quinta-feira, fevereiro 26, 2009

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 26 de Fevereiro de 2009 – O Estado português, que é normalmente muito pressuroso a salvar bancos e banqueiros, deu agora um ar da sua graça e adquiriu um quadro que andou desaparecido, “A Súplica de Inês de Castro”, da autoria do pintor Vieira Portuense, e que acompanhou a família real portuguesa, quando deu às de vila Diogo para o Brasil, ameaçada pelo invasor francês.

A coisa ainda terá estado complicada, porque o Estado, quando toca a artefactos culturais, ainda é mais preguiçoso e patinhas do que habitualmente. De qualquer modo, o negócio fez-se e o Museu Nacional de Arte Antiga vai ter uma obra de arte preciosa, que representa um dos mitos mais produtivos da lusitana cultura e com base na própria História.

Quem vai ficar contente é a pintora, coreógrafa, bailarina, poetisa e grande impulsionadora do mito inesiano, de seu nome Lídia Martinez, que os atribuidores de prémios vão ignorando, porque não frequenta a corte portuguesa e não compartilha, obviamente, dos seus naturais mexericos.

Reconheça-se, neste caso concreto, a boa actuação do ministro Pinto Ribeiro e do governo a que pertence.



terça-feira, fevereiro 24, 2009

DO MEU DIÁRIO

AINDA O CARNAVAL
Sesimbra, 24 de Fevereiro de 2009 – Dir-se-ia que pela boca morre o peixe, mas não! Desci a Sesimbra para deixar o João e a Vanessa. E já ontem à noite tínhamos ido jantar à Toca do Leão e não resistimos a uma ida à Marginal sesimbrense, que, para mim, compreende a Avenida 25 de Abril e a Avenida dos Náufragos.

Às dez da noite ainda não havia multidão, mas já havia magotes de foliões, preparados para se divertirem pela madrugada fora. Rapazes e raparigas travestidos disto e daquilo, muitos palhaços. Parecia haver por ali um genuíno espírito carnavalesco, que contrasta com o desfile do corço, que, com uma ou outra variante local, é a reprodução do déjà vu de outras paragens. Adivinha-se, no entanto, que a noite também há-de ser de alguns excessos, que hão-de fazer jus à Quadra.

Entrei na Papelaria da Av. Da Liberdade, onde costumo adquirir algumas publicações e ver os títulos de todas. Fui surpreendido com os comentários da empregada, através dos quais fiquei a saber que tinha ávido desacatos durante a manhã, com intervenção amiga da PSP. Queixava-se a genuína sesimbrense, e a meu ver com razão, que os de fora que têm aqui segunda habitação fazem queixas do barulho e dos excessos de alguns dos foliões. E que nestes dias deviam permanecer nas suas residências habituais, já que querem sossego.

Nem sempre alinho com a vox populi, porém, neste caso concreto, tenho de ser solidário com os populares e as suas tradições mais genuínas. Com uma ressalva: desde que os intervenientes nesta festa de Praça Pública não se abeirem de ou pratiquem actos criminosos.




domingo, fevereiro 22, 2009

UM SONETO PORTUGUÊS


Nuno foi o braço e a mente
Que Portugal defendeu
Da castelhana gente.
Títulos e riquezas recebeu
De seu amigo João de Avis,
Cujo arnês envergou
Quando Leonor, mãe de Beatriz,
Cavaleiro o armou.
Destemido herói medieval,
Escolheu o caminho certo
E terçou armas por Portugal.
Ilustre patrono da infantaria,
Nuno foi o grande arquitecto
Da lusitana soberania.


PERGUNTA TALVEZ IMPERTINENTE

Pedro Passos Coelho terá lido L' Être et le Néant de Sartre, em portugês ou em francês?

DO MEU DIÁRIO

CARNAVAL
Cotovia, 22 de Fevereiro de 2009 – Na minha infância e adolescência, o Carnaval era um tempo de muita alegria e licenciosidade. Começava logo a seguir aos Reis e terminava no dia de Carnaval propriamente dito. Precedia o tempo soturno da Quaresma, de procissões dos passos e de cânticos nocturnos de encomenda das almas.

