sexta-feira, junho 30, 2006

MEU PORTUGALETO

Perdidas as colónias, Portugal ficou um país pequeno. Mesmo contando com as adjacências da Madeira e dos Açores. E a prova de que o rectângulo é pequeno e a sua população escassa, se outras provas não existissem, é-nos dada pela presença de meia dúzia de artistas em tudo o que é espaço lúdico, artístico, cultural, político, etc. Sendo o espaço pequeno e a população escassa, é obvio que não há talentos.

Sendo poucos os talentos como já se disse e repete para que se não esqueça, há que agarrá-los e espremê-los, para que o bom povo não fique privado da sua erudição. Nesta linha se insere a presença de Rebelo de Sousa como comentador de futebol, neste tempo de mundial. Mas há outras presenças, igualmente cativantes e eruditas, que habitam na pantalha: António Vitorino de Almeida, Simone de Oliveira e mais uns quantos.

Eu não tenho nada contra aquelas pessoas. Acho apenas que a sua presença torna o país monótono. Não haverá por aí outros portugueses, mesmo menos eruditos e de verbo mais perro, que nos possam educar e entreter? Repito: eu não tenho nada contra aquelas pessoas e outras cujos nomes não me ocorrem agora. São portugueses de muita qualidade e muito estimáveis, mas fazem este país repetitivo e descolorido.

Eu sei que as intenções são boas e que tudo é feito para nosso bem.

Amén.

quinta-feira, junho 29, 2006

ASSIM TAMBÉM EU!

Escrevi várias vezes que o meu pai e os meus avós amaram Portugal, sem nunca terem recebido nada em troca. Porque nunca receberam nada em troca, o seu amor era verdadeiro e desinteressado. Nunca sentiram necessidade de, em alta vozearia, dizerem do seu amor por Portugal.
Eram outros os tempos. Eram outras as mentalidades. Tinha-se do amor à pátria uma outra concepção. Nos tempos que correm, são poucos os que se preocupam verdadeiramente com a pátria. Fala-se abundantemente de Portugal - e alguns até parecem grávidos de Portugal, como um actual menbro do Governo disse há anos de outro membro do Governo, com muita graça-, mas o país tem para essas pessoas uma função meramente instrumental. Proclamam alto e bom som o seu amor à pátria, mas sugam-lhe as tetas até sangrar. A pátria é para essa gente uma espécie de vaca leiteira. Têm reformas milionárias, benefícios de toda a ordem, ordenados chorudos e muita riqueza acumulada. Nada devem à pátria e a pátria é sempre sua devedora.
Ontem, durante a hora da refeição, fiquei a saber que há um português, que apenas singrou na política, que aos cinquenta anos já é reformado, que vai ser novamente deputado e que foi nomeado como assessor da Caixa Geral de Depósitos. Num país com tanto desempregado - passe o populismo -, não se poderia arranjar tacho para dois ou três jovens, em princípio de vida e com mais necessidades? Que segredos se enterram com estas assessorias? Que silêncios se compram com certas nomeações?
Pobre pátria, a minha!
Assim, também eu!...

domingo, junho 25, 2006

AINDA OS PROFESSORES

Concordo inteiramente com o meu amigo José Ribeiro, quando afirma que as corporações defendem os seus e que há professores assim e assado. De resto, com a provecta idade que vamos tendo, ambos conhecemos ao longo da vida professores excepcionais, outros assim-assim e outros ainda que não mereceriam sequer a denominação.
O que me dói não é o facto da corporação poder funcionar bem. Dói-me, verdadeiramente, o facto da corporação não ter capacidade de auto-crítica e de não intervir para corrigir e melhorar o sistema. Eu gostava que a Escola Pública fosse capaz de dialogar construtivamente com a totalidade da comunidade escolar, porque há vivências, saberes e experiências, que poderiam contribuir para melhorar o nosso nível de ensino.
A minha amiga Lucília Mendes mandou-me por correio electrónico um documento espantoso, no qual se defendem - e muito bem-, os professores. Eu estou de acordo e até assino de cruz. Conheço a especificidade da matéria e revejo-me no documento. Porém, o meu problema é outro. Uma quantidade apreciável de professores não faz aquilo que o documento diz que os professores fazem. Se assim fosse, a nossa Escola Pública seria excelente e ambos sabemos que a realidade é bem diferente.
Verdadeiramente, eu apenas queria que a Escola Pública fosse um modelo de virtudes democráticas e de cidadania, o que está longe, muito longe de se verificar. O saber é muitas vezes arrogante e totalitário!

