terça-feira, janeiro 22, 2008

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 22 de Janeiro de 2008 – Nambuangongo é para muitos portugueses uma palavra mítica. Para mim também, que ainda lá gramei dois meses, ou seja, os meses de Outubro e Novembro de 1974.

A mítica Nambuangongo, por onde terão passado muitos milhares de portugueses ainda vivos, era um cemitério, uma igrejinha, um depósito de água e as instalações do chamado Pelotão de Apoio Directo (PAD), do lado esquerdo; e, as construções que acolhiam a 2ª companhia do batalhão ali sedeado, do lado direito. Depois havia a descida e o civil, com o seu comércio de víveres e outras utilidades para a tropa, também do lado esquerdo. A picada parecia terminar ali, onde o terreno se elevava de novo e se erguiam as precárias construções militares da Companhia de Comandos e Serviços (CCS) do batalhão, incluindo as messes de oficiais e sargentos.

Mas era ali junto ao muro, que a picada continuava à direita para o Quixico e à esquerda para Zala e Madureira. Do lado esquerdo havia as oficinas e outras instalações de apoio logístico e ainda o campo de futebol, que tinha a cor vermelha dos cafezais de que falava o presidente Agostinho Neto na Sagrada Esperança. À esquerda, a poucas centenas de metros do aquartelamento, estava situado o musseque, isto é, a aldeia dos nativos, onde íamos à noite para beber marufo, ouvir batuque e tratar de outras necessidades humanas essenciais.

Era isto, Nambuangongo, e uma pedra onde estavam inscritos uns quantos nomes famosos, nomeadamente o de Fernando Assis Pacheco, que já publicara alguma poesia, mas que ainda era desconhecido como ficcionista.

5 comentários:

Bloga Comigo disse...

Queres blogar comigo? Eu quero blogar contigo.

Bjos

Manuel da Mata disse...

Bloguemos, pois.
Beijos

Anónimo disse...

Muito interessante!
Gosto de ir passando para ler.
Ao que venho, por norma!
Hoje ncontrei uma forma verbal curiosa...
Adiante :)

Muita ficção neste diário?
"...e ainda o campo de futebol, que tinha a cor vermelha dos cafezais..." - tons quentes.
Muito para lembrar mas tb muito de que não se fala com facilidade e talvez se tente esquecer - por todos que passaram em Nambuangongo e tantos outros lugares.

Abraço

Manuel da Mata disse...

Maria José,
O que eu queria dizer - e penso tê-lo conseguido - é que a terra do campo de futebol era vermelha como vermelha era a terra onde eram plantados os cafezais. Assim resulta muito redondo, não é?
Não há ficção por aqui. O discurso pode levar um cunho mais ou menos artístico, mas as matérias tratadas são puras verdades.
Agradeço a sua constância e espero tê-la como leitora por muito tempo. Farei os possíveis para não desiludir.
Abraço

João de Sousa Teixeira disse...

Meu Bom Amigo Manel
Cá estou eu então a cavalo na internet do meu joão.
É que a propósito de Nambuangongo fizeste-me lembrar o Assis Pacheco
(e podes crer que a nata das nossas letras passou por lá, eu, como sabes não passei de Cabo Verde...) no seu poema "As Balas" em "Câu Kiên". Transcrevo-te o final do poema:
Se ainda as fabricam
como no meu tempo, creio
que matam num, ah pois,
infinitésimo de segundo.
É brutal. Eu ouvi-as:
perde-se a tesão por um século.

E pronto, o meu abraço!
João Teixeira