltei a ler com a tal volúpia adolescente. Trata-se de um romance muito belo, publicado na colecção Ficção Universal da Dom Quixote, traduzido do húngaro pelo "magister" Ernesto Rodrigues. E com a menção na capa, pouco ingénua mas muito feliz: do autor de As velas ardem até ao fim.
Em ambos os romances, num dado momento, alguém pretende resolver, de forma definitiva, questões que ficaram pendentes durante décadas. Há boa maneira dos trágicos gregos, Sándor Márai usa a denominada lei das três unidades, isto é, as unidades de tempo, espaço e acção. E no caso concreto d' A herança de Eszter, nem sequer falta o coro, a cargo de Laci, Tibor e Endre. Neste último romance, Eszter aceita passivamente, contra a vontade de Endre, as "imposições chantagistas" de Lajos, considerando-o "o único e verdadeiro sentido" da sua vida (pág.49). Mais: Eszter, na noite que antecede a chegada anunciada de Lajos - e após a conversa acerca do anel falso que este lhe dera após a morte de Vilma, como sendo a jóia mais preciosa da família -, diz: "Pensava que, sem ainda ter chegado, Lajos já me roubara qualquer coisa. Pelos vistos, não pode ser de outra maneira. Esta é a lei. A sua lei" (pág. 29). As duas citações configuram, em minha opinião, que Eszter aceita Lajos como o próprio e inexorável destino.
Em traços largos, a história poder-se-ia resumir assim: Lajos, estudante universitário, é trazido para o seio da família de Eszter pelo irmão desta, Laci. Lajos, que a todos seduz através da palavra, modifica os hábitos de uma família humilde de província. Transforma a casa da família de Eszter numa espécie de palco para as suas exibições mundanas. Namora Eszter, mas acaba por casar com a sua irmã Vilma, da qual tem dois filhos. Lajos escreve cartas a Eszter para se explicar, porém Vilma intercepta-as e aquela só agora, vinte anos depois, saberá toda a verdade (o destino a fazer das suas). Vilma morre e pouco tempo depois Eszter regressa a casa, deixando os sobrinhos e Lajos numa cidade distante. A vida de Eszter decorre tranquilamente, após um período inicial de grandes dificuldades, na companhia de uma parente, Nunu. E com Laci, Tibor e Endre por perto. Vinte anos depois, num sábado dos finais de Setembro, Lajos anuncia que vai regressar, no dia seguinte. Convoca Endre, o notário, e fá-lo preparar o documento legal que tirará a Eszter e a Nunu a própria habitação.
Este pequeno grande livro de Sándor Márai, cuja história é comovente, tem a particularidade de, através da análise dos sentimentos de Eszter, indubitavelmente contraditórios, mostrar como o amor pode conduzir a atitudes perfeitamente irracionais. No final do romance, o leitor, tal como Eszter, dificilmente odiará Lajos, apesar de o poder considerar um requintado "sacana".

sexta-feira, agosto 18, 2006

MATA ( o velho CHAFARIZ)


Na fotografia temos uma vista parcial da Praça do Rossio. Ao centro encontra-se o velho chafariz, agora uns metros mais recuado, provavelmente para facilitar as manobras das camionetas.
Merecia ser bem preservado, porque assistiu a muitas cenas e nem todas edificantes. Durante os longos estios de muitas décadas, este chafariz, que apenas gotejava era o único ponto de abastecimento público de água potável de que a freguesia dispunha. As pessoas esperavam-se horas e horas por um (a) cântaro (a) de água. O que este chafariz podia contar de de mil e uma conversas, de mil e uma horas perdidas!
Este chafariz é ainda a testemunha mais qualificada de muitas iniquidades. A família Melo, cuja casa não se vê na fotografia, podia dispor de muitos cântaros e de empregadas, que os disponham seguidos na bicha. E o bom povo que esperasse, até os cântaros dos senhores estarem todos cheios.
E no entanto, a Senhora D. Conceição até era uma pessoa piedosa e capaz de uma palavra de simpatia para toda a gente. Desta família, quando a casa for vendida, ficará apenas o nome numa rua. E os restos mortais de alguns no cemitério.
Se o chafariz falasse!...

