sexta-feira, junho 29, 2012


o antigo edifício dos correios
Santa Iria de Azóia, 29 de Junho de 2012 – Vistas bem as coisas, a democratização do ensino começa ainda nos anos sessenta. Por imposição do crescimento industrial e também graças à forte emigração verificada nas zonas do interior. Castelo Branco não fugiu à regra, tendo assistido à partida de muitos milhares de camponeses e trabalhadores da construção civil. Primeiro os homens e depois as mulheres. E os filhos, que ficavam entregues aos avós, podiam agora transpor o limiar da escola técnica. O liceu de Nun’ Alvares continuava destinado aos do costume e assim continuou até ao 25 de Abril.

Não era de ensino e de democratização de ensino que eu queria falar hoje, que não é tema que domine bem. Eu falo de coisas mais triviais, que os sociólogos e outros cientistas sociais ignoram. Hoje quero falar de matraquilhos, que eram muito populares na cidade, nos anos sessenta, com largas dezenas de mesas espalhadas por todo o perímetro urbano: na Rua dos Prazeres, a dois passos da Sé, era o “Tonho dos Bonecos”; numa quelha daquela mesma rua, por detrás do restaurante Lua e Sol - uma viela por onde passavam as meretrizes a caminho do Café Lusitânia - também se jogava este jogo barulhento; na Rua João de Deus, tinha porta aberta o Sr. Aníbal Barata, num espaço que antes tinha sido de comes e bebes; ao cimo da Rua de Santiago, com tasca contígua, existia outra casa de matrecos, a primeira onde exercitei a minha perícia de atacante; e, por último, refiro também o Maresia, na correnteza do Café Beirão, defronte do maior “prêt-à-porter”, o António dos Capotes.
antiga biblioteca municipal e também da Gulbenkian
Por toda a cidade havia inúmeras tascas que tinham a sua mesa de matraquilhos; porém, creio que as casas referidas no parágrafo anterior eram, indiscutivelmente, as mais populares. Os clientes eram os estudantes e os militares, ou seja, a população mais jovem da cidade. Castelo Branco possuía vários estabelecimentos de ensino e dois regimentos militares, um de cavalaria e outro de caçadores, que forneciam os clientes para estas saudáveis casas de diversão. A população da cidade renovava-se permanentemente com a chegada e partida de militares e estudantes.

Conheci grandes jogadores de matraquilhos. Destaco o malogrado Luís “Canetas”, com quem jogava na quelha de acesso ao Café Lusitânia, por onde passavam, dolentes e pesadonas, as meretrizes, que teimavam em andar sempre muito pintadas e de sapatos de salto alto. Outros tempos!

quinta-feira, junho 28, 2012

DO MEU DIÁRIO

Amato Lusitano
Santa Iria de Azóia, 28 de Junho de 2012 – Os jornais chegavam a Castelo Branco de comboio: os matutinos por volta do meio-dia e os vespertinos por volta das vinte horas, quando os comboios circulavam com pouco atraso, porque também acontecia os matutinos chegarem à tardinha e os vespertinos só serem lidos na manhã seguinte.

Se a memória não me atraiçoa, o quiosque Vidal detinha o monopólio dos pouco madrugadores DN e Mundo Desportivo e dos vespertinos Diário Popular e República; ti Albino – que espectáculo de ardina! – comercializava O Século, A Bola e o Record, matutinos, e o Diário de Lisboa e A Capital, vespertinos. E a famosa revista de actualidade: Vida Mundial, hebdomadária, com saída ao sábado.

Ti Albino - era assim tratado o mais desembaraçado dos ardinas albicastrenses -, vinha a correr da estação da CP com um molho de jornais debaixo do braço, até ao centro da cidade, gritando a plenos pulmões “é o Séeeeeeculo”, “é A Booooola”, “é o desastre”, “é o séeeeeeeeeculo”, “é o Record”, etc. Sempre em movimento e a apregoar, só parando para entregar o jornal ao cliente, receber e fazer trocos. Tinha na sua mulher, cujo nome já esqueci, uma colaboradora assídua e esforçada, que passava os dias a complementar a actividade do marido, ao frio e ao calor, naquele vão de escadas que dava acesso à parte de consultórios do edifício em cujo rés-do-chão funcionava o café Arcádia, que tinha a sala de bilhares ao lado.

