segunda-feira, abril 24, 2006

MEMÓRIA

Há precisamente trinta e dois anos, quarta-feira, jantei na Mata e ao fim da noite regressei ao BC-6, em Castelo Branco, onde cumpria o chamado SMO. Deitei-me bem bebido, que os tempos não eram de securas, não suspeitando sequer o que estava para acontecer.
Por volta das quatro e meia, o Luís Geraldes, que estava de sargento-de-dia à unidade, desatou a acordar toda a gente, aos berros, porque estava a decorrer uma revolução.
Enfiado o uniforme, coloquei-me à volta da telefonia, onde fiquei horas sem fim, para saber notícias. Ao contrário de muita gente, que tem confessado não se ter apercebido imediatamente do que estava a acontecer, eu não tive quaisquer dúvidas. A música não iludia e um mês depois do 16 de Março do Vergílio da Luz Varela, a coisa só podia ser progressista.
Os primeiros comunicados só confirmaram o meu optimismo. Uma indizível e incomensurável alegria íntima começava então a deixar-se extravasar.
Para além do Luís Geraldes e do André, não me ocorrem quaisquer outros nomes de furriéis e cabos-milicianos. Sei, todavia, que era muita a alegria e a cerveja. Fazíamos pequenos discursos e dávamos vivas à revolução.
Dir-se-ia qe o 25 de Abril começava num ambiente de unanimidade. Sabemos hoje que era também o excesso de cerveja a fazer a festa.. De qualquer modo, dentro do quartel, pronto para o que desse e viesse, vivi um dos dias mais felizes da minha vida. Procurei prolongar a felicidade pelos dias e anos seguintes. Hoje recordo tudo com muita nostalgia. Sobretudo, o que nunca chegou fectivamente a acontecer.

MEMÓRIA

Há exactamente trinta e dois anos, quarta-feira, jantei na Mata e ao fim da noite regressei ao BC-6, em Castelo Branco. Cumpria o chamado SMO. Deitei-me provavelmente bem bebido, que os tempos não eram de securas, não suspeitando sequer o que estava para acontecer. Por volta das quatro e meia, o Luís Geraldas, que estava de sargento-de-dia à unidade, desatou a acordar-nos, aos berros, porque estava a decorrer uma revolução.
Enfiado o uniforme, coloquei-me à volta da telefonia para saber notícias. Ao contrário de muita gente, que confessa não ter percebido imediatamente o que se estva a passar, eu não tive quaisquer dúvidas. A música não iludia e um mês depois do 16 de Março do Vergílio Canízio da Luz Varela, a coisa só podia ser progressista. Os primeiros comunicados só confirmaram o meu optimismo. Uma indizível e inconsurável alegria íntima começava, então, a deixar-se extravasar.
Para além do Luís Geraldes e do André, não me ocorrem quaisquer outros nomes de cabos-milicianos. Sei, todavia, que era muita a alegria e a cerveja. Fazíamos pequenos discursos e dávamos vivas à revolução. Dir-se-ia que o 25 de Abril acontecia num ambiente de unanimidade. Sabemos hoje que era também o excesso de cerveja a fazer a festa.
De qualquer modo, dentro do quartel, vivi um dos dias mais felizes da minha vida. Que prolonguei pelos dias e anos seguintes. Talvez com alguma nostalgia pelo que nunca chegou efectivamente a acontecer.

