terça-feira, junho 30, 2009

DO MEU DIÁRIO

Strasbourg, 27 de Junho de 2009 – A capital da Alsácia não é uma cidade barata. Como toda a França, de resto. E nas imediações da catedral, então, nem pensar. Come-se mal e caro. As especialidades locais são caríssimas, mesmo nos restaurantes de toalha de plástico ou de toalha nenhuma, porque na cidade há de tudo. Faça-se justiça à confecção de saladas, que, de um modo geral, são saborosas e muito variadas: alface de várias qualidades, rúcula, tomate, couve-roxa, lombardo, endívia, etc., com naquinhos de carne de porco, frango e vaca. E as incontáveis variedades de cerveja.

Quem não quiser ou não puder comer de faca e garfo poderá optar pelas grandes sandes, ou seja, as famosas “baguettes” recheadas de alface, milho, tomate e carnes. Até no McDonalds da Praça da Gare há uma quantidade apreciável de saladas. O que talvez queira dizer que a luta dos agricultores de há anos, que viraram de pantanas algumas destes célebres restaurantes importados da terra do tio Sam, terão valido a pena.

segunda-feira, junho 29, 2009

DO MEU DIÁRIO

Strasbourg, 26 de Junho de 2009 – Há muitos anos que não fazia viagens de comboio. Confesso que não tenho nada contra os comboios, mas é consabido que no nosso país o automóvel é rei. Pois bem, aproveitei para ir duas vezes a Colmar e uma à pitoresca vila de Obernai, utilizando o tró-fá-fá.
Eu sabia que os franceses utilizam muito o comboio, mas apesar desse conhecimento, fui surpreendido pelo movimento de comboios na Gare Central de Srasbourg, donde saem e onde chegam dezenas e dezenas, incluindo o nosso mal-amado TGV, e também pela quantidade de passageiros. Fossem os nossos PDG(s) menos pedantes e mais madrugadores e utilizariam o comboio para cumprirem religiosamente os horários. E não teriam o cansaço diário das “bichas”, no acesso a Lisboa.
Não ficaria bem comigo mesmo, se não deixasse aqui uma nota acerca das centenas de bicicletas que ficam diariamente à porta da Estação de Strasbourg. E também das centenas e centenas de ciclistas permanentemente em movimento na cidade. Estas notas servem apenas para realçar o bem que estas práticas fazem ao ambiente e a poupança que proporcionam aos franceses. A inteligência nota-se nas pequenas coisas.
Strasbourg, sede de diversas instituições europeias, possui também um eficaz “metro” de superfície. Utizei-o uma única vez para fazer o percurso “Droits de l’Homme”- “République e posso asseverar que a experiência foi compensadora. Era bom que entre nós pudessem ser implementadas experiências semelhantes. Das de Strasbourg podiam os nossos deputados europeus falar, porque sempre seria conversa mais produtiva do que a da contabilidade de quem apresenta mais requerimentos e projectos de resolução.
Strasbourg não é, decerto, o paraíso; mas é uma cidade exemplar em muitos aspectos. Ou será por acaso que a sua Universidade é, actualmente, a maior de França?
COLMAR
Colmar, 25 de Junho de 2009 – Colmar também é uma cidade plana. Por isso mesmo, não hesitei em fazer o caminho a pé, da estação da SNCF até ao centro da cidade, onde almocei com a Zélia e com o João Pedro, que já está roído de saudades. Ou eu me engano muito, ou este meu rebento querido tem muito a ver com o senhor meu pai, que em Fevereiro passado nos deixou. Parecem duros, mas têm um coração de manteiga.


Ao fundo da praça da estação, cujo nome não me ocorre agora (ou será mesmo Place de la Gare?), volta-se à esquerda. Caminha-se trezentos ou quatrocentos metros e entra-se no Champs de Mars, onde a cidade homenageia dois dos seus filhos mais ilustres: o almirante Bruat, que também é nome de rua, e Rapp, que terá sido o mais famoso general de Napoleão.


Champs de Mars também há em Paris. É aquela planura imensa que vai da Torre Eiffel à Academia Militar francesa e do lado oposto há uma extensão quase idêntica ao cimo da qual se ergue um conjunto magnífico que dá pelo nome de Trocadéro. Não era bem disto que eu queria falar. Verdadeiramente, eu queria apenas falar do carinho com que a França tratou sempre os seus herois e os seus mártires. Não conheço cidade francesa onde não haja uma lápide ou um memorial com os nomes das vítimas do invasor nazi. Alphonse Cherrier era o nome da rua onde eu morei em Sceaux, nos arredores de Paris. Um jovem francês que os alemães mataram naquela vindima de vidas que foi a 2ª Guerra Mundial.


Entre nós é mais comum dar o nome das ruas a políticos, de primeira e de segunda, que os há de primeira de segunda e de terceira, bem entendido. E ultimamente, lá se vão lembrando mais dos nossos artistas, facto que só por si já constitui um ganho. Dos generais que fizeram o 25 de Abril de 1974 não há nenhuma praça que exiba a estátua de um, pela razão comezinha de não ter havido generais comprometidos com o golpe que depois foi revolução.


