sábado, outubro 27, 2007

O TEMPO

À Alex, que luta denodadamente, com o tempo
O tempo – essa coisa misteriosa que se conta em milénios, séculos, anos, meses, dias, horas, minutos e segundos – alguém saberá ao certo o que é? E no entanto, nada escraviza mais o Homem do que o tempo, que as gramáticas organizam em passado, presente e futuro, mas que, no fundo, é apenas passado e futuro.
O tempo – essa coisa estranha que dá alento aos tiranos e torna precárias as acções dos heróis, que destrói as verdades eternas dos teólogos e os sistemas infalíveis dos filósofos, que tudo e todos condena ao esquecimento – alguém saberá ao certo o que é?
No seu perpétuo fluir, o tempo é o tempo, como diria o delicioso Caeiro.
Para mim, que não sou poeta nem literato, mas simplesmente um amigo de poetas e literatos, o tempo é o sol a levantar-se preguiçosamente do Tejo - é assim que eu o vejo das janelas da casa onde habito- que depois sobe e roda e desce, devagarinho, para desaparecer por detrás das casas, para de novo se levantar das mansas águas do Tejo e subir e rodar e descer e desaparecer e de novo se levantar das mansas águas do Tejo.
Barata, Manuel, FRAGMENTOS COM POESIA, Ulmeiro, Lisboa/2005

2 comentários:

LM,paris disse...

O tempo é o tempo, e assim o mar de palha estremece frente à suas janela e adormece-o. Abraços,
daqui nao vejo o Sena...mas é belo, à noite, adoro. LM

Alex disse...

Surpreendeu-me Manuel, nesta minha luta absurda entre o dia e a noite ... sabe que ainda me dou ao luxo, poucas vezes é verdade, de vir até ao Tejo, sentar-me à beira dele para ver nascer o sol pelo rio. Costumo dizer que Lisboa amanhece pelo rio e é bem verdade.
O tempo!!!! Manuel ... que dizer do tempo em que somos pais de crianças tão pequenas e apenas passamos 2h30 com elas por dia? O que lhes passamos nesse pequeno espaço de tempo?


Fez-me sentir saudade dessas manhãs em que madrugava ... e por acaso vem aí o Inverno, anoitece mais cedo, amanhace mais tarde.

Um abraço muito grande Manuel.