domingo, agosto 13, 2006

MATA (UM NOVO CHAFARIZ)


Com uma figueira frondosa e algumas oliveiras como pano de fundo, mesmo à beirinha da estrada, foi construído, já este ano, um novo chafariz. Quase em frente da Senhora dos Caminhos.
Uma bica de água, de preferência potável, e num local de passagem, é sempre uma obra de vulto e merece ser notícia.
Que a nova bica corra por muitos e anos!

sexta-feira, agosto 11, 2006

O cavaleiro da Águia (continuação)

Em nome de Deus e de Allah, mouros e cristãos combatem-se ferozmente. E no entanto, olham uns para os outros e a miscigenação acontece. Uns e outros sentem mútua atracção, que a beleza e as razões do coração são facilmente separáveis do fanatismo religioso. E aí temos Afonso VI casado c0m uma irmã de Buthayna e esta casada com Gonçalo Mendes. Ainda que o casamento de Gonçalo Mendes com Buthayna pertença ao mundo da ficção - então não é simplesmente maravilhoso ver o nosso Gonçalo Mendes casado com uma filha do poeta de Silves e rei de Sevilha al-Mutâmid?-, sabe-se que nas zonas conquistadas os vencedores se misturavam com os vencidos e que o sangue se cruzou, muito mais até do que muita gente supõe.
Este romance dá destaque, em minha opinião, a duas questões fundamentais: a luta mais ou menos permanente pelo poder e pelo espaço para o seu exercício, que é visível entre as filhas de Afonso VI, Urraca e Tareja, e entre Urraca e Afonso de Aragão, com quem chega a casar por razões de natureza estritamente políticas; e o fanatismo religioso, talvez mais visível do lado mouro, que foi durante séculos a causa de ódios inenarráveis e de mortandades sem conta. Este último continua, estupidamente, nos tempos que correm, a provocar morticínios, um pouco por todo o mundo.
Este romance de Fernando Campos poder-se-á ler numa perspectiva actualizante. Os problemas da idade média permanecem mais ou menos os mesmos. Outros são certamente os actores. Porém, as lutas pelo poder e pelo espaço para o seu exercício, bem como o fanatismo religioso, este do lado muçulmano, aí estão, no seu esplendor, para nos mostrar que a natureza humana permanece mais ou menos imutável. E tudo podia ser diferente, porque Deus e Allah são apenas formas diferentes de nomear a mesma divindade.
Uma última palavra para este antigo professor de língua portuguesa. Através de uma criteriosa escolha das palavras, recria para os seus leitores a época da Reconquista e da fundação do reino de Portugal, com uma mestria verdadeiramente espantosa. O que significa que para além do saber acumulado ao longo de uma vida, o autor de A Esmeralda Partida continua a trabalhar incansavelmente. Exemplar!

O cavaleiro da Águia (continua)

Terminei hoje a leitura do romance O cavaleiro da Águia de Fernando Campos, que, como é usual neste autor, trata magistralmente um período da História de Portugal. No caso concreto de O cavaleiro da Águia, Campos é muito mais abrangente, dando-nos conta, com muitos pormenores, das lutas travadas durante e após a morte de Afonso VI de Leão e Castela, dos reinos cristãos entre si, destes com os mouros do chamado al Andaluz e também dos diversos reinos mouros entre si. A par desta narrativa fabulosa, decorre outra, de índole policial, em que são protagonistas o cronista de O cavaleiro da Águia e o seu ajudante Randulfo.
Sendo certo que a História dos países começa sempre antes da declaração de independência e que a das nações é ainda mais anterior, não cometemos imprecisão de maior ao afirmar que a matéria narrada tem a ver com um período da História de Portugal. É personagem central Gonçalo Mendes (da Maia), o Lidador, grande cavaleiro e Homem de enorme coração, que morre em combate, com a provecta idade de noventa e quatro anos, na célebre batalha de Ourique. Cavaleiro ao serviço do conde D. Henrique, serve a causa de D. Tareja contra D. Urraca e quando aquela se desvia dos sonhos do marido, entretanto falecido, junta-se a D. Afonso Henriques e luta pela independência de Portugal.
Fernando Campos casa Gonçalo Mendes com Buthayna, filha do grande poeta al-Mutâmid, por quem se apaixonara numa visita diplomática que os filhos do malogrado rei de Sevilha fizeram a Afonso VI. Aquando da queda e deportação de seu pai, Buthayna é salva por Soleima, que a traz para terras cristãs, mas são tantos os desencontros iniciais, que prenunciam muitos outros desencontros futuros, mais ou menos ao sabor dos avanços e recuos de cristãos e mouros. Os encontros do casal são mais ou menos fortuitos, porque a ética do cavaleiro o obriga a seguir os seus senhores e porque é um homem de acção. A bela Buthayna, a cujo envelhecimento o leitor vai assistindo, estava condenada à infelicidade: morrem-lhe os filhos, perde as netas e desencontra-se definitivamente de Gonçalo. Desencontros a mais, que parecem querer simbolizar a proximidade e a distância a que os mouros e os cristãos da Península sempre estiveram.