Colmar – perdoe-se a Duhamel o exagero -, é na verdade uma cidade encantadora. No seu centro histórico, o viajante encontra a calma e a beleza, que, depois, hão-de ser exaltadas nas conversas com os amigos ou plasmadas com versos ou prosa. A catedral, que dá pelo nome de collégiale de Saint-Martin, é uma das catedrais góticas mais importantes da Alsácia. Em minha opinião, pela beleza rara dos vitrais. Foi construída ao longo de cento e trinta anos!


O João apareceu à hora combinada, junto ao edifício da FNAC e almoçámos na zona turística, com a qualidade que eu já mereço a caminho dos sessenta anos. E também o João, que tem algumas dificuldades em se adaptar à cozinha francesa. Especialidades alsacianas, bem entendido, mas com boa carne e as indispensáveis batatas fritas.

domingo, junho 28, 2009

DO MEU DIÁRIO

Srasbourg, 24 de Junho de 2009 – Começou hoje a época oficial de saldos de Verão, em toda a França. E o viajante só não é surpreendido, porque dispõe sempre de algum tempo para olhar as montras, no seu deambular pelas ruas.
Strasbourg é uma cidade plana, e, por conseguinte, pouco cansativa; porém – há sempre um porém nestas coisas-, o viajante é daqueles que se pela por andar a pé e gosta de apreender, nos sítios certos, os traços que marcam o carácter das cidades; e, por isso mesmo, qundo chega a hora de entregar o corpinho a Morfeu, nem tempo tem para fazer o sinal da cruz. Dorme então o sono profundo dos justos.
Georges Duhamel escreveu um dia que Colmar é a mais bela cidade do mundo. Dê-se a Duhamel o devido desconto para o patriotismo e diga-se que não andará muito longe da verdade. De facto, Colmar tem uma beleza ímpar. Mas compará-la a Veneza é um pouco abusivo. Se há cidade parecida com Veneza, essa cidade é Strasbourg: não só pelas voltas que o Reno dá dentro da cidade, mas também por ter muitas casas com paredes dentro de água. Mas deixemos as comparações por aqui.
O tempo tem estado muito instável: ora chove e está frio; ora faz sol e a temperatura é agradável. Mas o viajante não deixa, no entanto, de sentir saudades dos trinta e tal graus de Lisboa da pretérita semana. Também por isso não temos vastos campos de milho e de trigo e grandes manchas florestais. Estas mais do lado alemã, quando se vem de Frankfurt para Srasbourg. Contentemo-nos pois com o sol, os pés de murta e o rosmaninho de que nos falava Garrett. Sol na eira e chuva no nabal, como tão sabiamente diz o nosso povo, foi coisa que não nos calhou a nós.
Agora compreendo melhor a volta ao mundo de Xavier de Maistre.
É claro que entrei nas Galerias Lafayette, onde uma multidão procurava afanosamente a peça de vestuário, a mala ou os acessórios das diversas marcas. Os saldos aqui são para todas as marcas e para quase todos os produtos. Até os relógios com o nome dos costureiros famosos podem ser adquiridos a preços mais acessíveis.
Livros e muitos havia na rua Gutemberg, em segunda mão, que é uma das formas da cultura se mostrar na rua. E para curiosidade minha, peguei numa edição da Putain Respectueuse de Jean-Paul Sartre da Gallimard de 1946 e que era já, ó surpresa das surpresas!, a 18ª. Mas na rua Gutemberg, para que conste.
O almoço foi numa das ruas que partem das catedral em direcção ao rio, onde se podia ler por cima de uma das paredes: “Un jour sans vin, c’est une journée sans soleil”.

quinta-feira, junho 18, 2009

dezembro 15, 2005

VIVA O TRAIN GRANDE VITESSE

O novo aeroporto da OTA pode não ser absolutamente indispensável para já; porém, adiar para mais tarde o TGV seria um crime de lesa pátria. Adiar agora, seria adiar para as calendas gregas, para o dia de S. Nunca à tarde, para a semana das duas quintas-feiras. Adiar é proibido. Seja benvind o TGV!
Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz!!!!! Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz!!!!!!!
Portugal não necessita de consensos. Os consensos conduzem sempre à inacção. Os consensos são os grandes causadores do nosso atraso permanente em relação à Europa.Vivam todas as rupturas progressivas e produtivas. Às malvas os consensos! Abaixo os detractores do TGV!
ZZZZZZZZZZZZZZzzzzzzzzZZZZZZZZZZZzzzzzzzzZZZZZZZZZZZZZzzzzzzzz!!!!!!
Os grandes empreendimentos nunca são do agrado geral. E se nem os Descobrimentos mereceram o apoio unânimo dos portugueses. Por que carga d'água o TGV havia de merecer a unanimidade? Abaixo os Velhos do Restelo! Abaixo todos os Tonhos! Abaixo todos os belmiros! Viva o train grande vitesse!
Abaixo o trofafá-trofafá-trofafá!!! ZZZZZZZ!!!ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ!!!
VIVA O TGV!!!
Incondicionalmente com o TGV!!!

quarta-feira, junho 17, 2009

DO MEU DIÁRIO
Lisboa, 17 de Junho de 2009 – Quem tem correio electrónico corre o risco de receber “mails” aldrabões. Ontem recebi um que dizia que um senhor Dr., reputado economista, foi nomeado, aos 77 anos de idade, para administrador da EDP-Renováveis (?). E mais dizia que o senhor Dr. saiu do Montepio Geral com uma indemnização de 400 000 euros e que aufere uma reforma choruda do venerando Banco de Portugal.