Os outros ardinas eram Zé Gavetas e Zé Noco. O primeiro, era um homem muito querido na cidade, porque era simpático e, por vezes, até muito reverente; Zé Noco - irmão de ti Albino - que nunca tirava o cigarro dos beiços, era uma figura esquálida e nada sociável. A rapaziada metia-se com ele, porque sabia que havia de ouvir um chorrilho de asneiras ou ver algum daqueles gestos menos recomendáveis.

E aqui deixo um retrato dos ardinas da cidade, seguramente incompleto e impressivo; no entanto, creio que não terei cometido imprecisões de monta. É que o tempo passa e a minha memória já não é o que era.

quarta-feira, junho 27, 2012

DO MEU DIÁRIO

entrada norte de Castelo Branco

Santa Iria de Azóia, 27 de Junho de 2012 - O quiosque Vidal, era, nos anos sessenta e setenta do século passado – até ao 25 de Abril -, o “sítio” onde se podiam adquirir as principais revistas do país e também alguma da melhor literatura que se ia fazendo em Portugal.

Não admira, assim, que o quiosque Vidal fosse o local de encontro de quem lia e de quem procurava aquela documentação oposicionista que a bondade do regime do guarda-livros do Vimieiro, e depois do “conversas em família”, ia deixando circular. O senhor Vidal era um homem bastante alto e muito teatral, que, creio, também tinha um negócio de padarias. E o seu empregado, o Zé Fernandes, era não só um grande leitor de lombadas; mas, também, um leitor atento de alguns dos melhores autores romanescos, portugueses e estrangeiros.

Eu soube há dias que o Zé Fernandes, que morava, quando o conheci, numa daquelas casinhas pequeninas do bairro da Horta de Alva, já fez a última viagem. Fomos amigos muitos anos, e apesar das diferentes opiniões que tínhamos acerca da vida e do mundo, nunca deixámos de nos tratar com estima e cordialidade. Partilhámos o vinho e o pão vezes sem conta. E ainda me lembro de ter comido rabanadas na casa dos pais do Zé Fernandes, gente do Porto, numa noite em que cantávamos as Janeiras nas ruas de Castelo Branco.

Eu tinha decidido falar de jornais e ardinas e acabei a falar do quiosque Vidal e do Zé Fernandes. Fica provado que, na verdade, as conversas são como as cerejas. É que nem de propósito: estamos no tempo delas.

segunda-feira, junho 25, 2012

DO MEU DIÁRIO


Fotografia retirada do "sítio" da CMCB

Santa Iria de Azoia, 25 de Junho de 2012 - Em 21 de Julho, far-se-á a apresentação de QUADRAS POPULARES – UMAS SIM, OUTRAS QUASE, no Cine-Teatro Avenida, na cidade de Castelo Branco.

Vou regressar ao velho edifício do cinema após uma ausência de décadas. Vou regressar ao velho edifício do cinema, porque não dizê-lo, com alguma comoção e expectativa. Vou regressar ao velho edifício do cinema do qual guardo memória de inúmeros filmes, de outros espectáculos inesquecíveis, de bailes, etc. Vou ao encontro dos meus conterrâneos com um livro de quadras, que é o que tenho, de momento, para lhes oferecer.

Na década de sessenta do século passado, o Cine-Teatro Avenida era um edifício polivalente, embora o cinema fosse a sua principal actividade. Comparável ao Monumental e ao Império, que eram duas grandes e excelentes salas de espectáculos da capital. Tinha duas plateias, um primeiro balcão enorme e, ao cimo deste, um espaço de camarotes. Tinha ainda um segundo balcão com entrada própria, que era conhecido pelo piolho. O senhor Fernando controlava a entrada principal e tratava da sala; o Guilhermino, uma figura castiça da cidade, colocava os cartazes nos sítios do costume e distribuía a restante publicidade.

Sei que o Cine-Teatro Avenida esteve vários anos fechado. Sofreu obras de remodelação e tem agora uma vida diferente. As notícias vão-me chegando, amiúde, através de Cultura Vibra. Ainda que a traça inicial se tenha mantido quase intocável, exteriormente, sei que foram feitas importantes obras no interior. Não sei o que restará da velha sala polivalente, mas mais ao cinema dada, e por isso vou com muita curiosidade.

Vou com um livro de quadras na mão.

sábado, junho 23, 2012

DO MEU DIÁRIO


Santa Iria de Azóia, 23 de Junho de 2012 – António Salvado – poeta, ensaísta, antologiador e museólogo -, é um nome incontornável da vida cultural de Castelo Branco, a sua terra natal, e de toda a Beira Baixa.