quinta-feira, agosto 10, 2006

BRAGANÇA


Bragança, que deu o nome à dinastia iniciada em 1 de Dezembro de 1640 e que só viria a terminar com a implantação da República em 5 de Outubro de 1910, é ainda título honorífico dos pretendentes ao trono de Portugal. Estamos, pois, em presença de uma cidade estreitamente ligada, através do nome, à família que mais tempo governou Portugal.
Situada no nordeste de Portugal, e ainda muito mal servida de acessos rodoviários, esta cidade quase fronteiriça tem crescido à custa das populações das freguesias rurais e mesmo dos concelhos, que sempre é preferível viver na sede do distrito. Sexta-feira, deste tórrido mês de Agosto de 2006, e os espaços contíguos à Sé e ao Palácio da Justiça, com os passeios cheios de gente. É sempre bom ver gente nas ruas e outros espaços públicos das cidades. Falando de espaços, refira-se aqui e agora, que ao contrário de outras cidades antigas, Bragança possui espaços amplos, onde o visitante respira e se sente bem.
O Castelo, deveras altaneiro, e por sinal muito bem conservado, é a jóia da cidade. Com a particularidade de, no interior das muralhas, ainda se poder visitar um monumento único, o "domus municipalis".

segunda-feira, agosto 07, 2006

MONTESINHO



Montesinho é nome de localidade, de serra e de parque natural, no concelho de Bragança.
A serra faz parte de um maciço a que pertencem as serras de Gamoneda, Segundera e Cabrera Baja, que rodeiam o grande lago de Sanábria, de origem glaciar e o maior de Espanha. A portuguesa serra de Montesinho teria certamente outro nome, se Portugal não se tivesse tornado independente e a linha de fronteira não passasse por ali. As montanhas têm ali uma forma arredondada, no cimo das quais são visíveis enormes pedragulhos de granito. Porém, o xisto e o calcário também estão presentes e constituíram-se desde sempre como materiais de construção.
O Parque Natural de Montesinho foi criado em 1979 e é um excelente pulmão do Nordeste de Portugal. O turista ocasional dá-se conta da existência de diversos tipos de pinheiro, muitos castanheiros dispersos e alguns soutos e carvalhos. A flora da serra de Montesinho é, todavia, muito mais variada.
Na povoação de Montesinho, onde predominam as construções antigas, foram executadas obras de restauro, nas últimas décadas, mas respeitando a tradição, ou seja, sem as costumadas agressões nacionais. As poucas construções novas respeitam também a tradição, mormente no que respeita à utilização de materiais.
Como em todo o interior, Montesinho tem perdido muita população e a juventude demanda outras paragens.
É uma aldeia tranquila, que vale sobretudo pelo silêncio, pela qualidade do ar e pela beleza das montanhas. E se for possível ter lá um amigo de qualidade, ir a Montesinho torna-se mesmo um imperativo.

