sábado, outubro 13, 2007

HÁ NAS RUAS NA LISBOA

Há nas ruas de Lisboa
Uma graça, um encanto,
Que nelas inda ressoa
Um pregão em cada canto.


O cauteleiro teimoso
Inda persiste, coitado!
Deixou o grito ruidoso,
Vende o jogo sem enfado.


Galhofeiras, as varinas
Têm tanta, tanta graça!
Suas línguas viperinas
São a pimenta da praça.


Eu sinto tanta saudade
Dos ardinas barulhosos.
Coloriam a cidade
Com seus pregões saborosos!...


À tardinha, no Rossio,
- Oh, era bonito de ver!
Os ardinas, em desvario,
Apregoar e a correr.


Mudou tanto esta cidade!
Marcas do tempo imparável,
Causam-me tanta saudade...
Oh, mudança inexorável!


Do pitoresco a saudade,
Que do resto nem pensar!
Nada paga a liberdade
Que o povo pode gozar.


Mas tudo o que permanece,
Genuíno e popular,
Minha alma tanto enternece,
Meu coração faz pulsar.

5 comentários:

Daniel Abrunheiro disse...

Gosto muito disto, Manel.

Alex disse...

O Daniel tem razão, muito bonito Manuel ... mesmo muito.

Real mas terno.
Abraço

José Antunes Ribeiro disse...

Manuel, lembraste-me o António Nobre, queres maior elogio?!

LM,paris disse...

é verdade!
ainda ouvi hà algum tempo, uma vendedeira gritar no bairro alto:
" é do norte! é do norte!
éo grelo, é o grelo,é o grelo!",
adorei, hei-de grità-lo num espectculo! adorei o poema e ouvi tudo, também tenho essas apariçoes sonoras e outras. Bonne nuit!
LM

Manuel da Mata disse...

Ao Daniel
A Alex
Ao Zé
A Lídia

As vossas palavras dão alento.
Guardo-as como um perfume, num frasco bem rolhado. No meu coração, obviamente.
Boa poesia, boa música e alegria, boa pintura e boas edições!
E um abraço fraterno,
Manuel