quarta-feira, abril 11, 2007

QUADRAS

Uma quadra bem urdida,
Na mais pura tradição,
Tem de ter justa medida,
Sentimento e emoção.

*

Portugal é ‘ma desgraça
E de aldrabões bom retiro.
O povo vive com traça,
Enriquece o ti Belmiro.

*

Inda conheci Lisboa,
No falar bem colorida.
Era urbe franca e boa,
Muito alegre e divertida.

*

Ia-se à Feira Popular
Pelo cheiro da sardinha.
E as criadas namorar,
Quando vinham da terrinha.

*

Que é feito do bom tintol
Das tascas d’antigamente?
Canta, canta rouxinol,
Que anda triste a nossa gente.

*

Castelo Branco tem praia,
Disseram na tel(e)visão.
E a boa gente da raia
Vem a banhos de excursão.

segunda-feira, abril 02, 2007

FRAGMENTOS DO MEU DIÁRIO

Será que o senhor Paulo de Azevedo vai cumprir a promessa, depois das peripécias da OPA lançada sobre a PT?
Santa Iria de Azóia, 13 de Novembro de 2000 - Um tal Paulo Azevedo, que não sei quem seja, ameaça, segundo o “Expresso” de sábado, abandonar Portugal, se não lhe derem uma parte no negócio das telecomunicações(?).

Já escrevi neste Diário que o patriotismo é um sentimento das classes populares. O povoléu é que se entretém com os negócios estéreis de lutar por territórios e por pátrias, As pessoas bem-nascidas dedicam-se a negócios outros, mais produtivos e agradáveis. São eles que tudo dominam. Escolhem os governadores a seu bel-prazer, mesmo que tenham de os submeter a uma pretensa escolha popular. Vejamos: Balsemão é dono do “Expresso” ( de algumas publicações mundanas) e da SIC; Azevedo(s) é dono do “Público” e mexe com as telecomunicações e com a distribuição alimentar; a PT, que neste momento não sei ao certo de quem é, é dona do “DN”, da “TSF”, do “Jornal de Notícias”, do “Jornal do Fundão”, de quase todas as salas de cinema do país, etc. É esta gente que decide quem nos governa. É esta gente que suga as tetas da pátria até ao tutano. É esta gente quem come tudo e não deixa nada, como cantava o saudoso José Afonso. E é esta gente que, quando não é apaparicada como julga merecer, ameaça desertar. Que desertem, pois, todos estes patriotas do cifrão, que fazem tanta falta como uma viola num enterro. Porque outros virão para sugar a teta da pátria até ao tutano.

Refractários a ideais nobres, os grandes senhores tratam a pátria como uma vulgar prostituta. Servem-se dela enquanto precisam e renegam-na logo que se apanham servidos. Decididamente, o patriotismo é um sentimento do povoléu estulto, boçal e inculto.

sexta-feira, março 30, 2007

FRAGMENTOS DO MEU DIÁRIO

Para o Zé Ribeiro, amigo de ambos.
Santa Iria de Azóia, 24 de Setembro de 2000 - António Lobo Antunes, comummente considerado l’ enfant terrible da literatura portuguesa, recebeu hoje, na Casa de Mateus em Vila Real, o Prémio D. Dinis. Não é conhecida nenhuma das habituais reacções do autor de Manuel dos Inquisidores. Assim, poder-se-á dizer que o Portugal institucional e o escritor estão de pazes feitas. Por outras palavras: como a idade tudo traz, António tornou-se, também ele, mais institucional. De velho, oxalá, há-de morrer nesta nossa querida terra lusa, com todos os sacramentos cristãos ministrados.

Tinha algum jeito deixar-nos aqui mais sós e ir viver na tola América ou na bárbara Alemanha? Lá onde ninguém saberia sofrer e torcer pelo Benfica?
Lisboa, 4 de Outubro de 2000 - Nunca imaginei António Lobo Antunes a posar para a posteridade com o neto ao colo. Agora é absolutamente seguro de que já não emigrará.