RIO DE ONOR (FOTOS) - 4

RIO DE ONOR (FOTOS) - 3

RIO DE ONOR (FOTOS)-2

RIO DE ONOR (FOTOS)- 1

RIO DE ONOR

Ouvi falar deste topónimo, há muitos anos, na FL da Universidade Clássica de Lisboa. Vicissitudes várias conduziram-me sempre para outros destinos, quiçá mais modernaços, mas menos enriquecedores.
Rio de Onor é uma localidade do distrito de Bragança, paredes meias com a Espanha, e constitui mesmo um caso singular de iberismo. Na verdade, não chega a haver uma descontinuidade acentuada entre a parte lusa e a parte espanhola. Porém, nota-se que apesar dos espanhóis estarem reduzidos a doze almas, as suas casas apresentam um aspecto cuidado e advinha-se um certo conforto interior.
Na parte portuguesa, habitada por cerca de sessenta pessoas, a degradação é patente nas construções. Rio de Onor é uma localidade quase fantasma, onde se espera, provavelmente, que a vida vá decorrendo, sem grandes sobressantos, até à morte ou à deserção dos últimos habitantes.
Daquele falar de que os académicos gostavam, uma mistura de português, espanhol e umas tantas palavras autóctones, só o senhor Agostinho da café da Associação continua disponível para esclarecer o visitante com curiosidades linguísticas. É indicado pelos restantes habitantes como sendo o guardião das tradições. Uma conversa em riodonorês parece-me já impossível.
No entanto, mantêm-se algumas tradições: o rebanho comunitário e a resolução das pequenas questiúnculas entre vizinhos. Foi-nos mostrada e explicada a "vara da justiça". Ficámos a saber que as multas eram remíveis a vinho, indo os montantes da meia canada ao almude do precioso líquido, se a memória não me atraiçoa.
Mas o que ali dói não é o desaparecimento do riodonorês, que é coisa do passado e que os meios de comunicação social, a rádio e a televisão, se encarregaram de sentenciar à morte. O que dói em Rio de Onor é o estar ali naquele abandono, distante de todo o progresso e do conforto. Basta olhar à volta e o visitante notará sem esforço, onde acaba Portugal e a Espanha começa.

quarta-feira, agosto 02, 2006

MATA (SENHORA DOS CAMINHOS)


A Senhora dos Caminhos - um nicho e um conjunto de azulejos com a imagem de Nª Senhora-, foi mandada executar pela Senhora D. Ester, professora primária, durante décadas na Mata. Porém, com o dinheiro obtido num peditório à população. Data da década de sessenta. Não possui qualquer valor artístico.
Teve o condão de alterar a toponímia. O local começou a chamar-se a Senhora dos Caminhos.

O AMOR INFINITO DE PEDRO E INÊS

Acabei de ler o romance O Amor Infinito de Pedro e Inês, de Luís Rosa, de quem ouvira falar vagamente. O autor trata um dos temas mais apaixonantes da História de Portugal, por obra da literatura, desde Resende ao próprio Luís Rosa, que ao longo dos séculos foi construindo e sublimando o mito. Na verdade, este par amoroso pode ombrear com os outros grandes pares da cultura europeia, que estiveram na origem de mitos, onde quer que o poder e o amor ou o amor e o poder se influenciaram.
Luís Rosa escreve prosa escorreita, seguindo, quiçá involuntariamente, a lição dos gramáticos mais exigentes. Ao contrário da frase berroca de muitos autores do sé. XX e do actual, este autor exprime-se quase sempre através de frases curtas e tensas, que são, frequentemente, verdadeiros aforismos. Este facto não faz de Luís Rosa "um mâitre à penser", mas obriga o leitor a parar para pensar.
É notável o trabalho de pesquisa do autor, que nunca se distancia muito do que se sabe das intricadas relações do poder em Portugal e Castela, por volta de 135O. Dir-se-ia que desfia as teses conhecidas e que o romance vale sobretudo pela quantidade de retratos que nos proporciona das figuras gradas da política nacional e castelhana daquela época. Retratos impiedosos de Pedro e Inês, dos reis de Castela e de D. Maria, a formosíssima de Os Lusíadas . Usa de benevolência com Afonso IV, ao qual só critica os ciúmes, de certo modo fundados, em relação a seu meio-irmão Afonso Sanches. O clero não é poupado, mormente pelo comportamento dos abades, que sustentam relações de mancebia e dão origem a vastas proles.
Para além das idiossincrasias formais, o elemento literário mais interessante desde romance reside, em minha opinião, na figura da bruxa da Atouguia e na crença do Mestre da Ordem Militar de Cristo, que conseguem através da leitura dos astros predizer o futuro da História de Portugal - a tal porta do mundo para lá de Castro Marim-, protogonizada pela melhor obra de Pedro, ou seja, a geração na galega Constança Pacheco, do seu segundo filho João, Mestre de Avis desde os seis anos e que será o futuro rei de Portugal. E o pai de Henrique, o navegador. Obras de Pedro, o cruel e desmedido. Na verdade, a magia, a crença no sobrenatural e o fantástico, são os ingredientes de que se faz a boa literatura.
Oriundo de um mundo exterior e não raramente hostil à literatura, Luís Rosa produziu um romance muito belo, que é recomendável a jovens a partir dos dezasseis anos. Pela qualidade da escrita, pela história e pelos dados da História, pelo português medieval e até pelo latim. Bravo!

