domingo, janeiro 20, 2008

DO MEU DIÁRIO

Charneca da Cotovia, 20 de Janeiro de 2008 – Acabei de ler, na última madrugada, o romance INÊS DE CASTRO - A ESTALAGEM DOS ASSOMBROS, escrito por Seomara da Veiga Ferreira e que a Editorial Presença editou, em Março de 2007.

É mais um romance que trata dos amores de Pedro e Inês; porém, desta feita, o ponto de vista è o de D. Afonso IV e segue de perto, em minha opinião, as teses historicistas. Eu explico melhor: a relação de Pedro e Inês era perigosa para a soberania portuguesa e podia pôr em causa os interesses de D. Fernando, filho de D. Pedro e de D. Constança Manuel, que era uma criança muito débil. Robustos, os filhos da “colo de garça”, eram uma séria ameaça, e, sobretudo, tendo em conta os apetites pressentidos dos tios Castro. Inês morre por razões de Estado.

A narradora é nem mais nem menos que a mãe de Pedro, a rainha D. Beatriz, que nos traça um retrato extraordinário de D. Afonso IV, que é sempre movido por um alto sentido do dever. D. Afonso, o grande herói da batalha do Salado, que mereceu episódio n’ Os Lusíadas, era um homem austero e severo e de grande integridade mental. Talvez devido aos excessos de seu pai, o grande rei Dinis, D. Afonso não conheceu outra mulher a não ser a rainha Beatriz e conviveu sempre mal com as “bastardias”.

Neste romance, que se lê com agrado, há ainda a realçar o retrato que a narradora traça da rainha D. Isabel, mais tarde Santa Isabel, a quem se refere sempre como uma grande mãe e uma figura de eleição, que desculpa o rei e ajuda a criar os bastardos.

A narrativa decorre praticamente sem recurso às habituais anacronias, ou seja, o tempo decorre de forma linear e em tom muito intimista, tendo como narratária D. Doce, uma anãzinha, que era a principal companhia da rainha. Esta D. Doce há-de assumir no final do romance e após a morte de D. Beatriz, o papel de narradora.
Neste romance, encontrei a mais completa descrição dos mausoléus de Pedro e Inês, trabalhados por “Pêro das Imagens” e por seu primo João Garcia, mas sempre sob a orientação do próprio rei D. Pedro.

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