Ontem, um amigo comum, o poeta José Antunes Ribeiro, brindou-me com dois Salvado (deixem lá a metonímia) de peso, a antologia de AUTORES NASCIDOS NO DISTRITO DE CASTELO BRANCO (Século XV a 1908) e Na eira da Beira (edição comemorativa do cinquentenário da vida literária de António Salvado), que já folheei e que hei-de ler, proximamente, com a devida atenção.

A generosidade do José Antunes Ribeiro é, portanto, a responsável por estas linhas e pelo belíssimo poema que aqui transcrevo de NA eira da Beira:

Albicast(r)o




Onde as pedras desenham a encosta


e as oliveiras testemunham a paz.



Uma linha de luz que freme e rola


na solidão do longe ao lado larga.






As fréseas da infância no sol-posto


como poema anterior à escrita,






e entre graranito o amanhecer: o sopro


calmo das velhas ruas          velhos sítios.






Amuralhada no seu estar dormida


de branco lenço ao peito a castelar -


uns olhos ficam tristes por partir,


uns olhos partem tristes por ficar.




Nota: ambas as obras têm a chancela de Arion Publicações, Lda.

sexta-feira, junho 22, 2012

DO MEU DIÁRIO


regresso às hortas

Santa Iria de Azóia, 22 de Junho de 2012 – Vítor Gaspar, o todo-poderoso governador incumbido das finanças do reino, vem agora a admitir, após ter posto o país a pão e água, que será muito difícil cumprir as metas do défice. Ainda antes de meio ano orçamental cumprido, preparem-se para o que aí vem.

A queda das receitas fiscais era óbvia. Não era preciso ir a Delfos para prever a queda acentuada das receitas fiscais. Até o Pe. Fontes, homem que muito prezo e admiro, não deixaria de prever a queda das receitas fiscais. Apenas Vítor Gaspar, e também o seu chefe imediato, e também os restantes membros da equipa de governadores, terá acreditado na bondade daquela austeridade imposta pelos imbecis da troika e pelo senhor Schauble, sem trema, um dos mentores deste desgraçado castigo imposto aos povos do sul da Europa.

e à criação de galinhas

Gaspar - mas antes de Gaspar Coelho e Portas -, tem que ser responsabilizado pela implementação de medidas restritivas do consumo e pelo empobrecimento dos portugueses. Têm que ser responsabilizados pelo clima de terror que criaram na sociedade portuguesa, com as nefastas consequências que estão à vista: desemprego, degradação das condições de vida dos trabalhadores, retracção do consumo, degradação dos serviços públicos, queda das receitas fiscais, etc., etc., etc. E ainda pelas gravosas medidas futuras que a confissão de hoje já prenuncia.

quarta-feira, junho 20, 2012

DO MEU DIÁRIO


David Mourão-Ferreira, um grande poeta

Santa Iria de Azóia, 20 de Junho de 2012 – La Chartreuse de Parme de Stendhal é, indiscutivelmente, um dos melhores romances franceses de todos os tempos. E o mesmo se poderá dizer de Le Rouge et le Noir do mesmo autor. A Chartreuse li-a com a ajuda de um tal David Mourão- Ferreira, que era um grande apaixonado pela literatura francesa e pela Itália. Le Rouge et le Noir só o li mais tarde, mas seguindo a lição do autor de A Secreta Viagem. Não sei se Vino Rossi, um romance que David trouxe em mente, chegou a ser escrito e editado.

Hoje deu-me para dizer meia dúzia de coisas acerca de David Morão-Ferreira, que era um homem de trato muito fino e um grande sedutor. Não admira, pois, que tivesse sempre uma pequena corte de jovens mulheres por perto. Tinha uma caligrafia bem legível e era um adepto incondicional das esferográficas BIC. Vestia muito em tons de castanho, como se tudo tivesse de condizer com o seu inseparável cachimbo.

Nos anos oitenta usou um daqueles sobretudos que Freitas do Amaral celebrizou quando foi candidato à Presidência da República. E também um boné, que o protegia do frio. Entrava na FL, subia ao piso superior e dirigia-se para uma das salas do departamento de românicas, onde dava aulas ao fim da tarde e/ou princípio da noite. Nunca prescindia de entrar nos sanitários para dar um jeito ao cabelo. Fazia gala em cultivar um primoroso aprumo, que lhe conferia um toque de classe.

E este homem de vasto saber, que lia poetas portugueses e europeus como ninguém, por vezes gaguejava. Sobretudo quando se enervava com a ignorância, que, já naquele tempo, era muita na casa das humanidades. Gaguejava, por exemplo, quando alguém – e isto vale só como exemplo – lhe dizia que Montaigne era um filósofo do séc. XIX ou que François Villon era um poeta do séc. XVIII. E no entanto, David nunca desautorizava um aluno. Tentava sempre, a partir de uma resposta errada ou menos rigorosa, conduzir o aluno à resposta que ele considerava a mais acertada.

E Stendhal foi apenas o pretexto para aqui deixar meia dúzia de palavras acerca de um daqueles portugueses, que, tendo sido governante, nos deixou uma obra notável como poeta e ensaísta. Bem ao contrário dos Mira deste mundo.

terça-feira, junho 19, 2012

DO MEU DIÁRIO


Tejo-Póvoa de Santa Iria
Há portugueses com vidas difícieis

Santa Iria de Azóia, 19 de Junho de 2012 – Há momentos um ex-governante, cujo primeiro nome já esqueci, com aquele seu jeito muito peculiar de falar, disse alto e bom som, que, se não tivesse passado pelo governo, provavelmente tinha chegado à presidência de um grande banco há muito tempo.

Mira é um dos apelidos do senhor, que, provavelmente teria chegado há muito tempo à presidência de uma grande banco, se não tivesse tido a “desdita” de ter sido governante. Eu sei que o senhor foi governante, ou seja, ajudante do governante Cavaco, nos anos oitenta e noventa, quando o dinheiro chegava às carradas da Europa e Portugal começava a ter mais alguma coisinha para além da miséria habitual. Foi ministro no tempo das vacas gordas, mais gordas ainda do que aquelas açorianas que sorriram ao presidente na Graciosa, no Outono passado.

Não faço ideia do que fazia Mira nos tempos de governação, porque leio romances e poesia e tenho o armazém cheio de versos e de ditos de pessoas que nos vão fazendo a vida menos pesada e mais digna. Alguma coisa Mira faria para falar alto e num tom de quem é credor do país. De resto, o país é credor de muita gente, nomeadamente do PSD-PPD e CDS-PP e também do PS, que deixaram de ser isto e aquilo para se dedicarem de alma e coração à causa pública.

Mira já terá feito muitas coisas; porém, creio que nunca terá posto linhas do seu bolso – para além dos impostos, claro – para obviar a uma qualquer necessidade do país. Provavelmente, melhor ou pior fez-se sempre pagar de harmonia com o que a lei determina. Contrariamente ao que fazem os poetas, que vão dando versos à Pátria, por vezes geniais, sem nada receberem em troca. Mas esta é uma conversa à qual, ainda que a pudesse entender, Mira faria ouvidos de mercador, ou seja, orelhas moucas.


sábado, junho 16, 2012



COMO SE FOSSE ONTEM

Eu guardo ainda, intactos, os odores dos frutos, dependurados no tecto da sala da casa de meus avós paternos: maçãs, cachos de uvas, dióspiros e romãs, que comíamos com parcimónia e que eram para nós os melhores frutos do mundo.

Eu guardo ainda, intactos, os timbres das vozes de todos os entes queridos, que se sentavam à volta da braseira, no centro da pequena sala, juntinhos, nos longos serões do Outono e do Inverno, à luz da candeia.

Eu guardo ainda, intactas, as histórias pueris que meu pai me contava e que fizeram a minha infância feliz.

Há tanto, tanto tempo…



COMO SE FOSSE ONTEM (NOVA VERSÃO)

No fim do Outono e no Inverno, quando o frio apertava, era à volta da braseira que a nossa família se reunia e conversava.

Na sala exígua, havia duas arcas, onde tudo se guardava e as minhas tias – oh, eram tão novas ainda! -, se sentavam para namorar sob o olhar atento e severo de minha avó.

No tecto de madeira, havia maçãs, cachos de uvas, diospiros e romãs, dependurados, que comíamos com parcimónia e que eram os melhores frutos do mundo.

Era neste ambiente, que eu ouvia, feliz, as lindas histórias pueris, que meu pai contava.

Foi há tanto, tanto tempo…



quinta-feira, junho 14, 2012


AQUI


Desta colina onde moro
Avista-se o Tejo
E a grande cidade;
Mas na Primavera,
Eu prefiro andar no olival,
Por entre ervas
E arbustos bravios,
Sorvendo-lhes a fresquidão
E os aromas
E ignorando o Tejo
E a cidade.

É nessas horas
De abandono feliz,
Que rememoro Cesário Verde
E os seus versos alexandrinos.

