sexta-feira, junho 29, 2012


o antigo edifício dos correios
Santa Iria de Azóia, 29 de Junho de 2012 – Vistas bem as coisas, a democratização do ensino começa ainda nos anos sessenta. Por imposição do crescimento industrial e também graças à forte emigração verificada nas zonas do interior. Castelo Branco não fugiu à regra, tendo assistido à partida de muitos milhares de camponeses e trabalhadores da construção civil. Primeiro os homens e depois as mulheres. E os filhos, que ficavam entregues aos avós, podiam agora transpor o limiar da escola técnica. O liceu de Nun’ Alvares continuava destinado aos do costume e assim continuou até ao 25 de Abril.

Não era de ensino e de democratização de ensino que eu queria falar hoje, que não é tema que domine bem. Eu falo de coisas mais triviais, que os sociólogos e outros cientistas sociais ignoram. Hoje quero falar de matraquilhos, que eram muito populares na cidade, nos anos sessenta, com largas dezenas de mesas espalhadas por todo o perímetro urbano: na Rua dos Prazeres, a dois passos da Sé, era o “Tonho dos Bonecos”; numa quelha daquela mesma rua, por detrás do restaurante Lua e Sol - uma viela por onde passavam as meretrizes a caminho do Café Lusitânia - também se jogava este jogo barulhento; na Rua João de Deus, tinha porta aberta o Sr. Aníbal Barata, num espaço que antes tinha sido de comes e bebes; ao cimo da Rua de Santiago, com tasca contígua, existia outra casa de matrecos, a primeira onde exercitei a minha perícia de atacante; e, por último, refiro também o Maresia, na correnteza do Café Beirão, defronte do maior “prêt-à-porter”, o António dos Capotes.
antiga biblioteca municipal e também da Gulbenkian
Por toda a cidade havia inúmeras tascas que tinham a sua mesa de matraquilhos; porém, creio que as casas referidas no parágrafo anterior eram, indiscutivelmente, as mais populares. Os clientes eram os estudantes e os militares, ou seja, a população mais jovem da cidade. Castelo Branco possuía vários estabelecimentos de ensino e dois regimentos militares, um de cavalaria e outro de caçadores, que forneciam os clientes para estas saudáveis casas de diversão. A população da cidade renovava-se permanentemente com a chegada e partida de militares e estudantes.

Conheci grandes jogadores de matraquilhos. Destaco o malogrado Luís “Canetas”, com quem jogava na quelha de acesso ao Café Lusitânia, por onde passavam, dolentes e pesadonas, as meretrizes, que teimavam em andar sempre muito pintadas e de sapatos de salto alto. Outros tempos!

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