domingo, junho 08, 2008

DO MEU DIÁRIO

Charneca da Cotovia, 7 de Junho de 2008 – Gosto muito do desporto, em geral, e, do futebol, em particular. Porém, nunca o futebol se há-de sobrepor, na minha mente, aos grandes problemas com que a sociedade portuguesa se debate, no momento que passa. Nomeadamente, os decorrentes das chamadas grandes reformas deste (des) governo e que passam por um ataque em forma e em força aos direitos dos trabalhadores portugueses, que tanto custaram a conquistar, antes e depois de Abril de 1974.

No momento em que o (des) governo do senhor eng.º parece estar encurralado, após a manifestação de quinta-feira passada, em Lisboa, e a marcha dos camionistas, ontem, na cidade do Porto, o fenómeno desportivo vai jogar a favor do ministro dos pobrezinhos, do chefe do ministro dos pobrezinhos, do senhor Vitalino Canas e do senhor Lelo e também do senhor Alberto Martins, que serão todos pessoas muito estimáveis, uns mais do que outros, mas eu aqui não quero meter o bedelho, porque quem os conhece bem é o senhor Manuel Alegre.

Ora dizia eu que o fenómeno futebol vai jogar a favor do governo, porque as televisões, todas sem excepção, dão mais importância ao futebol e às manas do Cristiano Ronaldo e à dona Meira e à dona Sabrosa e às outras donas, que acabam por ter mais protagonismo que Maria Cavaco Silva, cujo marido teve a honra de receber os craques do chuto na bola, em cerimónia no Palácio de Belém, como se a ida à fase final do campeonato da Europa de futebol fosse o desígnio dos desígnios nacionais. Eu estou mesmo convencido de que Vasco da Gama não teria cobertura televisiva tão abundante, se televisão já houvesse, naquele ano de 1497, 7 Julho, quando partiu para a Índia.

A vitória desta noite sobre a Turquia vai fazer esquecer os verdadeiros problemas nacionais e o senhor eng.º vai pedir aos seus santinhos todos, transmontanos e beirões, para que ajudem Portugal a vencer a República Checa, na próxima quarta-feira, porque as televisões trar-nos-ão narrativas e mais narrativas de gosto duvidoso, contribuindo para a alienação da lusa gente. E assim, enquanto largos milhares de portugueses se vão manifestar contra as políticas ruinosas dos sucialistas; outros manifestar-se-ão para celebrar os feitos desportivos da selecção comandada pelo brasileiro Scolari.

Já é quase uma da manhã. Da televisão chega-me a notícia de que a selecção está a chegar a Neuchatel e que é esperada por cinco mil portugueses. Já que não podem atirar com boas marcas de relógios nacionais à cara dos suíços, há que chateá-los com barulho e com os festejos da vitória frente à Turquia. Cantem-lhes mil vezes a “Portuguesa”, assim como quem grita, aquela parte do “às armas!”, “às armas”, que até pode acontecer que se borrem todos e fujam para outro cantão qualquer e os portugueses possam conquistar e fazer portugueses o cantão e a cidade de Neuchatel.

O fenómeno não é exclusivo dos portugueses. É europeu. É um sinal dos tempos que correm. Infelizmente.



1 comentário:

LM,paris disse...

Assim é que é falar amigo manuel!
Gostar de futebol( o que nao tem a mesma conotaçao que de gostar de desporto)...
nao se vê desporto na TV, vê-se, todos os que temos TV, somos obrigados a ver e rever e rever e rever e rever....AS MESMAS IMAGENS de futebol!!!!
EM POrtugal com uma musica emocionalmente arrebatadora, envolvente, que leva tudo e todos nessa histeria popular e governamental, aqui temos o mesmo fenomeno hà anos, embora nao haja tanta matracage d'images.
Mas os meninos bonitos do futebol, que se compram e se vendem a preços proibitivos, levam as pessoas a pensarem noutras coisas , que a factura da electricidade està cara pra nos, porque para eles...nao sabem, pagam pessoas para isso.
Nada disto tem a ver com desporto.Pao e circo, nao mudou, nao esqueçamos a religiao.
Viva à cultura, da batata também, porque sem essa nao temos força pra mais.
Bjos