Na Mata - a minha aldeia natal -, realizavam-se muitos bailaricos, durante a quadra carnavalesca e aproveitava-se o espaço para se fazerem os “entrudos”, que, para todos os efeitos, eram representações dramáticas, através das quais se satirizavam acontecimentos locais, pondo em destaque os seus aspectos mais grotescos. Participei em muitas destas representações, que eram ensaiadas na hora e que exigiam apenas algumas roupas mais andrajosas, de mulher para os homens e de homem para as mulheres, e os utensílios que tinham a ver com os conteúdos dramáticos.

No dia de Carnaval, logo ao nascer do sol, começava a operação da “fusca” e que consistia em fazer uma cruz na testa das raparigas solteiras, com graxa ou com massa de lubrificação dos carros de bois e umas mãos cheias de farinha em cima. As raparigas escondiam-se, mas os rapazes procuravam-nas nas casas dos pais e de outros familiares, onde se escondiam para dificultar a operação, que só terminava, às vezes, já no próprio baile, porque havia sempre uma ou outra rapariga mais resistente. Não me recordo de nenhum desacato digno de nota ocorrido durante os carnavais da Mata.

Havia ainda uma outra prática que merece ser aqui registada: “deitar caqueiradas”. Consistia em abrir uma porta – as portas até ao deitar estavam sempre no trinco – e deitar uma bota velha, uma lata ou outro traste qualquer para dentro de uma casa, que, sendo de cimento ou de xisto o chão, produziam muito barulho. As vítimas vinham às portas protestar e os cachopos já longe riam a bandeiras despregadas.

Era este Carnaval, ou Entrudo, licencioso, mais próximo na prática e no espírito do primitivo, que tive o privilégio de viver em criança. Hoje a coisa está demasiado fina para o meu gosto. E por isso, nem me dou ao trabalho de descer a Sesimbra nestes dias.

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

sábado, fevereiro 14, 2009

NÃO ESPEREMOS MAIS


Não esperemos mais,
Amor,
Que os nossos lábios
E os nossos dedos
Já nos deram
Os necessários sinais.

Façamos tudo de novo.
Mais uma vez
E outra ainda,
Com a serenidade dos sábios.

Não esperemos mais.
TALVEZ

Talvez um beijo,
Amor,
E outro
E outro ainda,
Possam serenar
Tanto desejo.

Talvez.

domingo, fevereiro 08, 2009

VAMOS GANHAR!
Santa Iria de Azóia, 8 de Fevereiro de 2009 – Hoje é dia de jogo grande, que os jogos são sempre grandes, quando o Benfica joga. O jogo terá lugar na segunda cidade do país e espera-se que o Benfica ganhe, e se possível, cilindre o adversário.

Uma vitória expressiva do Benfica, hoje, na segunda cidade do país, é, antes de mais, uma vitória de Portugal.

Vamos esperar que Miguel Vítor, Carlos Martins e Nuno Gomes, não nos defraudem e dêem uma grande alegria a Portugal!




sábado, fevereiro 07, 2009

O MINISTRO MALHADOR

Santa Iria de Azóia, 7 de Fevereiro de 2009 – Lá na minha Mata natal, há um jogo chamado malha, que tinha excelentes praticantes e que era jogado, nas tardes de domingo. Jogava-se à branca e à negra, o que quer dizer que se bebia ao fim de cada partida ou à melhor de três. Era um jogo divertido, que eu mesmo pratiquei, na minha juventude.

O jogo da malha, também chamado fito, caiu em desuso, talvez porque nunca foi tão popular como a “pétanque” francesa. E é pena que tenha caído em desuso, porque era uma excelente forma de praticar algum exercício físico e de se beberem uns tintos bem bebidos.

Alegra-me, no entanto, que a malha tenha um adepto tão fervoroso como o ministro defensor do ministro-patrão, também dito o primeiro, de seu nome Augusto, que nunca terá o seu século e nunca será mais que um adjunto do ministro-patrão, ainda que academicamente tenha mais habilitações. Santos e Silva são os apelidos do dito malhador, provavelmente mais novo que eu e que se arroga o direito de me rotular de direita e de em mim querer malhar.

