Há nas ruas de Lisboa
Uma graça, um encanto,
Que nelas inda ressoa
Um pregão em cada canto.
O cauteleiro teimoso
Inda persiste, coitado!
Deixou o grito ruidoso,
Vende o jogo sem enfado.
Galhofeiras, as varinas
Têm tanta, tanta graça!
Suas línguas viperinas
São a pimenta da praça.
Eu sinto tanta saudade
Dos ardinas barulhosos.
Coloriam a cidade
Com seus pregões saborosos!...
À tardinha, no Rossio,
- Oh, era bonito de ver!
Os ardinas, em desvario,
Apregoar e a correr.
Mudou tanto esta cidade!
Marcas do tempo imparável,
Causam-me tanta saudade...
Oh, mudança inexorável!
Do pitoresco a saudade,
Que do resto nem pensar!
Nada paga a liberdade
Que o povo pode gozar.
Mas tudo o que permanece,
Genuíno e popular,
Minha alma tanto enternece,
Meu coração faz pulsar.
5 comentários:
Gosto muito disto, Manel.
O Daniel tem razão, muito bonito Manuel ... mesmo muito.
Real mas terno.
Abraço
Manuel, lembraste-me o António Nobre, queres maior elogio?!
é verdade!
ainda ouvi hà algum tempo, uma vendedeira gritar no bairro alto:
" é do norte! é do norte!
éo grelo, é o grelo,é o grelo!",
adorei, hei-de grità-lo num espectculo! adorei o poema e ouvi tudo, também tenho essas apariçoes sonoras e outras. Bonne nuit!
LM
Ao Daniel
A Alex
Ao Zé
A Lídia
As vossas palavras dão alento.
Guardo-as como um perfume, num frasco bem rolhado. No meu coração, obviamente.
Boa poesia, boa música e alegria, boa pintura e boas edições!
E um abraço fraterno,
Manuel
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