segunda-feira, novembro 30, 2009

O FLUIR DO TEMPO


I
É o tempo
- O inexorável tempo -,
Que atenua a minha mágoa
E mostra quão profundas
Eram as nossas raízes.


II
Um Verão vai
E outro vem.
E neste vaivém,
Decorre a minha vida.

Esta vida que vai,
Vai e não vem.


III
Lentas,
As nuvens vêm
E vão.

Umas deixam (m)água
E outras não.

Ah, só o Verão,
Esplendoroso,
Alegra o meu coração.

O Outono não.


IV
No Outono,
Sou um território de tédio
E sono.

sábado, novembro 28, 2009

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 28 de Novembro de 2009 – Começo a sentir um certo asco por Medina Carreira, que tem presença regular na SIC-Notícias, para anunciar aos sete ventos desgraças futuras. Dir-se-ia que o homem podia ser ouvido uma ou duas vezes e depois mandado à vida, que há outros portugueses tão portugueses como Carreira e que não se arvoram em profetas da desgraça.
O pior é que a coisa já pegou de estaca, permitam-me a expressão popular, e começa a fazer escola. Abra-se o expresso, que é da mesma empresa ou grupo de empresas da SIC-Notícias e encontrar-se-á uma panóplia de opiniões que vão todas no mesmo sentido. Até o romancista Sousa Tavares anda preocupado com as finanças do país e também Ricardo Costa e muitos outros, com formação em economia ou não.
Têm todos, ou quase, traços comuns: pertencem às elites, têm altos rendimentos, têm mundo e vagar para se entreterem com as finanças do país. No entanto, toda esta gente acha que paga impostos a mais e que não é possível aumentar mais os impostos. Não os vemos a reclamar contra as desigualdades instaladas e que se acentuam quase quotidianamente.
Se o país vai ou não para a bancarrota não é questão que preocupe a maioria dos portugueses, porque uma percentagem elevada de portugueses já se encontra na bancarrota. O que eles não ousam, porque apreciam todos os seus privilégios, é dizer que este modelo de sociedade é iníquo e que deve dar lugar a outro, que privilegie a justiça social, o mundo do trabalho, a produção nacional. O que eles não ousam é dizer que o sistema capitalista e os actores que o servem, deveriam ser varridos.
Cá para mim, isto vai acabar por se resolver na rua.

quinta-feira, novembro 26, 2009

DO MEU DIÁRIO

FRAGENTÁRIA MENTE
Santa Iria de Azóia, 26 de Novembro de 2009Fragmentária Mente, que será apresentado urbi et orbi, no próximo dia cinco de Dezembro, na Casa da Cultura de Santa Iria de Azóia, é um livro de poesia branca, pueril e de mensagem simples, segundo comentários de alguns amigos. E com algumas coisas bem esgalhadas, segundo o poeta João Teixeira, que, conjuntamente com Filipa Barata, fará a apresentação.
Fragmentária Mente foi-se fazendo, dando-se a circunstância de integrar textos com cerca de trinta anos, que é o caso dos poemas “Palestina Minha Amada” e de “Tocador de Flauta”. Ambos foram escritos no início dos anos oitenta e publicados no jornal Vento Novo de Sacavém. Importante, verdadeiramente importante, é o facto do meu amigo José Ribeiro encontrar que dei um grande salto qualitativo. E de ter gostado do livrito.
A minha poesia, que de poesia se trata, é, na verdade, uma poesia de grande simplicidade, embora a sua feitura tenha implicado um processo de criação mais ou menos longo. A simplicidade é, não raramente, o fruto de muita perseverança. E porque não dizê-lo de contumácia. A arte de versejar é servida por seres que têm existência no real e que trabalham arduamente para recriarem “permanentemente o mundo”, para o “servir pleno de harmonia em esplendorosas bandejas de oiro”.
Harmonia. Não sei quantas vezes a palavra é utilizada. E nem isso é agora importante. Quero, no entanto, que harmonia seja uma palavra-chave para interpretar uma parte significativa dos poemas não rimados do livro. E também magia e alegria.
As quadras pertencem a outro universo e têm o seu próprio sortilégio.

