quarta-feira, maio 14, 2008

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 14 de Maio de 2008 – Angola, a jóia do antigo império colonial, é uma pedra que persevera em não sair dos sapatos de portugueses e angolanos. Todos os anos pela Primavera (Stau Monteiro não se importa), ou mais coisa menos coisa, de um lado e de outro, renasce um conflito. E quase sempre com a família Soares na ribalta. Já era tempo de se perdoarem uns aos outros.

Durante muitos anos – e por razões óbvias –, defendi, de um modo geral, as posições do MPLA. Nunca fui um incondicional de coisa nenhuma, mas acreditava que o MPLA era o movimento de libertação – e mais tarde o partido político –, que melhor defendia os interesses do povo angolano. A guerra e as ajudas externas da UNITA confortavam a minha posição; porém, com o fim da guerra e as novas opções políticas do MPLA e do seu governo, fui-me afastando das minhas posições primitivas e hoje comungo da ideia de que Angola é governada por uma cambada sem vergonha.

Angola, evidentemente, não é uma democracia. E nomeadamente, uma democracia formal, ou seja, com eleições livres e justas, liberdade de expressão, etc. No fundo, uma democracia do agrado dos EUA, da União Europeia e de Israel, que são as entidades que passam os certificados de bom comportamento democrático aos restantes povos do mundo.

No meio desta hipocrisia toda, bastaria que outro tratante ocupasse o lugar do tratante Eduardo dos Santos e que outros tratantes ocupassem os lugares ocupados pelos actuais tratantes do MPLA, para que os indignados de hoje se tornassem nos conformados de amanhã. As boas consciências contentam-se com os rituais eleitorais periódicos e estão-se nas tintas para o bem-estar dos povos. É assim o humano jogo das paixões.

O problema de Angola é a sua enorme riqueza. E com esta ordem mundial, os angolanos continuarão a ser as grandes vítimas. Dos ladrões de serviço no seu governo e demais instituições; dos cleptómanos instalados noutros sítios do mundo e cujos interesses têm defesa nas mais diversas chancelarias. Estas, está claro, representativas das mais genuínas democracias.

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