quarta-feira, agosto 02, 2006

O AMOR INFINITO DE PEDRO E INÊS

Acabei de ler o romance O Amor Infinito de Pedro e Inês, de Luís Rosa, de quem ouvira falar vagamente. O autor trata um dos temas mais apaixonantes da História de Portugal, por obra da literatura, desde Resende ao próprio Luís Rosa, que ao longo dos séculos foi construindo e sublimando o mito. Na verdade, este par amoroso pode ombrear com os outros grandes pares da cultura europeia, que estiveram na origem de mitos, onde quer que o poder e o amor ou o amor e o poder se influenciaram.
Luís Rosa escreve prosa escorreita, seguindo, quiçá involuntariamente, a lição dos gramáticos mais exigentes. Ao contrário da frase berroca de muitos autores do sé. XX e do actual, este autor exprime-se quase sempre através de frases curtas e tensas, que são, frequentemente, verdadeiros aforismos. Este facto não faz de Luís Rosa "um mâitre à penser", mas obriga o leitor a parar para pensar.
É notável o trabalho de pesquisa do autor, que nunca se distancia muito do que se sabe das intricadas relações do poder em Portugal e Castela, por volta de 135O. Dir-se-ia que desfia as teses conhecidas e que o romance vale sobretudo pela quantidade de retratos que nos proporciona das figuras gradas da política nacional e castelhana daquela época. Retratos impiedosos de Pedro e Inês, dos reis de Castela e de D. Maria, a formosíssima de Os Lusíadas . Usa de benevolência com Afonso IV, ao qual só critica os ciúmes, de certo modo fundados, em relação a seu meio-irmão Afonso Sanches. O clero não é poupado, mormente pelo comportamento dos abades, que sustentam relações de mancebia e dão origem a vastas proles.
Para além das idiossincrasias formais, o elemento literário mais interessante desde romance reside, em minha opinião, na figura da bruxa da Atouguia e na crença do Mestre da Ordem Militar de Cristo, que conseguem através da leitura dos astros predizer o futuro da História de Portugal - a tal porta do mundo para lá de Castro Marim-, protogonizada pela melhor obra de Pedro, ou seja, a geração na galega Constança Pacheco, do seu segundo filho João, Mestre de Avis desde os seis anos e que será o futuro rei de Portugal. E o pai de Henrique, o navegador. Obras de Pedro, o cruel e desmedido. Na verdade, a magia, a crença no sobrenatural e o fantástico, são os ingredientes de que se faz a boa literatura.
Oriundo de um mundo exterior e não raramente hostil à literatura, Luís Rosa produziu um romance muito belo, que é recomendável a jovens a partir dos dezasseis anos. Pela qualidade da escrita, pela história e pelos dados da História, pelo português medieval e até pelo latim. Bravo!

Sem comentários: