Barreira da Fonte - A entrada da Aldeia
Lisboa, 23 de Maio de 2008 – Discute-se muito, nos dias que correm, o aumento do preço dos combustíveis. A discussão é pertinente e afecta o cantinho lusitano na sua totalidade. É que o preço dos combustíveis, de uma forma ou outra, há-de reflectir-se num qualquer aspecto da minha e da vida dos meus concidadãos.
Durante a minha infância, só conheci verdadeiramente um meio de transporte: a carroça, puxada a mula ou a macho, que nos levava de manhã até Castelo Branco e nos trazia à tarde de regresso à Mata. Foram tempos indiscutivelmente difíceis para as pessoas e os animais. Quando alguém adoecia, se a coisa não era logo muito grave, esperava-se até à segunda-feira, para consultar o clínico e tratar das maleitas.
Na Mata havia quatro ou cinco veículos automóveis, na década de cinquenta: Francisco e José Melo, o professor Falcão, Joaquim Capinha e Manuel Beato, eram os únicos que possuíam carro e usavam-no com muita parcimónia. Lembro-me de ajudar a empurrar, conjuntamente com outros alunos da escola da Mata, o automóvel do professor Falcão, que, por falta de uso, tinha a bateria quase sempre descarregada. Porém, com todos os defeitos que tinha, e eram muitos, dava boleia às pessoas nas horas de aflição. Talvez por isso e por ter sido um professor residente, muito autoritário e em perfeita sintonia com o poder instituído antes de Abril, a autarquia concedeu-lhe o nome de uma rua.
E tudo isto vem a propósito dos sucessivos aumentos dos combustíveis, que, a crescerem a este ritmo, vão desencadear ondas de desassossego social de efeitos imprevisíveis. E justíssimas, até pelo facto de Portugal ser o país da EU onde os ricos são cada vez mais ricos e onde aumenta diariamente o número dos pobres e miseráveis. Apesar do mundo, com todos os seus novos e velhos problemas, ser hoje infinitamente melhor do que o mundo da minha infância.
Durante a minha infância, só conheci verdadeiramente um meio de transporte: a carroça, puxada a mula ou a macho, que nos levava de manhã até Castelo Branco e nos trazia à tarde de regresso à Mata. Foram tempos indiscutivelmente difíceis para as pessoas e os animais. Quando alguém adoecia, se a coisa não era logo muito grave, esperava-se até à segunda-feira, para consultar o clínico e tratar das maleitas.
Na Mata havia quatro ou cinco veículos automóveis, na década de cinquenta: Francisco e José Melo, o professor Falcão, Joaquim Capinha e Manuel Beato, eram os únicos que possuíam carro e usavam-no com muita parcimónia. Lembro-me de ajudar a empurrar, conjuntamente com outros alunos da escola da Mata, o automóvel do professor Falcão, que, por falta de uso, tinha a bateria quase sempre descarregada. Porém, com todos os defeitos que tinha, e eram muitos, dava boleia às pessoas nas horas de aflição. Talvez por isso e por ter sido um professor residente, muito autoritário e em perfeita sintonia com o poder instituído antes de Abril, a autarquia concedeu-lhe o nome de uma rua.
E tudo isto vem a propósito dos sucessivos aumentos dos combustíveis, que, a crescerem a este ritmo, vão desencadear ondas de desassossego social de efeitos imprevisíveis. E justíssimas, até pelo facto de Portugal ser o país da EU onde os ricos são cada vez mais ricos e onde aumenta diariamente o número dos pobres e miseráveis. Apesar do mundo, com todos os seus novos e velhos problemas, ser hoje infinitamente melhor do que o mundo da minha infância.
2 comentários:
Bonjour manuel
gosto de ler as historias da sua vida, como era " dantes"...
pois eu ia a pé até à escola, era mais pratico, acredito que nao deve ter sido fàcil.
A solidariadade era muita com certeza, senao como sobreviver?
Esse é um bem que nao se consume com os anos, felizmente continuamos vivos e de olhos e orelhas abertos!
Nem sempre parece que é assim, mas todos os dias devemos ouvir e ver, nem sempre conseguimos reagir.
Aqui chamamos " précaires" é mais socialmente correcto que pobres e miseràveis, mas hà muitos, o patrimonio é lindo, a França é um grande pais, rico e os " précaires "sao ...muitos.
Vergonha.
Construam menos automoveis e utilizem outros meios de energia!!!
Como se nos fossemos tontos...
Bom, vou consumir energia e fazer um café!!! bjos de Paris e rezar ao St. Précaire!
até breve.
Lídia,
As suas palavras são um tónico único. Agradeço-as do fundo do coração, se é que o coração pode agradecer seja o que for.
Como já percebeu, as histórias da minha infância e outras, são apenas uma estratégia narrativa. Permitem-me esta pequena intervenção e deixar um registo para os vindouros, acerca dos sítios por onde passei, porque um dia mais tarde, há-de haver queira saber como era.
Portugal está um sufoco. Acredite que vai haver ondas de desassossego e de descontentamento. Este mundo desregulado ou desmiolado, só pode conduzir à rua, que é o que a canalha quer evitar. Mas como sabe é na rua que se faz o que tem que ser feito. Foi assim no passado e vai ser assim no futuro, porque o presente, apesar das gramáticas, não existe.
Eu sei que aí as coisas também vão de mal a pior. A queda do muro, que em boa hora aconteceu, deveria ser o prenúncio de um mundo melhor para todos. Foi bom apenas para quem faz negócios e para os abramovitch e para os putins e "tuti quanti", a Ocidente. Uma caca, minha amiga!
Por hoje, muita saúde e fraternidade!
Manuel
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