segunda-feira, dezembro 18, 2006

O NATAL

Lisboa, 23 de Dezembro de 2002 – O Natal começa a tornar-se uma quadra aborrecida. Anda toda a gente num frenesim desenfreado, como se o mundo fosse a acabar: viagens, prendas, almoços, jantares, jantares, almoços, prendas e viagens. É a loucura quase total. Riem-se os comerciantes de tudo e mais alguma coisa e cantam os industriais da restauração. Esquecem-se por uns dias as carências quotidianas para se gastar o que se não tem.

Na minha infância o Natal era diferente: minha mãe fazia filhoses, cantava-se o menino Jesus à roda dos madeiros e ia-se à missa do galo. No dia de Natal estreava-se uma camisola ou uma camisinha e brinquedos não havia. É verdade que a quadra não transpirava esta fraternidade actual, mas era, quanto a mim, muito mais autêntica.

D. Quixote eclipsou-se e quem manda agora é Sancho Pança. Temos de esperar que volte D. Quixote, para que a quadra reganhe o seu simbolismo e alegrias tradicionais. Esta fraternidade cheira-me a uma coisa que não vou nomear. Ou se insistem nomeio. Hipocrisia! Arranjinhos de comerciantes e quejandos para desgraçarem as nossas bolsas.

Aqui ficam três quadras da minha infância, que todos cantávamos do Natal até aos Reis:

Ó meu menino Jesus,
Ó meu menino tão belo,
Logo vieste nascer,
Na noite do caramelo!

Eu fui dar ‘ma volta ao adro
O madeiro está arder,
O presépio está armado
E o Menino por nascer.

Lá vai a barca bela,
Que a fizeram os pastores,
Nossa Senhora vai nela,
Toda coberta de flores.

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