segunda-feira, outubro 22, 2007

PEDRO E INEZ


Santa Iria de Azóia, 22 de Outubro de 2007-10-22

Lídia,

Henry de Montherlant acaba de me anunciar a morte de Inez. Não me deu conta dos pormenores; porém, com alguma cópia me falou do estado em que encontrou o príncipe, esta manhã, quando, após longa e cansativa cavalgada, chegou a Santa Clara.
Desesperado, Pedro ora contemplava, em silêncio, o rosto da sua bem-amada, ora irrompia, enlouquecido, por entre os presentes, prometendo vinganças futuras. Ninguém, mesmo entre os mais íntimos, ousava pronunciar uma palavra. Nunca, por amor, se vira tanta cólera e silêncios tão sepulcrais!
Inez viera com Constança e cedo conquistara o coração do príncipe. Era no seu alvíssimo colo, marfinado, como diz Lídia, que Pedro dava descanso ao fogoso corcel que o habitava. E era na alcova, após amorosas refregas, de dedos ainda entrelaçados, que Pedro pensava o futuro de Portugal.
Estulto, o povo, que apenas fornicar sabia, acusava este amor de mancebia e exigia do rei a resolução do caso. Filho de santa, o rei, que de seu pai não herdara os dotes do amor, ouviu os conselheiros e disse sim às suas pretensões.

O pior foi o que veio depois!

5 comentários:

LM,paris disse...

Bonsoir manuel, esperamos com impaciência o resto...apanhou o bichinho do mito inesiano, o que é bom , continue quero ler tudo!
Quando fôr ai levo o dossier da inez para vos mostrar os ultimos desenhos, as fotos...acampanhe-me nesta lida,
a etopeia continua, "parece-me ver tudo descolado do mundo",
um beijinhos,
LM,Paris______ estao três graus...

Manuel da Mata disse...

Bonsoir Lídia,

Eu tenho o bicho do mito inesiano há muitos anos. Assim como o de todos os pares amorosos famosos. Ainda ontem estive a pesquisar sobre Tito e Berenice. Mas interessam-se também as construções mitológicas puras como Eneias e Dido, Tristão e Iseut e ainda Romeu e Julieta, etc.
Quando ensinava Português, detinha-me muito tempo no episódio Castro d' Os Lusíadas,
ainda que seja de opinião que tem uma importância desmesurada na epopeia.
Agora vai ter que esperar uns dias, porque ando às voltas com uma monografia que também é um modesto trabalho de linguística. Mas hei-de ter tempo para conversar com os amigos.
Beijinho, Lídia.

Anónimo disse...

E cá estou eu, às 21.08 a estudar no Serviço...
Que história será a de Eduardo e Catarina?
Há coisas que nos desgastam...
Lentamente, imperceptivelmente.
Que será de nós, seres humanos, tão pequenos, tão sozinhos, a enfrentar coisas tão grandes?...
Anónimo pouco anónimo.

Manuel da Mata disse...

A vida é feita de opções. Temos de pagar um preço pelas nossas escolhas.
Valerá a pena?
Discutindo tudo abertamente, chegarão, seguramente, a uma conclusão. Discutam tudo, que é a discutir que iluminamos as nossas vidas.
Um abraço.

Daniel Abrunheiro disse...

Manel, uma curiosidade para ti, que tão inesiano és: em 1910, o poeta inglês Ezra Pound (gajo difícil) publicou uma coisa chamada The Spirit of Romance. O 10º capítulo da obra era dedicado ao Camões epopeico. O capítulo em questão foi publicado pela Fenda na década de 80, salvo erro. O que se nota à vista desarmada é que ao Ezra, que mal sabia alguma coisa de português, escapou a dimensão lírica do nosso Luiz. Mas gostou muito do episódio Pedro/Inês - e depois poetizou, ele-mesmo, sobre ela.´
Era só para te aguçar o apetite: se me deres endereço, fotocopio a brochura da Fenda e envio-ta, juntamente com o abraço de sempre.
D.