domingo, julho 27, 2008

VOU DE FÉRIAS

Caras Amigas
Caros Amigos
Caros Leitores

Durante 15 dias, estarei a banhos; porém, convosco no pensamento.

Um grande abraço para todos.

quinta-feira, julho 24, 2008

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 23 de Julho de 2008 – Vasco Graça Moura persevera – e bem -, na sua já longa luta contra o acordo ortográfico (AO), que umas quantas criaturas de Deus querem, à viva força, que entre depressa em vigor.

Eu raramente estou de acordo com o tradutor de Dante e Petrarca; sobretudo, em matéria de política partidária, porque o considero muito fiel ao PPD-PSD, seja qual for o cabo que estiver de serviço. Nas coisas da cultura, a música é outra, obviamente. VGM até pode ter inúmeros defeitos – e tem-nos com certeza -, mas, no domínio das letras, é um trabalhador incansável e de grande qualidade.

Subscrevi o documento contra o AO que está a circular na NET e voltaria a subscrevê-lo, porque as línguas não necessitam de despachos, decretos e leis para viver e morrer. As línguas todos os dias vão morrendo e renascendo, porque todos os dias caem em desuso determinadas palavras e todos os dias surgem palavras novas. Mas, no presente, não é este o ponto.

O AO que os governantes querem implementar a todo o vapor, como já foi amplamente explicado, é um mar de incoerências e só vai lançar a confusão entre os utentes do código escrito. Para nada, porque a descontinuidade geográfica já criou umas quantas variedades do português, que, a longo prazo, se constituirão como novas línguas. E este é que é o ponto.

quarta-feira, julho 23, 2008

SÓ UMA ROSA

Há dias,
Despudoradamente,
Roubei um verso
Ao poeta Albertí.

Coisa sem importância
Dirão os (des)entendidos
Que pululam
Por aí.

Roubar, meu amor,
Só na loja das flores,
Uma rosa
Para ti!




segunda-feira, julho 21, 2008

QUADRAS DE FIM DE ÉPOCA

ESTA EQUIPA DO BENFICA

Esta equipa do Benfica
Faz-me mal ao coração.
Quando o conjunto claudica
Aumenta-me a pulsação.

É tão triste e doloroso
Ver esta equipa perder.
Ó meu Benfica famoso
Que te deram a beber?

O grão Maestro, Rui Costa,
Era digno de melhor.
Não merecia esta bosta,
Um Benfica perdedor.

Vieira que vá à vida
Que não tem classe nem jeito.
A nação anda perdida,
Vai ter angina de peito.




CINCO GOLOS DE RAJADA

Cinco golos de rajada,
Em coisa de meia hora,
Deixa a malta envergonhada
E Portugal mais à nora.

Este Benfica sem alma
Até nos faz impressão.
Não nos venham pedir calma.
Por favor, mais calma não!


sábado, julho 19, 2008

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 19 de Julho de 2008 – Este ano tem-se mostrado muito produtivo, em termos literários, na minha roda de amigos. O João Teixeira, que publicou RO(S)TOS DO MEU PAÍS, no já longínquo ano de 1972, publicou o mês passado REBUÇADOS, CARAMELOS E SONETOS, dando continuidade à sua veia satírica e humorística, sempre muito atento ao mundo que o rodeia.

O Daniel Abrunheiro publicou a TERMINAÇÃO DO ANJO, na renascida Portugália, que teve apresentação pública, em 24 do mês transacto. Afazeres múltiplos têm-me impedido de fazer uma leitura atenta deste romance, escrito num português imaculado e onde o génio inventivo de Daniel está patente do princípio ao fim. TERMINAÇÃO DO ANJO é um romance inquietante cuja leitura exige tempo e reflexão.

Ontem, foi a vez do Vítor Morais, um jurista tributário, a anunciar-me o lançamento para breve do seu primeiro romance JAMES DEAN FAZ VIDA NO BOMBARRAL. Terei sido o primeiro leitor deste romance, ainda antes da versão final. Sempre achei que merecia publicação e o Zé Ribeiro considerou então o título um verdadeiro achado. A seu tempo se dará notícia aqui deste romance do Vítor Morais, que vale muito mais que o seu precioso título.