Pois daqui lhe digo que sou de esquerda e situado à esquerda do PS e que não tenho medo das suas malhas. Este ministro, que não sei bem o que faz, mas que trata mal muita gente, é politicamente uma fraude, porque se diz socialista, quando, afinal de contas, não passa de uma malhador.

Melhor seria que mandassem o homem para a Mata, que não pára de perder população e obrigá-lo a jogar à malha, assim como quem cumpre o serviço cívico.

MATA -UM OLHAR.


Santa Iria de Azóia, 6 de Fevereiro de 2009 – É nas curvas apertadas das nossas vidas que recebemos as melhores provas de amizade e somos mimados com pequenos grandes gestos de simpatia. E é também nos momentos difíceis que, finalmente, temos oportunidade de corrigir juízos que fomos construindo ao longo dos anos, mas que nem sempre são os mais justos.

A Mata despovoa-se ao ritmo das aldeias do interior mais interior. No presente, é habitada por umas escassas centenas de pessoas, velhas, na sua esmagadora maioria. Ali vivem, a escassos vinte minutos de Castelo Branco, algumas com conforto; outras, na ignorância dos avanços da civilização.

Anteontem, enquanto velámos o meu pai – um dia teria de ser comigo -, fui abordado por dezenas e mais dezenas de conterrâneos que, de uma forma digna e sincera, me quiseram expressar o seu pesar. Não estava à espera de uma tão grande manifestação de simpatia, confesso, e se calhar, porque conhecia menos bem do que eu pensava a minha gente. Bonita e proveitosa lição!

Só tenho uma forma de retribuir: continuar o caminho iniciado há décadas, quando, através do jornal “Reconquista”, comecei a pugnar pelas gentes e pelas coisas da Mata. Da qual sou cada vez mais!


quinta-feira, fevereiro 05, 2009

HOMENAGEM

Conheço um homem, a quem nunca tive e amabilidade de dedicar uma linha de humilde prosa, e que merece todo o respeito do mundo. Com sete anos, quando deveria aprender as primeiras letras e a tabuada, já calcorreava, descalço, caminhos e veredas, fragas inóspitas, atrás de um rebanho.

Sempre o ouvi dizer - e minha avó confirmava –, que o primeiro patrão lhe fizera as primeiras botas.


Porém, não estava talhado para a bucólica profissão de guardador de rebanhos, para tanta solidão. Analfabeto, já com dezoito anos, comprou uma pasteleira e fez-se aprendiz de construtor de casas. Pedra a pedra, tijolo a tijolo, ajudou a construir centenas de lares, ganhando a vida e espalhando conforto.


Nunca deixou, apesar das inúmeras voltas que a sua vida deu, que em sua alma morresse o amor pela Natureza. Teimoso, continua a trabalhar a terra, que já fora de seus avós, arrancando-lhe saborosos frutos.


Penso que não deve nada à pátria e que a pátria nada lhe deve. Pertence a um género de portugueses que ama e sempre amou Portugal sem condições.


In Fragmentos com poesia, Ulmeiro, 2005.


PS : chegou ontem ao fim da estrada.








terça-feira, fevereiro 03, 2009

QUADRAS À PÁTRIA

Há qualquer coisa no ar,
Que me provoca alergia.
Não consigo respirar
E só vejo porcaria.


Vejo gente interesseira
De altos valores falar.
Consegue, desta maneira,
O povo ignaro enganar.


Vejo lobos com vontade
De sugar as grandes tetas,
Míngua de qualidade,
Muitas mentiras e tretas.


Gostava que Portugal
Fosse limpo e respeitado.
E não este lodaçal
Corrompido e aviltado.

domingo, fevereiro 01, 2009

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 1 de Fevereiro de 2009Não gosto de Sócrates e do Partido Socialista, que não são de esquerda nem socialistas. No entanto, repugna-me esta forma reles de trucidar politicamente um adversário.

A direita quer ganhar na secretaria o que nunca ganharia nas urnas. Manuela Ferreira Leite não se deve contentar com “um não comento” ou coisa parecida. É necessário que exija rigor e celeridade na administração da justiça. É necessário que diga, com todas as letras, que abomina estes métodos reles de interferir na acção política.

Era bom que D. Manuela se demarcasse desta direita doutorada na arte do golpe de Estado.