domingo, abril 16, 2006

A PÁSCOA

De todas as festas do calendário religioso - e outras -, é da Páscoa que mais gosto. Guardo gratas recordações dos sábados santos, dos domingos de Páscoa e da segunda-feira a que também chamávamos de Páscoa, mas que é de pascoela, para ser mais preciso. Esta por estar intimamente ligada à festa de S. Pedro, que é o único santo que se pode gabar de ter morada própria lá na Mata.
Festa da ressurreição de Cristo para os cristãos, a felicidade de ocorrer sempre na Primavera, faz dela não só a festa da celebração da promessa de vida eterna, mas também a festa da renovação cíclica e permanente da própria Natureza. É, portanto, no mundo cristão, um tempo de celebração para crentes e não crentes.
Associo a Páscoa a procissões e romarias, a cânticos religiosos e a cantigas populares, a aromas e a paladares únicos. A Páscoa traz-me à memória os bolos de minha mãe, o guisado de borrego, os cheiros do alecrim e do rosmaninho. E ainda o dlim-dlim da campaínha que anunciava a chegada do pároco para dar o Senhor a beijar. Esta cerimónia ocorria na Mata na segunda-feira, porque o domingo era o dia dos Escalos de Baixo, onde os párocos tinham residência.
E termino com duas quadras do folclore da Mata:
-S. Pedro, Senhor S. Pedro,
Quem vos varreu a capela?
- Foram as moças da Mata,
com raminho de macela.
-S. Pedro, Senhor S. Pedro,
quem vos varreu o terreiro?
- Foram as moças da Mata,
c' um raminho de loureiro.

domingo, abril 09, 2006

SIGNIFICATIVO

O Presidente da República visitou hoje, naquela que é a sua primeira saída oficial do remanso de Belém, o Hospital D. Estefânia. Acompanhado pelo membro do Governo responsável pela saúde, que se tem distinguido por fazer afirmações polémicas e tomar medidas desastradas para a bolsa e a saúde dos portugueses.
Talvez ainda não seja o momento para dizer: diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és. Não deixa, contudo, de ser significativo que o senhor Presidente tenha escolhido a área da saúde e a companhia de tal ministro.
O senhor Professor Correia de Campos é, politicamente, um homem pouco generoso e adverso à solidariedade. É incapaz de pensar e de agir fora do âmbito dos modelos em voga, porque pensa pouco e está sempre ansioso por falar. É consabido, passe o cliché, que quem muito fala pouco acerta.
Seria bom que o senhor Presidente da República, actualmente Presidente de todos os portugueses, aconselhasse sabiamente o Dr. Correia de Campos, no sentido de aprender a gerir melhor os recursos, sem cortar nos direitos e sem aumentar a factura dos portugueses.
Acaso, o senhor Presidente da República tenha conselho sábio para dar ao Dr. Correia de Campos.

sábado, abril 08, 2006

HOJE É DIA DO LEÃO

No plano estritamente racional, desejava que ambos os contendores desta noite perdessem. Só assim, o meu Benfica, tão perdulário ao longo de toda a época, manteria algumas esperanças de revalidar o título. Como não acredito em bruxas - apesar de me repetirem que sim, qua as há-, hoje desejo que o SCP vença e convença, para que a equipa supostamente representante da segunda cidade do país não nos infernize a vida com um S. João em Abril.
Se o Sporting vencer - vai vencer com certeza!-, fica demonstrado que um treinador português, que em tempos alinhou de águia ao peito, consegue levar à melhor sobre dois treinadores estrangeiros da chamada escola holandesa. Paulo Bento, que às vezes tem cara de poucos amigos, mas que tem um discurso persuasivo e saber q.b., vai demonstrar que a escola portuguesa tem treinadores que podem ombrear com o que de melhor há no estrangeiro. E isto não é uma posição xenófoba. É apenas uma constatação, que os dirigentes devem levar em linha de conta, no futuro. Ou não é verdade que o Sporting quebrou o prolongado jejum da dúzia e meia com Augusto Inácio?
Este texto, escrito com o coração nas mãos, creio que reflecte o sentir profundo da maioria dos adeptos do lado esquerdo da 2ª Circular. E se não reflectir, paciência, que eu também não tenho procuração. Mas é um gesto de solidariedade para com o Hélder, o José Ribeiro e o José do Carmo Francisco. Esta noite, Lisboa merece uma festa. Que há-de ser grande, quando o campeonato acabar com o Sporting campeão.

sexta-feira, abril 07, 2006

BIZANTINICES

Sou fumador com a actividade suspensa há seis anos e fumei seguramente mais de vinte e cinco. Tenho a actividade suspensa por minha decisão livre e consciente e sei quanto custa trilhar este caminho. Não recebo lições de virgens e conselhos dou-os apenas os meus filhos.
A penúltima vez que suspendi a actividade de fumados, após um período de cinco anos sem praticar qualquer acto, fiquei fumando, sofregamente, mais dez. Não fui, todavia, nem mais feliz, nem mais infeliz. O que gozei ou sofri são experiências pessoais impossíveis de partilhar.
Nos últimos seis anos, tenho sofrido múltiplas tentações. Em sonhos, já fumei inúmeras vezes cigarros e charutos. Tenho resistido com quantas forças tenho, porque conheço as desvantagens de ser fumador. Tenho resistido, em suma, porque a minha decisão é livre e consciente. Se me quisessem impor, administrativamente, a abstinência, tudo faria para desrespeitar os fundamentalistas que tudo querem regulamentar.
Portugal é o país do oito e do oitenta. Ainda há poucos, havia tabernas em cujo chão se cuspia e lançavam pontas de cigarro; ainda há anos, se fumava em todas as carruagens dos comboios e era quase impossível utilizar as casas de banho, quer as viagens fossem curtas ou longas; ainda há pouco tempo, as repartições públicas não tinham WC(s) que pudessem ser utilizados pelos utentes. Há trinta anos, mais de setenta por cento do país não teria saneamento básico. Portugal, felizmente, percorreu um longo caminho, no domínio da higiene e da limpeza. Um caminho percorrido democrática e responsavelmente.
No entanto, esta fúria de tudo querer regulamentar está a tornar-se um caso de violação dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Em nome da defesa de interesses legítimos de alguns cidadãos, cerceiam-se as liberdades de outros. Esta fúria não é mais do que a pata de alguns a calcar o corpo de outros.
Esta fúria de tudo controlar através de normas rígidas já não pertence aos domínios da democracia. Esta fúria é a visão estreitinha dos que têm da democracia uma visão meramente instrumental. È uma visão totalitária!

quarta-feira, abril 05, 2006

SER DO BENFICA

É evidente que o futebol é hoje uma indústria muito poderosa e que movimenta recursos extraordinários. E o Benfica, à dimensão de Portugal, também é uma indústria poderosa e também movimenta recursos extraordinários.
O Benfica é, todavia, muito mais do que uma indústria poderosa e que movimenta recursos extraordinários. O Benfica é um espaço de afectos, tema para muitas conversas, um estado de espírito, quase uma religião, uma forma de ser português.
Não sei o que é ser do SCP, ainda que já tenha visto muitos sportinguistas chorar. Não sei tão-pouco o que é ser daquele clube cujo nome não se pode pronunciar (como no Harry Potter). O que sei de fonte segura, é que o meu coração trabalha desalmadamente quando o "glorioso" claudica. E também, é claro, quandos os êxitos acontecem.
Escrevo estas linhas antes do embate com o Barcelona. Tenho lugar reservado na bancada central - falo do sofá em frente da televisão-, onde irei torcer com os meus filhos pela vitória do Benfica na eliminatória. É um momento privilegiado de partilha de alegrias e tristezas.
Oxalá que as estrelas de brilho gama do Benfica possam obscurecer as estrelas de brilho alfa do Barcelona.
Oxalá que ao fim da noite possamos ainda, com alegria, discutir o jogo e a vitória do Benfica.

