terça-feira, junho 17, 2008

DO MEU DIÁRIO

Na sessão de lançamento, Bar Património, Castelo Branco
Rebuçados, Caramelos & Sonetos

Na sessão de Lançamento de Rebuçados, Caramelos & Sonetos¹, o seu autor, o poeta João de Sousa Teixeira, que já poderia ter comemorado trinta e cinco anos de vida literária, abordou a sempre interessante questão das catalogações, recusando a sua pertença a qualquer movimento ou corrente. E na verdade, penso que é difícil atribuir um “ismo” qualquer a este poeta, que iniciou a sua carreira, se é que assim nos podemos expressar, no longínquo ano de 1972, com RO(S)TOS DO MEU PAÍS. Porém, a epígrafe inicial do livro, colhida no alfobre de Nicolau Tolentino de Almeida e um soneto intitulado “Alexandre O’Neil”, parecem constituir uma pista para a feitura de uma árvore genealógica, que, creio, João de Sousa Teixeira não desdenharia.


Já alguém catalogou João de Sousa Teixeira como o poeta do “coisismo”, numa recensão a Alegria Incompleta², na revista “Colóquio Letras”. Confesso que não me agrada aquele vocábulo, ainda que compreenda as razões de Fernanda Botelho. Tal como Cesário Verde, que os seus contemporâneos não chegaram a conhecer, este poeta albicastrense encontra a sua matéria-prima no real, e, à semelhança do poeta oitocentista, confere dignidade poética a coisas e temas que, habitualmente, andam arredados da poesia. Um dos sonetos deste livro tem mesmo o título “Cesário Verde” e tal não terá acontecido por obra do acaso.


A ironia e o sarcasmo, abundantemente documentados em Rebuçados, Caramelos & Sonetos, constituem como que a matriz de toda a poesia de JST. Atente-se, a título de exemplo, no poema “ACTO(R) POLÍTICO, que aqui deixo reproduzido e veja-se como o anafórico “um” (pág.12), numa espécie de charada, corresponde a um longo e veemente torcer o nariz àqueles que se dedicam à política:


ACTO(R) POLÍTICO


Um mau actor não é um bom político.
Um mau político não é um bom autor
Um bom actor não é um mau político.
Um bom político não é um mau autor

Um bom político é um bom autor.


Notas (1) Edição de rvjeditores, Castelo Branco, Junho de 2008.
(2) Vega, Lisboa, 1988.


3 comentários:

João de Sousa Teixeira disse...

Meu querido Manel

Quase me mataste do coração. Não sei se parece mal, mas a tua crítica (tu és meu amigo...) agrada-me. Dito de outra maneira, acertas-te. Mas olha amigo, no poema que citas, o político é actor, não autor. O autor é o povo!
Abraço
João

Manuel da Mata disse...

Claro que sim e o povo torce ou não o nariz aos políticos. É um sentimento que perpassa a sociedade portuguesa. Provavelmente, esse sentimento é injusto em relação a determinados políticos.
Isto é assim: o autor do texto, a partir do momento em que o dá aos leitores, já pouco pode fazer por ele. Agora é nosso e dele diremos o que nos aprouver.É assim com todos, rodinhos. Até com o Zé de Sousa.

Abraço forte,
Manuel

Manuel da Mata disse...

No comentário anterior esqueci-me do ponto de interrogação, na primeira frase.Acontece.
A propósito: ontem vasculhei "Terra Alheia" e descobri pontos de contacto com R,C&Sonetos. Os poetas, tal como os romancistas, andam sempre a escrever o mesmo livro.