sexta-feira, maio 26, 2006

INCLUSÃO

No discurso proferido no dia 25 de Abril, na Assembleia da República, o Presidente Cavaco Silva elegeu a inclusão social como tema central dessa sua comunicação aos deputados e ao país.
Alguns dos papagaios do costume, habituados a olhar o Presidente apenas como economista, não valorizaram suficientemente o tema eleito. E muitos houve até que se preocuparam mais com a questão do cravo na lapela, que com a questão substantiva da dicotomia inclusão/exclusão.
Sabe-se hoje que o Presidente, que quer ser consequente com o seu discurso do 25 de Abril, vao visitar concelhos deprimidos do Algarve, Alentejo e Beira Baixa. Em Vila Velha de Ródão, reunirá com autarcas dos distritos de Castelo Branco e Portalegre.
Sabe-se que o Presidente não tem poder executivo. Porém, o facto de visitar concelhos como Castro Marim, Nisa e Vila Velha de Ródão, vai certamente obrigar os media a falarem sobre a desertificação paisagística e humana e os problemas das populações do interior mais interior.
Não votei em Cavaco Silva e não tenho por ele nenhuma simpatia especial. Parece-me, todavia, que é da mais elementar justiça saudar a iniciativa presidencial. Os nossos concidadãos do interior merecem o nosso olhar atento e a nossa solidariedade. É preciso que se passe das palavras aos actos. E a iniciativa presidencial poderá ser a grande pedrada no charco.
Os portugueses do interior não devem ser olhados como uma espécie em vias de extinção. E dever-se-á assumir que a excessiva litoralização de Portugal é hoje a sua doença mais grave.

sexta-feira, maio 19, 2006

AO CONTRÁRIO DE BORGES

Ao contrário de Borges, cedo dissipei as minhas dúvidas. Não haverá "ciclo segundo". E mesmo as cidades, quando as sabemos dos escombros erguidas, ainda que ocupem o mesmo espaço, nunca são as mesmas.
Um dia, não quando a luz deixar de ser visita dos meus olhos, mas sim quando a máquina que bate dentro do meu peito refractária se tornar ao seu incessante trabalho, ao crepúsculo terei chegado.
Não haverá "ciclo segundo".
O que já foi, nunca mais voltará a ser.

sábado, maio 13, 2006

PARIR EM CASA

Vistas as coisas com frieza, parir nas maternidades é um luxo perfeitamente dispensável. No meu caso pessoal, ainda que não me lembre, nasci em casa e a parteira foi a minha avó paterna. E cá estou, não rijo e forte como um pero, mas com vontade de inetrvir e, se possível, ajudar a formar opinião acerca deste e de outros assuntos. Sempre numa óptica progressista e humanista.
Os direitos sociais dos cidadãos - os ainda existentes-, estão ameaçados, porque o mundo mudou, dizem, e é preciso proceder às convenientes adaptações. A economia é global, lembram-nos quotidianamente, e é preciso competitividade. O que, trocado por miúdos quer dizer que é preciso trabalhar cada dia mais e de preferência com piores salários e menos direitos sociais. Perceberam?
O encerramento das maternidades é uma parcelinha do todo. Há que racionar -não, não é racionalizar-, os custos, à custa do bem-estar e da segurança das parturientes, porque os 6,83 de 2004 terão de ser menos de 3, em 2009. E depois, de um momento para o outro, os próceres do regime desataram a querer reduzir o peso do Estado e a despesa pública a todo o vapor, mesmo que a taxa do desemprego se escreva com dois dígitos.
Sabendo nós quão capaz é a sociedade civil portuguesa, que tem chupado a teta do Estado até onde pode e amealhado ou delapidado a mais valia da exploração, estamos conversados. Dentro de cinquenta anos continuaremos na cauda da Europa, já atrás da Roménia e daBulgária, ainda que o simples facto de o mundo ser mundo, permita alguns avanços no domínio do bem-estar humano.
Voltando ao princípio, porque os excursos são sempre perigosos, quero aqui lembrar que parir em casa é a melhor solução, porque filhos e mães podem ficar tranquilamente em casa, sem os incómodos de ambientes estranhos e de perigosas correntes de ar. E rodeados da simpatia e do carinho de toda a família.

sexta-feira, maio 12, 2006

A FEBRE

Dir-se-ia que as chamadas democracias caminham, dia após dia, no sentido do esmagamento das liberdades direitos e garantias dos cidadãos. A pretexto da segurança colectiva e para se precaverem de aventuras totalitárias. Dentro de poucos anos, não conseguiremos dar um passo sem a presença discreta de uma câmara, sem o olhar invisível e omnipresente de um satélite. É a febre securitária.
Pelo rumo que as coisas levam, começo a acreditar que caminhamos efectivamente para o fim da história. Doravante, tanta é a vigilância e a sua qualidade, que ninguèm poderá ter a veleidade de um "putch", mesmo quando os governantes se mostrem incompetentes e intoleráveis. O mundo dito democrático está a perder atractivos
Aos Gueterres sucedem os Barroso, aos Barroso sucedem os Santana e aos Santana sucedem os Sócrates, mesmo que as legislaturas não sejam acabadas. Sai-se e entra-se no pântano ou entra-se e sai-se do pântano, que o diabo venha e escolha, que a sorte do povoléu parece estar traçada desde o princípio do mundo: criar mais-valia para encher a pança de meia dúzia de comandantes da economia e da finança. Mais aos fazedores de leis de serviço, que nunca se cansam de meter o bedelho na vida dos cidadãos. Mais aos executantes das leis que os fazedores parece que fazem, mas não fazem, porque quem faz são os os pançudos que mandam na economia e na finança.
Aposto que um dia dá-lhes na gana e por decreto vão-nos proibir o direito ao suícídio!