Em Portugal, não há invejosos. Perguntem a cada indígena se é invejoso e verão a resposta que obtêm. Que não, que é sentimento que não experimentam, mas que têm vizinhos com esse maldito defeito, a que também chamam “dor de cotovelo” e “dor de corno”. Quanto a esta última expressão não a voltarei a repetir, devido ao respeito que devo à pátria de Fernando Pessoa, ainda que nela se tenham expressado bastardos como Bocage e Natália Correia e também ao sentimento de nojo que nos devem merecer todos aqueles que, atraiçoados devida ou indevidamente pelas consortes, sofrem, para além da própria “coita” individual, o opróbrio de uma sociedade mexeriqueira e mesquinha.
Estou firmemente convencido de que os portugueses e as portuguesas - a ordem é arbitrária - só não têm inveja dos... hasteados de um e de outro sexo. No que concerne à generalidade das coisas da vida, é óbvio que somos invejosos. Invejamos a loira que coube em sorte ao nosso vizinho do quinto andar; invejamos a bruta vivenda do nosso amigo, ainda que gostemos de lá ir a pretexto de um copo e de dois dedos saudosos de conversa; invejamos o BMW, último grito, adquirido pelo proprietário do supermercado onde compramos as cervejolas; invejamos o cargo de direcção ocupado por um antigo condiscípulo, que nunca dera nas vistas enquanto estudante, mas que teve inteligência para ir desbravando caminhos, atropelando tudo e todos; invejamos até, pasme-se, um naco de prosa escorreita e telúrica como a que produziu Miguel Torga.
Obviamente que só invejamos as coisas boas, porque as más..., essas, que fiquem para os outros! É como na história do bêbado, todos reparam nos copos que bebe, mas poucos se ralam com os trambolhões que dá.
Para além dos execráveis prestamistas, que constituem a mais abominável casta de invejosos; há aqueles que, sendo tão invejosos como os restantes, andam permanentemente a falar de justiça, como se fosse possível realizá-la, a partir de um sistema que só sabe gerar injustiça. Aprendi a desconfiar, há muitos anos, daqueles que por tudo e por nada falam de justiça.
Para terminar, quero abordar o problema da competição. Penso que esta é salutar, desde que não seja embotada pela inveja. E sobretudo, se não derrogar os antigos códigos éticos. Porque a competição que condena o indivíduo a viver no seu metro quadrado e com os olhos permanentemente cravados no próprio umbigo, capaz de cilindrar o adversário na curva mais apertada, faz deste competidor um ser mais abominável que o próprio invejoso.
1 comentário:
Que inveja, Manel!...
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