Afinal de contas os portugueses estimam-no e até lhe permitem viver só da escrita. Será que se despediu do Miguel Bombarda? Ou estará com licença sem vencimento? Ou nem uma coisa nem outra? É evidente que Lobo Antunes é uma personalidade importante, mas diz coisas mais ou menos irresponsáveis. Se desde tão cedo sentiu aquela necessidade irreprimível de escrever e se assume como um artífice da palavra, um artífice que trabalha a palavra como o ourives trabalha a filigrana, então é seguro que o trabalho do psiquiatra foi relegado para segundo plano.

Sou um leitor de Lobo Antunes, desde Memória de Elefante. De Lobo Antunes e da sua obra tenho falado aos meus alunos. Achei imensa piada ao mais irreverente dos escritores portugueses dos últimos vinte anos, sobretudo quando perdia imenso tempo à procura de um naco de prosa sem palavrões para preparar exercícios. Mas este Lobo Antunes de neto ao colo... É homem para nos fazer grandes surpresas. Um dia destes, mordido pelo remorso, faz as pazes com José de Sousa e volta a acreditar na política. Votam ambos em Sampaio para Presidente e candidatam-se pela CDU à Assembleia Municipal de Lisboa.

quarta-feira, março 28, 2007

terça-feira, março 27, 2007

ERÓTICAS

Texto anónimo, encontrado
recentemente em Jerusalém.


Ao fundo da barriguinha,
tens uma porta secreta.
É a passagem prá vinha,
muito real e concreta.

Quando nela poiso a mão,
depressa se ergue a tranquita.
Devagar transponho então
essa dilecta portita.


E depois perco o juízo
como o velho Salomão.
E uma vez no paraíso
é copular até mais não.

segunda-feira, março 26, 2007

CASCAIS (MAR DO GUINCHO)


O Céu, o Mar e a Terra. E um busto, de costas, na paisagem.

CASCAIS (FAROL DO GUINCHO)


Ali onde o mar entra quase pela terra dentro e o marulhar das ondas faz sonhar com viagens nunca realizadas.

MR FRED


Este gato - quase um tigre -, é muito cioso da sua independência.
Raramente se afasta do jardim, onde mastiga ervas e aprecia o odor das flores e das plantas.
Se não tivesse nome inglês, seria o meu eleito para o maior português de todos os tempos. Asim como assim.

domingo, março 25, 2007

SANTA IRIA (PARQUE URBANO)


A arborização ainda é escassa; todavia, novas árvores têm sido plantadas e já se podem ver conjuntos de arbustos com algum porte, como na fotografia.
Agora há que dar tempo ao tempo.

SANTA IRIA (PARQUE URBANO)


A antiga lixeira de Santa Iria de Azóia deu origem a um parque urbano com múltiplas valências e que poderá desempenhar um papel importante no futuro desta freguesia do concelho de Loures, servida pela A1 e pelo IC2.
Na fotografia vê-se um pequeno anfiteatro, na zona infantil do parque.

sexta-feira, março 23, 2007

CONFISSÃO

Estou a ficar cansado - não do débito e crédito Rosiano -, mas das alíneas dos números dos artigos das leis e dos decretos-leis, produzidos por juristas preclaros, e também dos números das circulares e dos ofícios-circulados, através dos quais os directores –gerais, debitam para o vulgar o que se deve entender que entenderam, repito, os preclaros juristas.

Não sou um funcionário triste nem alegre, porque a um funcionário não se pede nem se paga para ser triste ou alegre. Um funcionário é um funcionário, despido de adjectivos, como diria o sempre delicioso Caeiro. Cansado, sim, que a leitura e a exegese das alíneas dos números dos artigos das leis e dos decretos-leis, absorvem e ocupam um espaço desmesurado na minha mente.

Objectivamente, sou um funcionário cansado e estranho que só agora me ocorra este cansaço, quando passei muitas tardes de domingo a olhar o Tejo e os bandos de aves em viagem e eu fui ficando, ficando, ficando e nunca arranjei coragem para mandar às malvas as alíneas dos números dos artigos das leis e dos decretos-leis e ir com as aves.