MÉDIO ORIENTE

O mundo assiste, de novo, a um conflito israelo- árabe de grandes proporções. Por enquanto os teatros de operações têm sido o sul do Líbano e a denominada Faixa de Gaza. Libaneses e palestinos estão a ferro e fogo, em nome da segurança de Israel. O detonador foi o rapto de alguns soldados israelitas.
Em 1967, com quinze anos apenas, tomei partido por Israel e fiquei imensamente feliz por um Estado pequeno e ainda com poucos anos de existência ser capaz de derrotar em poucos dias o Egipto e a Síria e outros estados árabes. Poucos anos depois percebi a verdadeira natureza das coisas e a razão de todos os milagres israelitas. Tornei-me amigo da Palestina.
O mundo árabe vive ainda numa espécie de idade média. Dentro de cada Estado, partidários do mesmo Deus, mas de diferentes orientações, digladiam-se ferozmente; as mulheres são vítimas de discriminações e de maus tratos; os detentores do poder delapidam as riquezas naturais e condenam os povos às mais abjectas condições de miséria; o ensino dos jovens è de orientação religiosa e fanático; o poder é exercido de uma forma mais ou menos despótica em todos os países muçulmanos.
Porém, o reconhecimento destas verdades não implica a absolvição de quem quer que seja. E nomeadamente de Israel que, na cena internacional, se comporta como um país fora da lei, com a benção dos EUA e de alguns países europeus. E também dos EUA que usam sempre de dois pesos e de duas medidas em relação aos países árabes. E que pouco se importam com a legalidade internacional.
Os chamados direitos humanos são pouco mais que uma figura de retórica e a democracia só é respeitada quando os escrutínios se harmonizam com os interesses da superpotência. Sempre que os resultados não agradam aos EUA, faz-se tábua rasa da democracia. E isto devia chegar para os defensores do actual poder mundial se absterem de falar de democracia e de direitos humanos. Conhecemos-lhe a verdadeira natureza de classe e os seus interesses próprios. São os mesmos que advogam por esta sociedade cada dia mais desigual e podre.
O que fazer? Pôr fim ao conflito parece-me óbvio. Era bom que e Europa exigisse aos EUA que exigissem a Israel o fim do conflito. Era necessária uma força de intenvenção dos dois lados da fronteira, formada por tropas europeias não comprometidas com nenhum dos contendores, para garantir a segurança de israelitas e de árabes; era preciso impedir a todo o custo a obtenção da bomba atómica ao Irão e recomeçar-se a discussão do desarmamento nuclear a nível mundial, a começar pelos EUA. O poder atómico é mau, esteja onde estiver. Era preciso também dar combate sem tréguas e eficaz ao terrorismo.
Era preciso, fundamentalmente, que o mundo se livrasse do eixo do mal constituído por Bush e pelos membros da actual administração americana. Era preciso criar uma ordem mundial mais equitativa e solidária. E ajudar o mundo árabe a sair da sua idade média. Para estripar os Ben Laden e as complexas e enigmáticas organizações terroristas. Em suma, era preciso tornar o mundo mais limpo e fraterno.