Lá para o fim do ano, moi-même, darei à estampa FRAGMENTOS COM POESIA – II.

quinta-feira, julho 17, 2008

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 17 de Julho de 2008Por obra e graça de declarações de Vítor Constâncio, constante governador do Banco de Portugal, foi abalada a proverbial acalmia lusitana. É certo que houve 1383-1385, o nosso século de oiro, 1640, 1820 e a Guerra Civil subsequente, que correu de feição aos liberais de então, 1910, e, finalmente, 1974; porém, passado o bruá que as revoluções por cá provocam, constata-se que o nosso povo é efectivamente de costumes brandos e pouco dado a rupturas violentas. E as chamadas elites, rapaces, acabam sempre por se apropriar do pouco que o país produz e tem.

Omito propositadamente 1926 e outras datas trágicas, como foi, sem quaisquer dúvidas, o dia 23 de Maio de 1536 – o dia da concessão da Bula que criou a Inquisição, em Portugal. Omito, portanto, alguns dos marcos mais ignominiosos da nossa História colectiva, que só serviriam para demonstrar como a nossa gente aceitou abjectas servidões.

É muito da mentalidade portuguesa os pais dizerem aos filhos:”tem juizinho, não te metas em avarias; vê lá, não dês cabo da tua vida”. Não conheço pais que tenham dito: “filho, nunca te submetas aos tiranos; não tenhas medo de enfrentar os poderosos e as injustiças; nunca aceites viver de cócoras”. É evidente que haverá excepções, mas encontrá-las-emos, seguramente, ao nível das elites. O povo, que os românticos e os partidos revolucionários do séc. XX mitificaram, evita, sempre que pode, a confusão.

Não quer isto dizer que, perante certas situações limite, o povo não adira a determinadas formas de luta, incluindo, naturalmente, as violentas. Eu venho dizendo, de há vários anos a esta parte, que tudo se vai decidir de novo na rua. E há-de ser a nível europeu, como notava, recentemente, Odete Santos, num programa de televisão. E bem podem ir construindo os seus castelinhos modernos – os chamados condomínios fechados –, com segurança privada e outras coisas de mentalidade medieval, que um dia as ruas voltarão encher-se e os audazes e valentões, que tudo controlam e dominam, perante as multidões ululantes, hão-de fazer de novo nas calças.

quarta-feira, julho 16, 2008

DO MEU DIÁRIO

Lisboa, 15 de Julho de 2008O caso Ingrid Betancourt interessa-me, mas apenas na mesma medida em que me interessam outros casos de sequestros. Por princípio, sou contra todo e qualquer tipo de sequestro, porque não concebo sequestros bons e sequestros maus, em função das colorações políticas dos sequestradores.

No caso da colombiano-franca, há qualquer coisa que não joga certo. Depois de ter sido dada a conhecer ao mundo, através de fotografias que asseguravam doenças terríveis e provavelmente mortais, eis que e senhora aparece de boa saúde e em grande forma. E elegantíssima, dentro de roupas de puro estilo parisiense, para receber a Legião de Honra das mãos de Sarkosy.


Clara Rojas, por exemplo, poderá ajudar a esclarecer muita coisa; temo, todavia, que não haja muitos interessados em conhecer a verdade em toda a sua extensão. Há por aí muitos espíritos arrebatados aos quais interessam apenas meias verdades e as verdades reveladas por determinadas personagens. “O que se passou na selva, deve ficar enterrado na selva”, terá dito Ingrid. Provavelmente, porque sim.

Verdade e mistério, cá para mim, nunca andaram de mãos dadas.