SONETO (PORTUGUÊS) -IX

Nuno foi o braço e a mente
Que Portugal defendeu
Da castelhana gente.
Títulos e riquezas recebeu
De seu amigo João de Avis,
Cujo arnês envergou
Quando Leonor, mãe de Beatriz,
Cavaleiro o armou.
Destemido herói medieval,
Escolheu o caminho certo
E terçou armas por Portugal.
Ilustre patrono da infantaria,
Nuno foi o grande arquitecto
Da lusitana soberania.

terça-feira, março 20, 2007

DIA MUNDIAL DA POESIA

Dá-me alegria,
ó musa,
para celebrar
a poesia!

E não me faltes
com a tusa,
neste dia!

Ouve bem,
musa,
alegria
e tusa,
ou tusa
e alegria,
tanto faz!

segunda-feira, março 19, 2007

SONETO (PORTUGUÊS) - VIII

Era Verão… E Mariana ardia,
Na fresquidão dos claustros.
Caóticos,
Os seus pensamentos voavam,
Voavam obre as montanhas,
As planícies e os rios.
Em vão procuravam
O cavaleiro Chamilly.
De seus olhos negros,
Lágrimas apaixonadas caíam.
Lágrimas sentidas,
Que Chamilly jamais veria.
E na fresquidão dos claustros
Mariana ardia… ardia…

sexta-feira, março 16, 2007

SE EU FOSSE COMO CAMÕES

Republicação


Se eu fosse como Camões,
Havia de te fazer,
Amor, versos geniais,
Muitas trovas de encantar!

Pintar-te-ia morena
E de outras cores sadias.
Blusa vermelha decerto
E calças de ganga azul.

Assim irias à fonte
- Discreta como se vê -,
Leda e bela ao meu encontro.

E haveria de deixar
Teu rosto ruborizado
Com mil beijos, mil ou mais.

quinta-feira, março 15, 2007

JUNHO

Plácido o tempo fluía,
as cigarras cantavam
e as cerejas amadureciam.


E dentro de nós,
ai amiga!,
o divino fogo ardia.


De mão na mão,
apressados,
descíamos até ao rio
e era à sombra dos freixos,
paulatinamente,
que tudo acontecia.

MATA (UNIÃO FELIZ)


Oliveiras e citrinos dão-se às mil maravilhas nos terrenos argilosos da Mata.
Laranjas era a fruta mais abundante na aldeia.
E os figos já em pleno Verão.
É. É o clima mediterrânico da Mata.

terça-feira, março 13, 2007

MATA (OLIVAL)


Este é um olival velho e que acusa a proximidade da povoação.
Diz-se que os olivais não querem ver casas. O certo é que as oliveiras perto da povoação são diferentes: de menor porte e com mais ramos secos.
Vá-se lá saber porquê...

segunda-feira, março 12, 2007

AMO

Amo os dias luminosos
E fogosos do Verão,
À beira mar, vagarosos
E com muita animação.

Amo as formosas gazelas
Nos suaves areais.
Meus olhos partem com elas
Em seus passeios ‘stivais.

Amo os frutos saborosos,
Porém, o Outono não.
Quando cinzento e chuvoso
Lança-me na depressão.

Amo o crepitar do pinho
E uma boa cavaqueira.
Amo a cor rubi do vinho,
No conforto da lareira.

MATA (CAPELA DE S. PEDRO)


Suponho que é uma construção dos fins dos anos quarenta ou princípios dos anos cinquenta. Prima pela simplicidade.
Ali mora S. Pedro, sozinho, que é uma espécie de sentinela avançada para defesa da população da Mata.
À frente da capela, jogávamos futebol tardes inteiras. Sem uma gota de água para molhar a garganta.

domingo, março 11, 2007

MATA (OLIVAL)

A oliveira precedeu, obviamente, a fundação da Mata.

E terá conferido aos seus habitantes o traço mais marcante da sua personalidade: a perseverança.