domingo, abril 02, 2006

O PODER E OS CARNEIROS

O exercício do poder, mesmo quando há votos de quatro em quatro anos, empresta aos que o detêm tiques de autoritarismo. Para não lhe chamar outra coisa, que é outra coisa os tiques de alguns dos políticos de turno.
Subitamente, gente perdulária, que nunca se eximiu a gastar do erário público, mais papista que o papa, fala do dinheiro do contribuinte com tal pudor, que todos sentimos vontade de gastar menos, com pena do tal contribuinte.
É evidente que este discurso é pura falácia. Se a vontade de poupar e gastar com parcimónia fosse genuína, não se nomeariam amigos e compadres para os lugares melhor renumerados. O dinheiro do contribuinte serve para o que serve e agora está na moda exigir que o Estado encolha e gaste menos. Fazedores de opinião de meia tijela lá vão envenenando a opinião público, muito certinhos e obedientes atrás do pastor Panurgo.
Só que isto, mais tarde ou mais cedo, há-de bater a outras portas e a outras e a outras ainda. E certamente à dos carneiros do pastor Panurgo, que, enlouquecidos, se hão-de suicidar atirando-se das ravinas.
O que eles não dizem, porque mentem sem pudor, é que há efectivamente outros caminhos. E se os não houvesse, era dever de todos procurá-los. O modelo social europeu, com defeitos e virtudes, foi e é um dos mais importantes contributos civilizacionais da Europa, nos últimos séculos. É esse traço distintivo da Europa que estãp impudicamente apagando!

HAJA SAÚDE

Parece que a Constituição da República, que os presidentes prometem todos cumprir e fazer cumprir, diz que os portuguese têm direito a cuidados de saúde tendencialmente gratuitos. Mas isso é o que diz a Constituição, que se tornou um livro e os livros, como bem o demonstram os sagrados do Islão, do Judaìsmo e do Cristianismo - é evidente que a ordem poderia ser outra-, estão excessivamente expostos à curiosidade de exegetas ardilosos.
Vem isto a propósito dos aumentos das chamadas taxas moderadoras, que não moderam coisa nenhuma, mas antes contribuem para o mal-estar dos portuguses. O nosso Serviço Nacional de Saúde, criado por um pedreiro-livre generoso, nunca funcionou com um mínimo de dignidade. As instalações que conheço são impróprias para um país da UE e os serviços prestados, poderiam ser incomensuravelmente melhores. Houve sempre uma grande má vontade rem relação ao SNS tendencialmente gratuito.
As políticas que estão a ser implementadas, seguindo o chamado princípio do utilizador pagador, demonstra apenas que a nossa sociedade é pouco generosa. Permitem-se enriquecimentos descomunais, mas regateia-se na solidariedade. A nossa sociedade está doente e estas medidas vão agravar a doença.
Os campos, as belezas, os arlindos e as roseiros, que nos têm tratado da saúde hão-de explicar-se um dia. Talvez mais cedo do que pensam. Esta forma de fazer política e de dirigir o país é completamente totalitária.
Dez mil pessoas nas ruas de Lisboa, segundo as insuspeitas televisões, poderão ser o prenúncio de que é na RUA que tudo se há-de voltar a decidir. E os patuscos terão de levar umas bengaladas nas nádegas, para depois voltarem a queixar-se da violência das massas.
Manuel da Mata

sábado, abril 01, 2006

OS BLOGUES

Provavelmente, a culpa é minha. Nasci no ano da graça de 1952 e nunca nutri qualquer entusiasmo pelos computadores e pela informática. A minha aprendizagem tem sido lenta e penosa, apesar das ajudas dos amigos. Questão geracional, provavelmente.
O meu primo João Manuel tem carradas de razão: os computadores são burros que nem uma porta. Porém, cada vez que me ponho a fazer coisas, tenho medo de mandar tudo para a sucata. Há anos, quando sabia menos do que hoje, de uma assentada, mandei à vida quarenta e tais páginas de texto. Andei meses para recuperar do trauma.
Com a criação de blogues, a coisa também não tem corrido bem. Às vezes até parece que faço os passinhos todos direitinhos, mas depois há sempre algo que falha. Neste caso concreto, só consigo entrar através de um blogue amigo, que visitei no dia que o criei. Parece uma coisa sobrenatural e sê-lo-á, provavelmente.

A minha falta de jeito para os computadores e para a informática, com o andar do tempo, ainda se vai tornar uma lenda.
Manuel da Mata