sexta-feira, março 23, 2007

CONFISSÃO

Estou a ficar cansado - não do débito e crédito Rosiano -, mas das alíneas dos números dos artigos das leis e dos decretos-leis, produzidos por juristas preclaros, e também dos números das circulares e dos ofícios-circulados, através dos quais os directores –gerais, debitam para o vulgar o que se deve entender que entenderam, repito, os preclaros juristas.

Não sou um funcionário triste nem alegre, porque a um funcionário não se pede nem se paga para ser triste ou alegre. Um funcionário é um funcionário, despido de adjectivos, como diria o sempre delicioso Caeiro. Cansado, sim, que a leitura e a exegese das alíneas dos números dos artigos das leis e dos decretos-leis, absorvem e ocupam um espaço desmesurado na minha mente.

Objectivamente, sou um funcionário cansado e estranho que só agora me ocorra este cansaço, quando passei muitas tardes de domingo a olhar o Tejo e os bandos de aves em viagem e eu fui ficando, ficando, ficando e nunca arranjei coragem para mandar às malvas as alíneas dos números dos artigos das leis e dos decretos-leis e ir com as aves.

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