Eu sei que o prudente, sábio e recatado senhor Dr. está a ser vilipendiado por mesquinhos invejosos, que não lhe perdoam a coragem com que tem defendido medidas de austeridade e salários baixos para os seus concidadãos, como forma de garantir a perenidade da pátria.

Eu sei ainda que, havendo jovens economistas talentosos, o estimável senhor Dr. jamais aceitaria ocupar, com a sua provecta idade – porque se calhar até já tem bisnetos -, uma vaga ou um cargo que pode ser ocupado com dinamismo e igual competência por um rapaz com menos quarenta anos.

Eu não acredito no teor do tal “mail”, que, provavelmente, só quer lançar o fel dos portugueses sobre um tão ilustre cidadão.

Não. Eu não acredito!

segunda-feira, junho 15, 2009

DO MEU DIÁRIO
Santa Iria de Azóia, 15 de Junho de 2009 – Tenho evitado a Almirante Reis, porque tenho receio de ver por ali, de prato na mão, andrajosamente vestido e com barba de três dias, o dr. Dias Loureiro, que os jornais dizem sem cheta. É que passar pela Sopa dos Pobres e ter de reparar naquela gentinha pobretanas, confesso que não é espectáculo agradável.

Quando o homem era ministro, e até porque também fazia versos, nem desgostava da pessoa, apesar de politicamente me situar nos antípodas do ex-ministro das polícias do senhor Professor; porém, agora que o descobri mentiroso, não o quer ver à minha frente, como já o vi há muitos anos na Campo do Alverca, em dia de jogo com a Briosa. Se ele fosse apenas e só um “fingidor”, outro galo cantaria.

Já tenho a minha dose de grotesco e desgosto. Aquela cena terrível de Oliveira e Costa a mordiscar a sandocha no Parlamento, ultrapassa a minha mentalidade de beirão arreigado a determinados princípios. A comédia à portuguesa merece melhores números.

quarta-feira, junho 10, 2009

ONTEM COMO HOJE

No mais, Musa, no mais; que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida;
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e ensurdecida.
O favor com que mais se acende o engenho,
Não no dá a Pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Dua austera, apagada e vil tristeza.

Camões, Os Lusíadas, Est. CXLVI, Canto X.

terça-feira, junho 09, 2009

DO MEU DIÁRIO

SANTA IRIA DE AZÓIA, 8 de Junho de 2009 – Em Itália, o partido de Berlusconi ganhou as eleições. E por isso mesmo, aqui deixo uma pergunta impertinente: a Itália será aquele país que todos gostaríamos que fosse ou é o país da “cosa nostra” e de outras coisas, que, por pudor, omito?

Não, A Itália de hoje não é o país da música de Verdi. E provavelmente nunca o terá sido. A bela Itália, em termos políticos e sociais, provavelmente, nunca foi tão bela quanto isso. E por isso é um corpo putrefacto pejado de berlusconis e quejandos.
Em relação a Itália, tomámos o desejo pela realidade e esse é que é o drama.

domingo, junho 07, 2009

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 7 de Junho de 2009Saramago acertou em cheio: Berlusconi, que personifica o burlão na política, é uma "doença" que está a contaminar a Itália e a ameaçar o mundo.

Se o “vírus” persistir na sociedade italiana, corre-se o risco de ver a “coisa” a infectar outros países e outros povos. Num tempo em que tanto se fala de vírus de gripes e de pandemias, num tempo em que os media tanto espaço dão a pequenos dramas, deveriam mobilizar-se contra este pantomineiro que da cultura tem apenas a visão estrita do dinheiro.
A Itália não merece esta “coisa”, ou seja, este burlão sem escrúpulos que deveria estar atrás das grades.

quinta-feira, junho 04, 2009

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 1 de Junho de 2009Quer-me parecer, que, definitivamente, a caixa de Pandora foi escancarada. O CENTRÃO vai ardendo em lume brando. Já nem o PR escapa.
Portugal está a ficar demasiado perigoso.

PS – As imagens de Oliveira e costa a manducar a sandocha, no Parlamento, pareceram-me tão grotescas, apesar do homem estar bem esticadinho dentro do fatinho feito por medida, como a do coronel Aureliano Buendia a devorar um porco (personagem de
Cem Anos de Solidão de GGM). Èpouvantable!