Certo, certo, é que acerca de Guillermo Rivera Fúlquene nem uma palavrinha, nos sítios do costume.

terça-feira, julho 15, 2008

DO MEU DIÁRIO

Lisboa, 23 de Maio de 1994 – Todos os anos, em Maio, me reencontro com Cesário Verde. Grato reencontro, diga-se, porque me permite falar do maior poeta português do séc. XIX, e, quiçá, um dos maiores da nossa História da Literatura.
Ouve-se dizer, com alguma frequência, que Portugal é um país de poetas. Não compartilho desta opinião, que rejeito totalmente, porque no século passado só temos quatro nomes para reter: Garrett, Antero, António Nobre e Cesário Verde. Então parece-me mais adequado falar-se de país de versejadores. Mas é de Cesário que quero falar.
Foi curta a vida de José Joaquim Cesário Verde. Decerto, porque Deus não podia dispensar, junto de si, a voz pouco hierática do autor d' O Sentimento dum Ocidental, para que tudo no céu continuasse eternamente equilibrado. Deixou, contudo, marcas indeléveis na sua passagem breve pela Terra. O Cesário se haveriam de referir dois dos heterónimos de Pessoa: Campos e Caeiro. Um para lhe chamar «Mestre»; o outro, para lhe lamentar a desgraça de ser um camponês preso na cidade, ainda que nela pudesse deambular em liberdade, mais palavra menos palavra.
Ambos tinham razão: sem Cesário não tinha existido Campos tal como o conhecemos; e na verdade, Cesário, o mais citadino dos nossos poetas oitocentistas, amava o campo e a vida em contacto com a Natureza. E á à luz da dicotomia campo/cidade, notada por David Mourão-Ferreira, que é verdadeiramente produtivo ler a poesia de Cesário.

sexta-feira, julho 11, 2008

A PÁTRIA (IN)GRATA

Republicação


Pertenço a uma geração

Que tudo deu à pátria
E da pátria só agravos recebeu.
Nasci sob a pata e a bota
Do déspota de Santa Comba;
A Angola fui parar,
Longe da pátria e dos meus;
E lutei pela democracia
E por uma pátria fraterna.
Rapazes de cueiros dizem agora
Que gozo de muitos privilégios.
E eu digo (lhes) livremente:
A puta que os pariu!
A puta que os pariu!

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 11 de Julho de 2008 – Grande e sonorosa foi a solidariedade manifestada a favor de Ingrid Betancourt. Dir-se-ia que o mundo inteiro de uniu (não para tramar como cantou Rui Veloso) para libertar a antiga senadora colombiana, que as FARC mantiveram cativa durante anos.

Soube, entretanto, que Guillermo Rivera Fúquene, comunista e dirigente sindical “dos funcionários da autarquia” de Bogotá, desapareceu em 22 de Abril último, dele se desconhecendo o paradeiro.

Se o mundo fosse um espaço limpo, todos aqueles que exigiram, justamente, a libertação de Ingrid Betancourt, deveriam agora exigir que sejam feitos todos os esforços para encontrar Guillermo Rivera Fúquene, questionando o poder instituído em Bogotá e o presidente Álvaro Uribe.

Vamos esperar para saber se a generosidade de muitos dos nossos escribas dos jornais e dos “blogues” esbarra no preconceito ideológico. Estou convencido que Guillermo Rivera Fúquene não vai contar com tantos empenhos. E no fundo, é tão-somente um colombiano, tal como Ingrid Betancourt, distinguindo-o apenas as particularidades de ser comunista e dirigente sindical.

Quem vai chorar o pai da pequena Chiara Rivera?

terça-feira, julho 08, 2008

NÃO ME VENHAM DIZER A MIM

Não me venham dizer a mim
Que já não há milagres!...


Inda no pretérito domingo,
O milagre aconteceu,
Quando à infância regressei,
No sabor dum damasco.


Foi na Mata,
Onde os damascos
São suculentos e doces
Como as laranjas de Jafa.


Não me venham dizer a mim,
Que já não há milagres!...

sábado, julho 05, 2008

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 5 de Julho de 2008 – O PCP tem sido desancado na blogosfera, pelos votos que não vota e pelas solidariedades que teima em manter, no plano internacional. Dir-se-ia que o PCP se põe a jeito, amiúde, para que a direita lhe caia em cima.

A longevidade e a força do PCP advêm-lhe do seu passado de coerência e da forma como sempre soube defender os interesses das camadas mais desfavorecidas da nossa população. Graças à acção do PCP, o tal partido que defende sempre o que está, no dizer da direita, é que os trabalhadores portugueses vão tendo alguns direitos. Tivesse o PCP capitulado como o espanhol, o francês e o italiano, nomeadamente, e tudo seria ainda mais negro neste canto à beira mar.