Assim foi no passado, assim é no presente e assim será no futuro.

MATA (LIMOEIROS E OLIVEIRAS)


A Mata é conhecida pela qualidade do seu azeite e das suas azeitonas; porém, os citrinos e a figueira dão-se ali às mil maravilhas.
A fotografia é um naco da paisagem de um sítio chamado Senhora dos Caminhos, mesmo à beira da estrada.

sábado, março 10, 2007

sexta-feira, março 09, 2007

DO AMOR

É em pequenino
Que se aprende
A amar a sério,
Porque o amor,
Aprendido assim,
Não tem mistério.

quinta-feira, março 08, 2007

AMIGO de MONTESINHO

Antero dos Inocentes,
Trovador de inspiração,
Dá-nos versos comoventes:
Uns com mais fel, outros não.

Arranja sempre um motivo
Para versejar com graça.
Ora calmo ora emotivo,
Bonitos retratos traça.

Nunca perde a compostura,
- quem me dera ser assim! –
arranha com tal doçura,
com ironia sem fim…

Há dias até ousou
‘screver ao senhor Bagão.
E com risinhos mostrou
Como vai esta nação.

O seu culto da humildade
Não s’ pode levar a mal.
É um poço de qualidade,
Coisa rara em Portugal.

MATA (CASA-OFICINA)


A casa de materiais heterogéneos de três portas e uma janela, foi a residência e a oficina de sapateiro de Manuel dos Santos.
Tem seguramente uma das fachadas mais interessantes de todas as construções da Mata.

quarta-feira, março 07, 2007

Mr FRED


Um dos gatos cá de casa.
É o Mr Fred e vê-se que tem porte de lord.
Exímio caçador, temos mais apreço por ele
do que pelo reverendo Bonifácio de Eça.

terça-feira, março 06, 2007

MATA (UM FORNO EM RUÍNAS)


Na fotografia, vêm-se as ruínas de um antigo forno.
Trata-se, concretamente, do forno do ti Zé Balhau, no Bairro de Baixo.
Ali foi cozido o pão que matou a fome a muitos matenses.

segunda-feira, março 05, 2007

O CASTELO DE SESIMBRA


Do cimo das suas muralhas, vê-se terra e mar, o que é um privilégio raro.
Não tem a imponência doutros castelos portugueses; porém, poucos gozarão de tão imponente localização.

domingo, março 04, 2007



Prefiro rosas, meu amor, à pátria,

E antes magnólias amo

que a glória e a virtude.

Ricardo Reis, Odes.

MAGNÓLIAS


Só ter flores pela vida fora
Nas áleas largas dos jardins exactos
Basta para podermos
Achar a vida leve
Ricardo Reis, Odes.

sexta-feira, março 02, 2007

MATA (CENTRO DE DIA)


Vista lateral do Centro de Dia de Santa Margarida da Mata.
No local existiu, o lagar dos irmãos Melo.
É uma obra importante para a terceira idade e para a população em geral, porque ali funciona o POSTO MÉDICO da freguesia.

quinta-feira, março 01, 2007

PONTE VASCO DA GAMA


Vista da minha casa, em Santa Iria de Azóia.
Para além do céu nublado, vê-se a cobertura da estação de tratamento do lixo de S. João da Talha e a chaminé da Covina.

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

COMO SE FOSSE ONTEM

Novembro de 1979. Vinte e nove ou trinta, pouco interessa. Batem as três da madrugada, no aeroporto da Portela. Vem de Tunes ou de outro sítio qualquer. Yasser Arafat, o mouro, pisa terras cristãs de Luso. Silas Cerqueira, Cunha Serra, Gualter Basílio e outros, aguardam o terrorista que fala como os poetas.
Lisboa é o centro do mund. Eden Pastora - que depois foi o que se sabe-; chega com passaporte diplomático, mas sem um tostão para gastar. Pedro Medina, que os deuses chamaram a si muito cedo, pagou medicamentos do seu próprio bolso. Daniel Ortega é o homem forte em Manágua.
Nanna Amida, do Assafir de Beitrute e do Le Monde, havia de chegar depois, com os seus cabelos de azeviche sobre as nádegas. Sim, a porta-voz dos negociadores de Bagdad, na Suiça, antes da primeira guerra do Golgo.
Lurdes Pintasilgo é a chefe do governo de Portugal. Ramalho Eanes, o presidente. Lisboa é o centro do mundo e Portugal um país decente.
Arafat, na Aula Magna, declara que já não há lugar para mais mortos na Terra Santa da Palestina.
Portugal é ainda anfitrião de causas nobres. Lisboa é o centro do mundo!