E às vezes até parece
Que a fresquidão
E os aromas
Se propagam também aos versos.

Ou simplesmente,
Transparece.





sábado, junho 09, 2012

DO MEU DIÁRIO


As nuvens adensam-se
Santa Iria de Azóia, 9 de Junho de 2012 – Eu hoje só queria falar de coisas agradáveis, mas após a leitura de alguns textos na blogosfera, não ficaria  bem comigo mesmo se não escrevesse algumas palavras sobre os tempos que correm.   

     D. Januário Torgal Ferreira, uma voz ímpar dentro da igreja católica portuguesa, pronunciou-se, anteontem, sobre declarações do jovem que ocupa o cargo de primeiro-ministro. Fê-lo com a coragem a que nos habituou ao longo dos anos; convidando, o sobredito jovem a sair à rua e juntar-se ao povo. No dia seguinte, D. Januário viu a sua vida devassada por um pasquim, que parece querer atemorizar Portugal inteiro. Quem se meter com Relvas ou Passos ou tutti quanti pode contar com a sua vida no estendal.

     Correm rumores de que o número de suicídios está a aumentar em Portugal; porém, segundo os mesmos rumores, parece que as autoridades a quem compete divulgar esses óbitos não o fazem por imposição superior. Do mesmo modo que haverá uma cortina de silêncio acerca de desacatos decorrentes da penúria em que vivem as populações de bairros populares nos arredores da capital. A serem verdadeiros estes rumores, estamos em presença de um conflito entre as autoridades e o direito à informação livre e democrática.

     O caso de D. Januário é uma evidência de que há quem saiba da vida de todos aqueles cuja opinião conta. Esta informação juntinha e prontinha para o dia seguinte, não deve deixar dúvidas a ninguém. A confirmar-se que são dadas orientações às autoridades para não divulgarem suicídios e os tais desacatos devidos à penúria, teremos que concluir que os verdeiros e transparentes de outrora são mais opacos que uma noite de breu.

quinta-feira, junho 07, 2012

DO MEU DIÁRIO



Lisboa, 6 de Junho de 2012 – Os crânios que nos (des)governam – gente que só vê números e folhas de “excel” – não vêem ou fingem não ver que Portugal se afunda, inexoravelmente, dia após dia.
     Os crânios que nos (des)governam vieram para rapar o “pote”, mas omitiram que iriam espoliar os portugueses de teres e haveres e de direitos, empobrecendo-os desalmadamente.
     Estes crânios, que se diziam transparentes e verdadeiros, hão-de ser, futuramente, encontrados entre os mais despudorados mentirosos.      
     Os crânios que nos (des)governam – a soldo de uma “troika” representante de instituições agiotas – tem que ser corrido rapidamente. E pouco importa que Seguro esteja ou não em boas condições para vir a liderar um governo. É preciso pôr os crânios em minoria, que a democracia, sendo-o de verdade, será capaz de encontrar soluções para Portugal e para os portugueses.
     Não podemos deixar que Portugal se transforme num imenso hospital psiquiátrico, para que PPC tenha compaixão de nós.

segunda-feira, junho 04, 2012

DISCURSO


Transporte. Província de Málaga.
                                                                Foto da Net - -Málaga
Muitos de nós que temos mãos e temos pés,
Muitos de nós que fazemos adeus aos comboios nas estações,
Muitos de nós que passeamos o conformismo pelas ruas da cidade,
Muitos de nós,
Um dia,
Talvez um dia,
Saibamos quão inúteis foram os nossos braços,
As nossas pernas,
A nossas bocas,
Os nossos ouvidos
E os nossos cérebros.



Talvez um dia,
Quando violarem o silêncio da nossa inutilidade
E já for demasiado tarde,
Vejamos então como eram irreais
Os nossos primorosos raciocínios.




Nesse dia,
Não haverá lugar para lágrimas
E lamentações.
Nesse dia,
Morreremos como cães:
Sem palavras,
Sem sonhos,
Acéfalos,
Loucos.



































domingo, junho 03, 2012

DO MEU DIÁRIO


Charneca da Cotovia, 3 de Junho de 2012 – Eu nem sequer conheço a cara de um tal Fernando Leal da Costa, que, segundo o jornal “O Público”, é secretário de Estado adjunto e da Saúde. Segundo o jornal, o senhor, que não sei se é médico oncologista ou de outra especialidade qualquer, terá admitido publicamente que algumas terapias de “eficácia duvidosa” (as aspas são d’ “O Público”, usadas em tratamentos oncológicos poderão deixar de ser comparticipadas pelo SNS.

