segunda-feira, agosto 07, 2006

RIO DE ONOR

Ouvi falar deste topónimo, há muitos anos, na FL da Universidade Clássica de Lisboa. Vicissitudes várias conduziram-me sempre para outros destinos, quiçá mais modernaços, mas menos enriquecedores.
Rio de Onor é uma localidade do distrito de Bragança, paredes meias com a Espanha, e constitui mesmo um caso singular de iberismo. Na verdade, não chega a haver uma descontinuidade acentuada entre a parte lusa e a parte espanhola. Porém, nota-se que apesar dos espanhóis estarem reduzidos a doze almas, as suas casas apresentam um aspecto cuidado e advinha-se um certo conforto interior.
Na parte portuguesa, habitada por cerca de sessenta pessoas, a degradação é patente nas construções. Rio de Onor é uma localidade quase fantasma, onde se espera, provavelmente, que a vida vá decorrendo, sem grandes sobressantos, até à morte ou à deserção dos últimos habitantes.
Daquele falar de que os académicos gostavam, uma mistura de português, espanhol e umas tantas palavras autóctones, só o senhor Agostinho da café da Associação continua disponível para esclarecer o visitante com curiosidades linguísticas. É indicado pelos restantes habitantes como sendo o guardião das tradições. Uma conversa em riodonorês parece-me já impossível.
No entanto, mantêm-se algumas tradições: o rebanho comunitário e a resolução das pequenas questiúnculas entre vizinhos. Foi-nos mostrada e explicada a "vara da justiça". Ficámos a saber que as multas eram remíveis a vinho, indo os montantes da meia canada ao almude do precioso líquido, se a memória não me atraiçoa.
Mas o que ali dói não é o desaparecimento do riodonorês, que é coisa do passado e que os meios de comunicação social, a rádio e a televisão, se encarregaram de sentenciar à morte. O que dói em Rio de Onor é o estar ali naquele abandono, distante de todo o progresso e do conforto. Basta olhar à volta e o visitante notará sem esforço, onde acaba Portugal e a Espanha começa.

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