Santa Iria de Azóia, 4 de Dezembro de 2007 – Não me recordo se era também no 1º de Dezembro que os legionários vestiam a respectiva fatiota e desfilavam pelas ruas de Castelo Branco. Lembro-me, todavia, de os ver fardados e muito compenetrados da sua meritória e patriótica missão.
Vistas à distância de trinta e muitos, quarenta anos, todas estas instituições mais ou menos grotescas acabariam por nos divertir, se não tivessem sido peças de uma superstrutura repressiva que dava pelo nome de Estado Novo. A Legião e a Mocidade e ainda a Milícia, faziam parte de um todo que abocanhou a liberdade e permitiu o exercício do poder a Salazar e à sua camarilha.
Apesar de tudo, Castelo Branco era uma cidade interessante, onde as pessoas se organizavam em grupos de harmonia com as suas orientações políticas e ideológicas. Eram editados os jornais “Reconquista” e “Beira Baixa”. E lia-se muito. Por isso mesmo, havia dois PSP à paisana, que percorriam as livrarias para procederem à apreensão dos livros que o regime considerava perigosos. O quiosque VIDAL era o principal alvo destes pobres detectives, que hoje hão-de parecer, a muita gente, personagens inverosímeis.
No Avis sobressaía o grupo do reitor do Liceu, Dr. Catanas Diogo, do director de Escola Comercial, Dr. Ribeiro Queiroz, e um oficial que comandava a GNR. O Avis tinha uma daquelas portas de rodar e uma enorme esplanada, onde, às segundas-feiras, dia de mercado, era possível encontrar o lendário fascista Dr. Rolão Preto.
O Arcádia, que foi dirigido pela família Salavisa, era café e restaurante e tinha uma sala de bilhares ao lado, onde a estudantada dava tacadas e chumbava os anos lectivos. Na parte superior, do lado esquerdo do balcão, reunia-se a família MDP-CDE, nomeadamente, o Dr. Vasco Silva e o Carlos Vale. E tantos outros, cujos nomes já esqueci, que tinham o hábito da discussão e da leitura.
Para terminar este breve apontamento, quero aqui lembrar o funeral do Luís Geirinhas, filho do Dr. Vasco Silva, que constituiu uma grande manifestação cívica naquele princípio de Outono de 1971. Não tenho memória de tão grande e sentida manifestação de pesar em Castelo Branco.
3 comentários:
No último período do texto deve-se ler-se: "Não tenho memória de outra tão grande e sentida manifestação de pesar em Castelo Branco!"
outros tempos
e tempos de hoje que pouco diferem é uma questão de verniz
tanto que se fala no choque tecnologico e finalmente se viu o que é
a professora a aluna e o telemovel e não que deu choque.
Meu comentário direciona-se ao último parágrafo do pequeno texto acima. Eu mesma participei da manifestação de despedida ao Luiz. Foi realmente uma manifestação expontanea pela pessoa que ele era e pelos pais que tinha , pois Dr. Vasco e D. Lurdes eram pessoas muito queeridas de Castelo Branco e grande parte dos alunos do liceu, tinham aulas particulares na casa deles. Já se passaram 37 anos e parece que foi ontem.
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