Eu sei quão difícil é a solidão das pessoas e das instituições; porém, mais vale estar sozinho do que mal acompanhado, como diz o ditado popular. Por isso mesmo, há que ter muito cuidado na escolha das companhias. A Coreia do Norte, a China, Angola e as colombianas FARC, não são propriamente amigos estimáveis. Como não o foram noutros tempos a URSS e os países que viviam sob a sua influência. O PCP pagou e continua a pagar um preço muito elevado pelas suas lealdades passadas e presentes.

No plano mundial, a esquerda atravessa uma crise grave e complexa. A direita, que hoje também engloba os partidos sociais-democratas, governa o mundo e fê-lo regredir, no campo social, dezenas e dezenas de anos. Dir-se-ia que as grandes conquistas civilizacionais do século XX, ruíram de um momento para o outro e sem que tenhamos consciência de tal facto; por conseguinte, há que pegar nas antigas bandeiras e em bandeiras novas e pugnar por um mundo mais favorável para quem trabalha. E é no plano estritamente nacional que devemos concentrar os nossos esforços.

No plano internacional, às vezes inventamos amigos que só servem para nos complicar a vida. Certas ligações perigosas, roubam-nos os argumentos contra os nossos adversários e inimigos.

sexta-feira, julho 04, 2008

DO MEU DIÁRIO

Lisboa, 13 de Maio de 1994 - Em 1972, quando vim frequentar o 1º ano do Instituto Comercial de Lisboa – e já depois de ter vivido vinte e um meses em Paris -, sentia um enorme prazer em caminhar a pé pelas ruas da cidade. Sentia, nesse tempo, uma vergonha muito grande por conhecer melhor Paris do que Lisboa. Estabeleci roteiros, que cumpria religiosamente, e mantive este interesse muito vivo durante meses.

Vi o Tejo do Alto de Santa Catarina, já sem os grandes paquetes de outrora, e reflecti muito acerca da guerra colonial. Porque nunca dissociei o Tejo, ao qual Garrett chamara o Nilo Português, das nossas venturas e desventuras colectivas. Calcorreei as ruas e ruelas dos bairros pobres, nomeadamente as do Bairro Alto, onde tomei contacto com uma humanidade outra, carregada de amarguras e sordidez. Frequentei cafés e outros lugares públicos, que era usual serem frequentados por figuras maiores da nossa literatura.

Recordo-me de, num sábado à tardinha, quase ao anoitecer, ter entrado com o Albano Melo Matos no Martinho da Arcada e de ter perguntado ao empregado pelo senhor Pessoa. Respondeu-me correctamente que ainda o não tinha visto naquele dia. Horas depois ainda nos ríamos a bandeiras despregadas, por entre copos de cerveja. Persegui José Gomes Ferreira, no Chiado, na mira de meia dúzia de palavrinhas. O Poeta Militante gozava, então, de uma popularidade imensa entre a juventude. Os seus poemas eram recitados à mesa do café e funcionavam como senha e santo para desancar no regime e nos esbirros que o serviam. Os poemas do “Diário dos Dias Cruéis” (Poesia II) exerceram sobre mim um enorme fascínio.

Relativamente a Gomes Ferreira, quero aqui lavrar o meu protesto pelo ostracismo a que as novas gerações o têm condenado. Nomeadamente, os doutos professores de literatura que fazem crítica e poemas e se elogiam mutuamente, num ritual indecoroso. Porque Gomes Ferreira, que atravessou o séc. XX, de pé e como homem livre, voz original e solidária da poesia portuguesa, não merecia uma tal injustiça. As suas metáforas e imagens, profundamente ligadas ao quotidiano do seu povo, são, porventura, das mais arrojadas do século.

Lisboa era ainda uma cidade convivente. Os amigos encontravam-se com frequência nos cafés, para dois dedos de conversa e uns copinhos de cerveja. É dessa cidade, ferida por uma guerra colonial imbecil e espiada nas suas esperanças mais legítimas, que guardo as melhores recordações. Embora seja impensável, mesmo em tese, voltar a viver esses dias de chumbo.

*