sábado, novembro 21, 2009

QUADRAS POPULARES

50
Oh, inolvidáveis anos
Da revolução de Abril!
As ruas sempre repletas
E iniciativas mil.

51
Em Santa Iria de Azóia,
Era na Sociedade,
Onde diariamente
Se exaltava a liberdade.

52
Que sessões de canto livre,
De teatro e poesia!
Oh, foram tempos de sonho,
De muito sonho e magia!

53
Era sempre casa Cheia
Com Graça, Paredes, Ary.
Foram tantos os artistas
Que passaram por ali.

54
Numa roda-viva andava
(Era tudo muito urgente).
Na minha linda Dyana,
Sentou o cu muita gente.

55
A linda Zita, senhores!,
Andou no meu carro novo;
Pra defender o divórcio,
Que as leis negavam ao povo.


56
O grande Miguel Urbano,
- Oh, que empolgante orador! -,
Sobre a América hispânica
Discorria com rigor.

TERRAS DO MUNDO

Vai uma queijadinha?
SINTRA SOLAR
Sintra de Byron



sexta-feira, novembro 20, 2009

TESTEMUNHO
Santa Iria de Azóia, 20 de Novembro de 2009 – Notícias de jornal trouxeram-me à memória o Dr. Artur Maurício, que foi lembrado, recentemente, no aniversário da sua morte. Antes ainda de ser Presidente do Tribunal Constitucional, dei por ele nos órgãos sociais do Benfica, facto que me deu muito contentamento.

Conheci o Dr. Artur Maurício ainda muito jovem, em Castelo Branco, onde foi procurador-adjunto, creio, e professor de Direito Comercial e de Noções de Comércio, na antiga Escola Industrial e Comercial de Castelo Branco. Era um Professor muito exigente, com quem não se tinham grandes notas, mas com quem se aprendia muito. Substituiu o Dr. Gonzaga Jerónimo.

Foi meu professor de Direito Comercial. Dele guardei, ao longo dos anos, as melhores recordações. Não sou a pessoa indicada para avaliar o seu trabalho; porém, creio que nunca terá perdido a inteligência, o rigor e a verticalidade. É de homens como Artur Maurício que Portugal precisa, no momento
que passa.

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 20 de Novembro de 2009 – É consabido que não gosto de Sócrates. Também não gosto de Cavaco Silva e de Pinto Monteiro. De Noronha do Nascimento nada direi, que o homem não tem o protagonismo dos restantes e a sua presença não é permanente. Não gosto, portanto, de três das figuras cimeiras do nosso Estado de direito, que, para ser mais contundente e certeiro, deveria chamar Estado da direita.

Três dos quatro senhores a que me referi, que representam os três célebres poderes em que o Estado democrático se deveria escorar, por uma questão de decoro, e até talvez de sanidade mental do país, deveriam abandonar os respectivos cargos. Estes actores não servem Portugal. Portugal merece outros actores na presidência, no governo e na justiça.

terça-feira, novembro 10, 2009

QUADRAS POPULARES



43
A justiça portuguesa,
Com minúsculas grafada,
É de classe, com certeza,
E p’la forma dominada.

44
Ninguém respeita a justiça,
Que respeito não merece.
É implacável com os fracos,
Mas aos fortes obedece.

45
A guerra agora travada,
Com o branco colarinho,
Serve só para saber
Quem mais manda no povinho.

46
Tudo isto me cheira a ‘sturro
E nada de bom augura.
A enxurrada vai passar,
Mas a luta vai ser dura.

47
Agora, é a face oculta,
Quando inda mexe o freeport.
Que é feito do BPN?
Ó Deus, ó gentes, ó sorte!

48
Eu não posso concordar
Com uma justiça assim.
Então é só no PS
Que há gente tão ruim?

49
Tudo, tudo investigado;
mas, nada de concessões,
Que os partidos todos têm
Gente séria e vilões.

domingo, novembro 08, 2009

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 7 de Novembro de 2009 – Mourão é uma pacata vila alentejana, também raiana, onde me desloco de quando em vez para umas comezainas típicas. Até agora, a iniciativa tem sido sempre do avô dos meus filhos, que assume o Alentejo como uma verdadeira pátria.

