quinta-feira, dezembro 28, 2006

A LUXÚRIA

“Segui, ó gente mortal, o exemplo das deusas
e não negueis o prazer, que vos é natural, aos homens que vos desejam.
Mesmo que logo depois vos enganem, que perdeis? Tudo fica no seu lugar;
ainda que mil vos possuam, nem por isso alguma coisa se perde”.
Ovídio, Arte de amar, Livros Cotovia

“ Conhecera Teresa mais ou menos há três semanas numa cidadezinha da Boémia. Só tinham passado pouco mais de uma hora juntos. Ela acompanhara-o à estação e tinha esperado até ele entrar no comboio. Dez dias mais tarde, veio vê-lo a Praga. Fizeram amor logo no próprio dia da sua chegada”.
Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser

“oh! que o não saiba ele ao menos, que não suspeite o estado em que vivo… este medo, estes contínuos terrores que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor. –Oh que amor, que felicidade…” (Madalena)
Garrett, Frei Luiz de Sousa


Por razões da minha vida pessoal não me foi possível consultar as obras necessárias para, acerca da luxúria, vos fornecer todo um manancial de citações, que ilustrariam melhor este tema do que as minhas palavras. Luxúria significa, como todos bem sabeis, sensualidade e libertinagem, nomeadamente. E é um dos sete pecados capitais.

Conheceis, certamente, a expressão “até os bichinhos gostam”. Tem mais uso junto do elemento masculino, mas concordareis que se trata de uma bela observação, que a vasta Natureza nos proporciona. E porque amar é tão natural como respirar, podem vir todas as doutrinas, podem chover catecismos, todos os conselhos, todas as bulas, que a força do desejo será sempre superior a todas as imposições de ordem moral e outras.

Pois “ se até os bichinhos gostam”… Façam todas as vontades ao corpo e ao espírito, no domínio da sexualidade. Sigam os sábios conselhos do imortal Ovídio. Aprendam e pratiquem a arte de amar. Na verdade, só amando lograrão atingir a felicidade. Mandem às malvas a temperança que os catecismos prescrevem! Mandem às urtigas todas as restantes virtudes, teológicas e cardinais, porque Deus perdoa sempre, e, nos tempos que correm, os virtuosos estão fora de moda.

Vou concluir com a sensação de que este pecado merecia um tratamento mais eficaz e desenvolvido. Deixo-vos, no entanto, um conselho: sejam pecadores metódicos; não se envergonhem de ser felizes; tornem as vossas vidas coloridas e interessantes.

2 comentários:

papu disse...

É isso mesmo. O prazer não pode ser pecado.

Boas festas e tudo de bom para 2007.

José Antunes Ribeiro disse...

Manuel,
Comentei os outros pecados...Não me eximirei a este e por isso o meu conselho só pode ser o de um personagem o Afonso, do meu "Rio do Esquecimento" que nos diz :" Na minha opinião tudo tem um fim e o fim de tudo só pode ser um, o amor acima de todas as coisas, amem-se então uns sobre os outros." !...
Um 2007 cheio de saúde para ti e todos os teus.