terça-feira, dezembro 19, 2006

ACTUALIDADE

Santa Iria de Azóia, 17 de Janeiro de 2003 – Está na moda dizer mal da Função Pública. Diz o director do jornal e o patrão dos patrões, o homem do governo e o da oposição, o cidadão comum e o mais altamente colocado, o inteligente e o estúpido, etc. É a grande fraternidade para um regabofe de maldizer.

E os funcionários públicos merecem o chorrilho de disparates que sobre eles se vai dizendo e insinuando, porque, de um modo geral, os “opinantes” são uma cambada de ignorantes que não sabem fazer – ou não querem fazer a destrinça – das coisas. Os funcionários públicos são apenas os meros executantes, em muitos casos sem meios, do frenesim legislativo dos políticos governantes e do parlamento, cujo fito é controlar, controlar cada vez mais a vida dos cidadãos, para poderem controlar o poder – supostamente democrático – que exercem despudoradamente, ora mentindo, ora simulando falar a verdade.

Há, com certeza, muitos calaceiros na Função Pública. Há, com certeza, quem se aproveite da função para obter vantagens. Há, com certeza, muita gente que deveria estar algures, longe da coisa pública, para que as águas deixem de estar inquinadas. Há, com certeza! Mas há, igualmente, homens e mulheres honestos. Há, igualmente, centenas de milhar de pessoas que merecem respeito e consideração. Não me seria difícil contar aqui meia dúzia de situações que ilustram a desfaçatez de muitos dos tratantes da coisa pública.

O mito do privado é um mito e como todos os mitos, como dizia Pessoa, é o tudo que não é nada. Há bons e maus privados como há bons serviços públicos e bons servidores da coisa pública. Há muitos privados que, não fosse a política a miséria que é, estariam atrás das grades, porque são verdadeiros crápulas. A começar pelos que detêm os cordelinhos do mundo financeiro. Com a banca à cabeça, obviamente.

Esta onda de maledicência que varre a Função Pública esconde apenas culpas próprias de agentes vários, incapazes de alinhavar meia dúzia de ideias para reformar o que tem de ser reformado. Portugal é um país de pulhas e sacanas.


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