Contra a secretarial opinião, que de Estado algo poderá ter, mas que foge aos mais estritos valores humanos, já se terão pronunciado a Ordem dos Médicos e duas Associações de Doentes Oncológicos. Não conheço a cara do criterioso adjunto da (dês)governação, repito, mas as suas ideias, repudiadas por quem sabe e por quem sofre, se forem verdadeiras, são feias e arrogantes. Só os médicos oncologistas e a sua organização de classe sabem o que conta na luta contra a morte que travam milhares de portugueses. Licenciados em economia e gestão de empresas, quando muito, saberão contar até dez e vamos lá ver se sem gaguejarem. Não sei qual é a formação do senhor, nem isso interessa para o caso, mas tem formação – ou com ela concorda - na área do corte-aqui-corte-ali, que a “troika” e os seus “troikaníssimos” chefes defendem.

Eu pago impostos, muitos impostos, impostos excessivos e desumanos. Constato o facto, mas não deixarei de cumprir com as minhas obrigações perante a sociedade. Gostava, no entanto, que o meu dinheiro fosse gasto com a sociedade que precisa e não para encher os bolsos dos próceres deste regime de curandeiros. A insensibilidade destes governantes, que apenas sabem olhar – e quantas vezes mal – para mapas feitos em folhas de “excel”, choca as pessoas bem formadas e que sempre pagaram os seus impostos e não andaram a roubar Portugal e os portugueses.











sábado, junho 02, 2012

DO MEU DIÁRIO

Charneca da Cotovia, 2 de Junho de 2012 – Pedro Passos Coelho falou hoje de crescimento, tendo dito que a “coisa” está quase, quase a chegar. Eu também queria partilhar da crença de Pedro Passos Coelho, porque, talvez, o futuro fosse menos difícil para os portugueses, que têm sido castigados por este homem, sem dó nem piedade. E para mim também, claro. No entanto, como não sou dado a crendices, não acompanho Pedro Passos Coelho em matéria de crescimento económico.

Eu creio firmemente no crescimento do desemprego, no crescimento do empobrecimento dos portugueses, no crescimento das doenças do foro psiquiátrico, no crescimento da destruição do Estado social, que esta gente que nos governa, a nós e à Europa, parece querer levar até às últimas consequências, etc. No fundo, e vistas bem as coisas, eu nem sou um crente. Sou apenas um português que vê a vida a andar para trás, como para trás anda a vida da esmagadora maioria dos seus concidadãos.

Eu sei que Pedro Passos Coelho, que nos tem brindado com o corte de inúmeros direitos, tem necessidade de fazer o discurso da crença no crescimento, para melhor, pensa ele, nos poder brindar com o corte de mais direitos. É por isso que não posso acompanhar Pedro Passos Coelho na crendice do crescimento. Eu sei que não lhe faço falta no séquito, mas quero conceder-me a liberdade de dizer que não o acompanho.

Este é um direito que nunca me vai retirar.



sexta-feira, junho 01, 2012

DO MEU DIÁRIO

Há mesas portuguesas simples, mas muito dignas.
Santa Iria de Azóia, 1 de Junho de 2012 – Um tal António Borges, apresentado como reputado economista, recomendou hoje, ou ontem, tanto faz, o “abaixamento” dos salários dos portugueses. Prega bem Frei Tomás. Era bom que este homem que quer o empobrecimento dos portugueses e de Portugal, dissesse, de forma audível, quanto ganha por ser empregado e /ou consultor das mercearias Jerónimo Martins, e, simultaneamente, conselheiro do governo para as privatizações. Os portugueses precisam de saber como vivem os que receitam tais mezinhas.

De mezinhas se tratará, porque as receitas defendidas pelo senhor estão a dar o que dão na Grécia; e, ainda hoje, Teodora Cardoso dizia que a resolução do problema da economia portuguesa não passava pelo dito “abaixamento” dos salários, para não nos convertermos num país “do terceiro ou do quarto mundo”.

Eles sabem que o problema não é o custo do factor trabalho. Eles sabem, mas não lhes convém dizer, que o problema da competitividade se resolve com uma melhor qualificação dos portugueses e com a baixa do custo de outros factores de produção. Nomeadamente, o custo dos combustíveis e da electricidade.

António Borges, o “receitador” de salários de miséria deveria, durante cinco anos - ele e o seu clã – viver com o ordenado mínimo nacional. Só assim saberia como elas mordem como diz o povo.