terça-feira, fevereiro 27, 2007

MEMÓRIA

MEMÓRIA

(Em memória de minha avó paterna,
Maria, de seu nome completo).

Vejo-te sempre ali
Junto à lareira
No teu banquinho sentada
Os olhos muito abertos
Mas já sem brilho.


Vejo-te sempre ali
Junto à lareira
De viuvez vestida
Ansiosamente olhando
Mas não vendo nada.


Vejo-te sempre ali
Junto à lareira
Velho tronco devastado
Pelo simples fluir
Inexorável dos dias.


Vejo-te sempre ali
Junto à lareira
Vivo o lume
Os olhos muito abertos
Mas já sem brilho.

domingo, fevereiro 25, 2007

YASSER ARAFAT

Nas ruínas da Muqata
- o seu quartel-general -,
em campa muito pacata
jaz um mito universal.

Muitas vezes foi vencido,
Mas nunca foi derrotado.
De seu povo era querido,
Pelo mundo respeitado.

Era o homem do turbante
Por Israel combatido.
Físico insignificante?
Sim, mas forte e decidido.

Combatente de primeira;
Contudo, sempre acossado.
Era o mastro e a bandeira
da Nação-futuro-Estado

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

AS NOSSAS OLIVEIRAS

Viram-te nascer e conhecem de cor os teus segredos. Foram a tua companhia, silenciosa e segura, durante centenas de anos.

Deram-te sombra, nem sempre boa, é certo, nos tórridos dias do Verão; a luz possível, antes do advento da electricidade; o calor nos Invernos, às vezes, tão longos e rigorosos; o tempero para a panela pobre, que tornava o feijão e a couve menos ásperos; o dinheiro para muitos dos restantes e indispensáveis bens.

E também, é justo que se diga, muito e aturado trabalho e servidão.

De qualquer modo, moldaram-te o carácter. Com elas aprendeste a mansidão e a austeridade. Por isso mesmo, nunca foste dada a sobressaltos e a paixões. Em toda a minha vida, apenas ouvi falar de um crime passional, perpetrado por um homem, a quem o amor de uma mulher não quis servir. Foi muito antes de eu ter nascido e já passei há muito pelos cinquenta.

Benditas sejam para sempre as nossas oliveiras!

terça-feira, fevereiro 13, 2007

MEMÓRIA E DRAMA

Nas manhãs de Junho,
Quando o sol tudo doirava,
A nossa casa era também
A sombra da oliveira
Do outro lado da rua.

Guardo memória, mãe!,
Da nossa rua térrea
E vejo-te jovem
Algodão dobando
À sombra da oliveira
Do outro lado da rua.

Nas manhãs de Junho,
Quando o trigo amadurecia
E eu brincava brincava
À sombra da oliveira
Do outro lado da rua.

Fazia-te mil perguntas
- mil ou muitas mais -
E tu respondias sem enfado
À sombra da oliveira
Do outro lado da rua.

E eu era feliz
E tu eras feliz, mãe!,
À sombra da oliveira
Do outro lado da rua.

Do outro lado da rua
À sombra da oliveira.

domingo, fevereiro 11, 2007

O FLUIR DO TEMPO

O tempo tudo devora
no seu fluir incessante.
Muda o mundo em cada hora
e a verdade em cada instante.