domingo, junho 18, 2006

AVALIAÇÃO DOS PROFESSOES II

Os professores são muito ciosos do seu trabalho e da sua competência. De um modo geral fazem de si próprios um juízo muito positivo e quando se fala de insucesso, a culpa é sempre de quem dirige, na 5 de Outubro. E também dos alunos e da restante comunidade escolar.
Se um pai ousar falar com o psicólogo e chamar a atenção para determinados comportamentos de docentes, o psicólogo dirá imediatamente que fulano e sicrano é bom professor e que desconhece o que se faz nas salas de aulas. Se o mesmo pai for falar com o director de turma e levar os mesmos problemas, aquele dir-lhe-á que vai falar com o colega, mas que tem notícia de que é uma pessoa irreprensível e tecnicamente competente. É a corporação a funcionar no seu melhor e isto não é caricatura.
Na escola pública, os professores tendem a privilegiar os alunos mais dotados. O professor de Matemática gosta dos melhores alunos, o professor de Português gosta dos melhores alunos e o Educação Visual gosta dos melhores alunos. Dir-se-á que tudo isto é normal. Porém, eu argumento com uma tirada do meu mestre Saint-Exupéry: o verdadeiro homem deve confrontar-se com as situações mais difíceis. Trabalhar com os melhores é uma concessão à facilidade.
A avaliação contínua é e foi sempre uma "treta". Aluno esforçado, mas com duas negativas nos testes, nunca tem nota positiva. Talvez a Educação Física e a Religião e Moral, onde os alunos de nota quatro e cinco a muitas disciplinas, para não destoarem, acabam também por terem nota quatro e cinco. É a unanimidade da corporação.
Os pais intervenientes são mal vistos e os seus educandos prejudicados. Mesmo que não vão à Escola para defenderem os filhos. Quem ousar pôr em causa a sapiência e os métodos de determinados professores, vai ter a corporação contra si. Sei do que falo, porque sou pai e conheço bem a corporação. Por isso mesmo, sei que é uma ousadia glosar este tema. Não uma epopeia, obviamente.
Quem pensar que os professores são todos pessoas moralmente irrepreensíveis, está enganado. Têm todos os defeitos e virtudes dos restantes cidadãos. Por isso mesmo, devem ser classificados e avaliados com base em critérios utilizados para outras categorias profissionais.
Inculindo a Professora Bonifácio e o sempre contundente e sabe-tudo Vasco Pulido Valente.

sexta-feira, junho 16, 2006

COM MÁGOA

Mário Ventura Henriques, jornalista e escritor talentoso, morreu hoje com setenta anos de idade. Homem das palavras, e também homem de palavra, fico com a ideia de que as usava com muita parcimónia. Diria até que passou pela vida de forma discreta, se se atender às múltiplas actividades e cargos que exerceu.
Lembro-me dos tempos que se seguiram ao 25 de Abril e de ver o Mário Ventura Henriques, sempre empenhado nas transformações revolucionárias, a participar em sessões de esclerecimento e em actividades da sua estrutura profissional. Suponho que era um homem respeitado pela inteireza de carácter e pela forma como se dava aos outros.
Li com muito interesse o seu romance A VIDA E MORTE DOS SANTIAGO, que fui recomendando aos meus amigos e conhecidos. Não me lembro de ter lido textos críticos sobre o livro. Advinho para amanhã, à boa maneira portuguesa, os choradinhos e os elogios do costume. Amanhã como sempre.
Mário Ventura Henriques, através dos livros que nos deixou e dos exemplos de cidadania que nos deu, vai continuar vivo na memória de muitos portugueses.

