Terminei hoje a leitura do romance O cavaleiro da Águia de Fernando Campos, que, como é usual neste autor, trata magistralmente um período da História de Portugal. No caso concreto de O cavaleiro da Águia, Campos é muito mais abrangente, dando-nos conta, com muitos pormenores, das lutas travadas durante e após a morte de Afonso VI de Leão e Castela, dos reinos cristãos entre si, destes com os mouros do chamado al Andaluz e também dos diversos reinos mouros entre si. A par desta narrativa fabulosa, decorre outra, de índole policial, em que são protagonistas o cronista de O cavaleiro da Águia e o seu ajudante Randulfo.
Sendo certo que a História dos países começa sempre antes da declaração de independência e que a das nações é ainda mais anterior, não cometemos imprecisão de maior ao afirmar que a matéria narrada tem a ver com um período da História de Portugal. É personagem central Gonçalo Mendes (da Maia), o Lidador, grande cavaleiro e Homem de enorme coração, que morre em combate, com a provecta idade de noventa e quatro anos, na célebre batalha de Ourique. Cavaleiro ao serviço do conde D. Henrique, serve a causa de D. Tareja contra D. Urraca e quando aquela se desvia dos sonhos do marido, entretanto falecido, junta-se a D. Afonso Henriques e luta pela independência de Portugal.
Fernando Campos casa Gonçalo Mendes com Buthayna, filha do grande poeta al-Mutâmid, por quem se apaixonara numa visita diplomática que os filhos do malogrado rei de Sevilha fizeram a Afonso VI. Aquando da queda e deportação de seu pai, Buthayna é salva por Soleima, que a traz para terras cristãs, mas são tantos os desencontros iniciais, que prenunciam muitos outros desencontros futuros, mais ou menos ao sabor dos avanços e recuos de cristãos e mouros. Os encontros do casal são mais ou menos fortuitos, porque a ética do cavaleiro o obriga a seguir os seus senhores e porque é um homem de acção. A bela Buthayna, a cujo envelhecimento o leitor vai assistindo, estava condenada à infelicidade: morrem-lhe os filhos, perde as netas e desencontra-se definitivamente de Gonçalo. Desencontros a mais, que parecem querer simbolizar a proximidade e a distância a que os mouros e os cristãos da Península sempre estiveram.
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