Vão as horas vão os dias,
vão os meses vão os anos;
Breves são as alegrias,
tantos são os desencantos.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

SIM

Termina hoje, à meia-noite, a campanha de propaganda pró e contra a chamada interrupção voluntária da gravidez (IVG). Domingo, através do instituto do referendo, os portugueses vão exercer o seu direito de voto e dizer de sua justiça.
A campanha termina apaixonadíssima na blogosfera; porém, um tanto ou quanto chocha, nas ruas e nos espaços públicos tradicionais. Ainda assim, têm-se ouvido até à exaustão velhos argumentos e pseudo-argumentos, nomeadamente por parte dos defensores do NÃO, que são os mesmos do costume, menos o major Valentim Loureiro.
Da parte do SIM, porque alguém lembrou que era bom não radicalizar a questão, os seus defensores têm sido efectivamente comedidos e de um modo geral repetitivos. Pugnam por uma causa que reputam de justa e indispensável para acabar com a igomínia do aborto clandestino.
Sou defensor do SIM pelas seguintes razões:
1. Sendo uma questão do foro íntimo da mulher, penso que não tenho o direito de exigir ao Estado, que, em nome da sociedade, puna as mulheres que decidam abortar até às dez semanas.
2. Penso que a sociedade não tem o direito de impor regras a seu bel-prazer - e de punir as mulheres que recorrem ao aborto, quantas vezes em condições infames -, quando é incapaz de ser equitativa e solidária.
3. A lei existente é retrógrada - e por isso mesmo é tão desrespeitada -, e só beneficia os negócios obcuros que se instalaram à volta do aborto clandestino.
4. Quero que os meus impostos sirvam para tratar também desta questão de saúde pública, porque desejo que as minhas concidadãs sejam tratadas com o respeito que é devido a todos os seres humanos.
5. Desejo que a natalidade ocorra de forma livre e consciente.
Se os meus leitores, que não conheço na sua totalidade, me puderem acompanhar nesta escolha, domingo votaremos SIM.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

CONVERSAS INACABADAS

Nunca diremos tudo o que havia para dizer, porque é da natureza das coisas as conversas ficarem inacabadas. É certo que por pudor – ou outra razão qualquer –, passamos ao lado de coisas importantes, decisivas, fundamentais. Foi sempre assim e assim continuará a ser.

Quando eu era menino e me perguntavas de quem eu gostava mais, se de ti ou de minha mãe, respondia-te da forma mais convencional, ortodoxa, previsível: gosto dos dois. E hoje sei, de ciência segura, quão verdadeira era a minha pueril resposta.

Nunca te terei dito “gosto muito de ti”, ou “és o meu ídolo” ou ainda “amo-te muito”. Estas coisas comezinhas estavam para além da nossa gramática quotidiana e excediam a nossa intimidade comedida E no entanto, ambos sabemos quanto nos amámos sempre.

Estas palavras, que neste momento escrevo, entre um café e dois golos de água, não as ouvirás jamais da minha boca. Ainda por pudor, não era hoje que te iria dizer estas coisas, que apenas aumentariam a tua comoção. O que te juro – é palavra de homem –, é que tens um lugar único, no meu coração.

sábado, fevereiro 03, 2007

TRIPTICO

I
Para o José Ribeiro, que ouve Bach.

E logo hoje,
Que eu precisava tanto de um dia azul,
Alegre e límpido,
(oh, se precisava!)
A Natureza submerge-me de cinzento,
Tristeza e bruma.


Que mal te terei feito,
Pergunto-te,
Para me tratares assim,
Ó grande Mãe?!

Porque contrarias,
Tão pertinazmente
Os meus desejos simples
De azul, alegria e limpidez?

Porquê?

II

Eu aprecio imenso
As fotografias geladas
E brumosas
Da Papu
E do Daniel Abrunheiro.

Porém,
Trago em mim a ansiedade
Das amendoeiras floridas
No fim de Fevereiro.

III

Definitivamente,
O meu tempo é outro:
Abril
Com suas águas mil
(ó grande António Machado!);
Maio
Com todas as flores;
Junho
Com os primeiros figos
E cerejas maduras.

Definitivamente,
O meu tempo é outro.