quarta-feira, junho 14, 2006

LEITURAS OBRIGATÓRIAS

Li há momentos o artigo de opinião de Vasco da Graça Moura, publicado na edição de hoje do "Diário de Notícias" e confesso, sem quaisquer constrangimentos, que gostei do texto. Não porque me esteja a tornar num cavaquista ou coisa parecida, mas porque as ideias são interessantes e merecem ser discutidas.
Concordo que haja livros de leitura obrigatória, a partir do quinto ano de escolaridade. Livros adequados à idade dos estudantes e que versem temáticas suficientemente modernas e apelativas. Necessariamente (eu sei que é óbvio) em português, ainda que se possa recorrer às traduções.
A quantidade não será o mais importante. Porém, dos mesmos seriam feitos testes de verificação de leitura que contariam para a classificação final da disciplina de Português, em cada ano.
Percebo que VGM fale da Odisseia e de Frederico Lourenço, d'Os Lusíadas e de Amélia Pinto Pais, num programa mais vasto e que implicasse a televisão. E porque não a Divina Comédia e Vasco da Graça Moura?
Trazer os clássicos à colação, nestes tempos que correm, dominados por outros chamamentos, poder-se-á revelar contraproducente. O Professor Saraiva, apesar dos seus dotes de comunicador, não conta entre os seus ouvintes os jovens de Portugal. Outros terão de ser os meios e os veículos de sedução. E é aqui que está o nó, no que à televisão diz respeito.
Como o óptimo é inimigo do bom, comece-se pela obriagatoriedade a partir do quinto ano de escolaridade. Três ou quatro livros por ano. A cruz é grande, mas o objectivo é nobre!

sábado, junho 10, 2006

DUAS NOTAS

O Presidente da República agraciou com a Ordem da Liberdade o cidadão Óscar Lopes, neste dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. É gesto largo que merece ser saudado. Poucos portugueses se poderão igualar a Óscar Lopes. É o ensaísta mais proficuo de toda a História da Literatura portuguesa; quiçá um dos homens mais sábios do seu tempo; o que ficou e lutou sempre, denodadamente, pela liberdade do seu povo.
Cavaco Silva, que há anos confessava que não sabia quantos cantos tinham Os Lusíadas, ontem, provavelmente aconselhado por sua mulher, lembrou que José Gomes Ferreira tinha nascido no Porto, na Rua das Musas, em 9 de Junho. Em 9 de Junho de 1900. Atravessou quase todo o séc. XX. Escreveu vários volumes de poesia, muita prosa narrativa e crónicas. Foi um dos poetas mais amados do seu tempo. Foi um poeta da liberdade.
Para quem teria um défice cultural, registe-se a atitude do Presidente.

quinta-feira, junho 01, 2006

AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES I

Na minha humilde opinião de ex-professor do ensino privado nocturno, a intervenção dos pais na avaliação dos professores faz todo o sentido. Oxalá a Ministra não vacile, que esta poderá ser uma medida capaz de mexer com o "deixa andar" das nossas escolas.
Esta minha posição poder-me-á custar caro, porque a sei ao arrepio do que pensa a poderosa corporação; porém, ficaria a mal com a minha consciência, se não exprimisse a minha opinião frontal e sincera. Felizmente não pertenço ao grupo - nem quero pertencer-, daqueles a quem uma arrogante professora Bonifácio apelidou de analfabetos ou coisa parecida, num recente debate televisivo.
Nas nossas escolas, os professores têm sempre razão. E o problema não é de hoje. Herdá-mo-lo do Estado Novo e parece que há forças poderosas dispostas a manter a situação. Têm sempre razão em matéria disciplinar, têm sempre razão em matéria científica, didáctica e pedagógica, têm sempre razão em matéria de avaliação de conhecimentos. Este ter sempre razão é simplesmente arrogância pura. Nas nossas escolas, na verdade, pontifica a arrogância e a prepotência. E daí a lindeza de resultados, nomeadamente na Escola Pública.
A defesa da Escola Pública, onde sempre estudei e estudam os meus filhos, passa por uma intervenção efectiva de todos os elementos que constituem a denominada comunidade escolar. E deve partir-se do princípio que o elemento principal e a razão de ser da própria escola é o aluno. Se entretanto se coloca o enfoque da problemática escolar no professor e as culpas são atribuídas aos pais e aos alunos, o que se pode dizer, no mínimo, é que há sempre uma desresponsabilização dos mesmos.