O repasto foi como sempre na Adega Velha, onde se pode deglutir uma sopa de cação, tão fumegante e deliciosa como a celebérrima canja de Tormes. Ali, só falta mesmo a rapariga de faces ruborizadas, que havia de seduzir o ex-inquilino do 202 dos Champs Elysées.
Realço também o cozido da panela, as azeitonas novas e o macio vinho da casa, que, conjuntamente com o tradicional coro residente, fazem do restaurante de Mourão um espaço único.



sexta-feira, novembro 06, 2009

DO MEU DIÁRIO
Santa Iria de Azóia, 6 de Novembro de 2009 – Confesso que tenho descurado este Diário, nos últimos tempos. Não que tenha diminuído o meu interesse por este tipo de escrita; mas, sobretudo, porque outras coisas se têm sobreposto. E como em tudo na vida, há que estabelecer prioridades.
Tem havido também alguma preguiça. Eu confesso sem quaisquer problemas que sou acometido de preguiça muitas vezes. Nestes últimos tempos, tenho-me entretido com a leitura de “blogues” e coisas afins e nem sequer tenho pegado, como de costume, naqueles livros que ando sempre a ler, tal como acontecia com o meu amigo António Pina, que conheci durante décadas a traduzir o Fausto.
Ao certo, nunca cheguei a saber o que aconteceu ao Tó Pina, que já conheci depois de ter vindo de Paris e que já era a pessoa que continuou a ser durante décadas. Esquecido e alheio de quase tudo e todos, creio que ainda foi professor no liceu Nuno Álvares Pereira, lá no castro alvo, onde passei a minha casta adolescência e o início da juventude.
Do Tó Pina guardo duas recordações muito gratas: um sumo de laranja que me ofereceu, em Penamacor, numa casa solarenga que a família tinha na terra natal de Ribeiro Sanches, e uns minutos de violino, tocado para mim, na sua casa da então Avenida Marechal Carmona.
E assim recomeço este Diário que, em certo sentido, é a minha dose quotidiana de anfetaminas.

quinta-feira, novembro 05, 2009

QUADRAS POPULARES

36
Diz o povo e com razão
Que a unidade faz a força.
E se assim for na verdade,
Haverá poder que o torça?

37
O comício foi a festa,
No brando país de Abril;
Que a custo, vai resistindo
À mentira torpe e vil.

38
Eu tenho muitas saudades
De Vasco, o General!
Qual doido, qual carapuça?
…Amou tanto Portugal…

39
No chamado Verão quente,
Quando Portugal ardia,
De comício em comício,
Vasco, altivo, resistia

40
Contra os cónegos da sé
Contra os tubarões do Norte,
Que espalhavam a mentira
O terror e até a morte.

41
Generoso, resistia
Aos ataques mais soezes.
Homem bom, nunca roubou
Portugal e os portugueses.

42
Às vezes, dá-me a saudade
Do Verão setenta e cinco.
Então, com fúria muita
Defendo Vasco c’o afinco.

terça-feira, novembro 03, 2009

QUADRAS POPULARES

29
O eucalipto seca tudo,
Nada medra em seu redor:
Apenas mais eucaliptos,
E nada mais de melhor.

30
Há poetas que eu conheço
Que são muito originais;
Mas, como em tudo na vida,
Uns são menos, outros mais.

31
Esta tão grande alegria
Faz-me bem ao coração.
Por me fazer tanto bem,
É de curta duração.

32
Esta tarde, em Sesimbra,
Que bonito estava o mar!
Sentei-me no paredão,
Fiquei horas a pensar.

33
Temos o Outono de volta.
Foi-se de vez o Verão.
Já há castanhas à venda,
Figos-secos prò serão.

34
A juljar o pobrezinho
A justiça é pressurosa;
Porém, quando julga o rico
É muito lenta e manhosa.

35
Já não falo dos políticos
E outros senhores do mando.
Ficam quase sempre impunes
Seja qual for o desmando.

CAMPO COM CAVALOS

SOBRAL DE MONTE AGRAÇO