domingo, maio 11, 2008

DO MEU DIÁRIO


Lisboa, 10 de Maio de 2008 – No final dos anos sessenta, Castelo Branco era uma cidade interessante: vários estabelecimentos de ensino públicos e privados, dois jornais regionalistas (“Beira Baixa” e “Reconquista”), diversas colectividades de cultura e recreio e “duas fabriquetas / Onde a matar se aprendia”. A “Semedo” era indiscutivelmente a melhor livraria da cidade.

A estudantada reproduzia um pouco os hábitos da vida académica coimbrã. Alguns alunos dos 2º e 3º ciclos do liceu Nuno Alvares usavam capa e batina – oh, até o Joaquim Cordas! -, faziam serenatas e enterravam os cafés onde os estudantes eram maltratados. Lembro-me bem de uma bastonada apanhada no enterro do café “Acácio” me ter doído vários dias. A rapaziada da ISA acompanhava a do liceu. Os alunos do ensino técnico eram os parentes pobres da fauna estudantil da cidade. A sociedade albicastrense, tal como a sociedade nacional, encontrava-se bem estratificada.

Havia meia dúzia de figuras castiças – hoje dir-se-ia cromos –, que animavam a cidade. Zé Gavetas, que vendia o “DN” e o “Mundo “Desportivo”, por conta do quiosque Vidal, era um homem humílimo e exibia o bigode mais farfalhudo e original da cidade; ti Albino dos jornais, que vendia o “Século”, “A Bola” e o “Record” e cujos pregões eram inconfundíveis, foi o ardina mais completo que conheci em Portugal. Sempre em passo de corrida, ti Albino percorria as principais ruas do centro da cidade, gritando é o “Sééééculo!”, é o “Récord”, é “A Bóóóla!”. Zé Noco, empregado de ti Albino, era o paradigma da má criação. A obscenidade em pessoa. O Guilhermino, que era um pobre diabo, afixava e distribuía a publicidade do Cine Teatro Avenida e manifestava quotidianamente o seu benfiquismo. Lembro-me de o ver a contornar o rectângulo do Estádio Municipal, nos dias dos jogos do Benfica de Castelo Branco, erguendo um estandarte que, dizia-se, o tinha acompanhado a Amesterdão. Verdade ou mentira. O Guilhermino era uma verdadeira lenda. Um dia destes hei-de aqui falar do Tó Pina, que, obviamente, era uma personagem da cidade, mas que não tem nada em comum com as anteriores.

Outros tempos. Tomava-se a bica nos cafés e convivia-se; porém, o bem-estar actual e a liberdade, valem muito mais do que essas formas de convivência e do que o pitoresco que certas personagens conferiam à cidade.

2 comentários:

LM,paris disse...

bonsoir manuel,
pois eu nao conheço
Castelo Branco...
estive na Tojeira a fazer uma residência.
Acho que foi o mais perto que estive...
mas também me lembro,
no Rossio, os miùdos
a apregoarem os jornais!
A Bola...nao sei se se lembra
de um cartonista, o martinez da estrelinha, era o meu pai!
Fazia cartoons para vàrios jornais.
Tenho aqui um grande amigo que é de Castelo Branco, O josé Manuel Esteves, nao conhece?
Jà foi dar uma volta no blog
" dispersas palavras"?
Depois diga, tem là poetas que eu nao conhecia mesmo nada e adorei!
Gosto muito do da alice campos,
ela lançou o livro dela ontem!
Dê um salto à revista on-line" minguante", tenho là um texto!
Gosto destas boas noticias.
bjos
LM

EJSantos disse...

Cumprimentos do Parque das Nações.
Este fim de semana estive em Évora.
Gostei muito da cidade.