sábado, fevereiro 27, 2010

4 QUADRAS


Na portuguesa Madeira
Rompeu-se o céu de repente.
E foi tanta, tanta a chuva,
Que desgraçou toda a gente.


Ó inclemente Natureza,
Porque castigaste assim
Aquela ilha tão formosa
Governada por Jardim?!

Ó indomável Natureza!
Não firas desta maneira,
Em ocasiões futuras,
O bom povo da Madeira!

Faz abanar o Jardim,
Malcriado e prepotente,
Que até nas horas difíceis,
Continua pesporrente.

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 25 de Fevereiro de 2010 – O Pepe – um dos nossos gatos -, esteve três dias desaparecida, contribuindo para um imenso mal-estar cá em casa, onde é tratado como um pequeno príncipe. Reapareceu sem quaisquer mazelas e com o pêlo lustroso, factos que indiciam que terá sido bem tratado lá por onde andou.

Regressou esta manhã para grande gáudio da Filipa, que sempre se assumiu como a sua dona. Ambos se querem muito bem, a Filipa e o Pepe, ou melhor dizendo, mestre Pepe, que com ela preparou o mestrado em Literatura Portuguesa. É um gato altamente preparado e que bem merece ser reconhecido, dentro e fora de casa, não só pelos dotes já evidenciados; mas, também, por tudo o que ainda poderá vir a fazer. “Casos futuros” dos quais vos hei-de dar notícias.

D. Pepe regressou e cá em casa é a notícia do dia. Bem mais importante que o caso”face oculta” e os testemunhos dos directores de jornais. Sim, porque D. Pepe regressou e não nos veio contar mentiras e/ ou meias-verdades. E trouxe, ao terceiro dia, alegria à nossa casa!

sexta-feira, fevereiro 19, 2010


CANTIGA DO COITADO

Em Vigo
Perguntei às ondas:
- Sabeis Novas da minha amiga?
E as ondas me responderam:
- Um novo amigo tem!


Em Pontevedra
Perguntei aos barcos:
- Sabeis novas da minha amiga?
E os barcos me responderam:
- Um novo amigo tem!


Em Santiago
A Santiago perguntei:
-Sabeis novas da minha amiga?
E Santiago me respondeu:
- Um novo amigo tem!

domingo, fevereiro 14, 2010

3 QUADRAS

Vão as horas, vão os dias,
No seu constante fluir;
Mesmo as poucas alegrias
Me visitam a fugir.

Sob a ponte passa a água
a caminho do vasto mar.
Só em mim, teimosa, a mágoa
não tem pressa de passar.

Velozes correm os anos;
Pra onde, não sei ao certo;
só ficam os desenganos
e as marcas do desconcerto.

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 14 de Fevereiro de 2010 – Hoje, dizem, é dia de S. Valentim e dos namorados. Tornou-se um pretexto para as pessoas se oferecerem presentes e para o comércio fazer uns trocos. Curiosamente, ou não, as flores estavam hoje mais caras do que nos dias anteriores. Ah, estas datas festivas!

Ontem, assisti a um programa de televisão da SIC-Notícias chamado “Plano Inclinado”, supostamente moderado por esse supra-sumo do jornalismo que é Mário Crespo. Sim, esse que escreveu a crónica intitulada “O Palhaço” e outros textos idênticos, que têm feito furor na “blogosfera”. E que se tem constituído como um dos adversários mais poderosos de José Sócrates.

No aranzel participaram ainda Nuno Crato, Carreira e Salgueiro. E a ocidente não houve nada de novo, ou seja, as supostas novidades começam a cheirar a mofo, tal como a mofo devem já cheirar os gráficos para “donas de casa” de Carreira. Carreira arroga-se o direito de chamar ignorantes aos demais comentadores que pululam por aí e vai debitando o seu discurso, sempre o mesmo, que no fundo é uma variedade do discurso da tanga.

Salgueiro, que já foi ministro das finanças, vem agora dizer que foi destruído o sistema produtivo nacional e tal, como se tivesse descoberto a pólvora e não tivesse, bem como os seus amigos políticos, culpas no cartório. Quem é que geriu os grandes fluxos de dinheiros comunitários para modernizar a agricultura portuguesa? Quem?

E aproveitaram também para dizer mal da ASAE, que terá sido excessiva muitas vezes, mas que contribuiu para que hoje os portugueses possam ter mais garantias de higiene e limpeza nos estabelecimentos de restauração. Como teria sido bonito que os senhores tivessem dito esta coisa comezinha!

sábado, fevereiro 06, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 6 de Fevereiro de 2010 – A situação do país é grave, passe o cliché. E não é de agora que a situação é grave. É grave há vários séculos, porque quase sempre fomos governados por gente sem grandeza.

Dizer-se que Portugal é um país pobre é dizer uma meia verdade. Não temos, obviamente, os recursos de Angola ou do Brasil. Não teremos, tão-pouco, tantos recursos como a nossa vizinha Espanha. Mas vistas bem as coisas, creio que o nosso défice maior é de imaginação.

O caso de Israel é paradigmático (declaro desde já que não tenho qualquer simpatia pelo Estado sionista). Fundado em 1948, numa região muito mais pobre do que Portugal, sobrevive sem grandes dificuldades, porque tem sabido conjugar os esforços e aproveitar os escassos recursos de que dispõe.

O problema de Portugal radica na indigência mental das suas elites e no carácter abutre dos seus maiores empresários. O problema de Portugal é o nosso desamor.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

EM JEITO DE HOMENAGEM

FAZ HOJE UM ANO QUE NOS DEIXOU
Conheço um homem, a quem nunca tive e amabilidade de dedicar uma linha de humilde prosa, e que merece todo o respeito do mundo. Com sete anos, quando deveria aprender as primeiras letras e a tabuada, já calcorreava, descalço, caminhos e veredas, fragas inóspitas, atrás de um rebanho.
Sempre o ouvi dizer - e minha avó confirmava –, que o primeiro patrão lhe fizera as primeiras botas.
Porém, não estava talhado para a bucólica profissão de guardador de rebanhos, para tanta solidão. Analfabeto, já com dezoito anos, comprou uma pasteleira e fez-se aprendiz de construtor de casas. Pedra a pedra, tijolo a tijolo, ajudou a construir centenas de lares, ganhando a vida e espalhando conforto.
Nunca deixou, apesar das inúmeras voltas que a sua vida deu, que em sua alma morresse o amor pela Natureza. Teimoso, continua a trabalhar a terra, que já fora de seus avós, arrancando-lhe saborosos frutos.
Penso que não deve nada à pátria e que a pátria nada lhe deve. Pertence a um género de portugueses que ama e sempre amou Portugal sem condições.
In FRAGMENTOS COM POESIA, de Manuel Barata, Ulmeiro, 2005.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

ALENTEJO


Indolentes são as casas;
indolentes são as árvores;
indolentes são as gentes.


Indolentes são os tempos;
indolentes são as feridas;
indolentes são os ventos.


Indolentes são...
(Oh, descoberta das descobertas!)
todos os actos de criação.