Santa Iria de Azóia, 27 de Dezembro de 2010 - No próximo ano, se nada de extraordinário acontecer, deixarei de ser funcionário público. Deixarei de ser funcionário, sem qualquer mágoa, de uma empresa falida. Tropa incluída, sairei com mais de trinta e oito anos de serviço e cerca de três de penalização, ou seja, com a chamada pensão de aposentação reduzida em cerca de 18%. Para gáudio da dr.ª Ferreira Leite, que, vaticino eu, um dia ainda terá de se haver com algum funcionário público mais ousado ou tresloucado.
No próximo ano vou deixar de ser um activo a comer do OE para passar a ser um aposentado a comer do OE, com todos os descontos legais efectuados, a caminhar inexoravelmente para os sessenta anos. Bem sei que não sou velho no sentido actual da palavra. Velhos, para além dos trapos, são aqueles que conseguem entregar a alma ao criador já depois dos noventa. Vistas bem as coisas, eu ainda podia fazer umas peladinhas com as velhas glórias. No entanto, estou farto. Farto!
É certo que nunca gostei de ser funcionário público. Gostaria de ter sido professor a tempo inteiro e de ter estudado e produzido trabalho intelectual com interesse. Nunca tratados de economia ou artiguinhos sobre economia ou ciência económica. Mas podia ter estudado poetas e romancistas e, devagarinho e de forma mais atenta, construído a minha própria obra.
A vida é o que é - o senhor De La Palisse não diria melhor - e não vou ficar para aqui a lamentar-me. Vou deixar a função pública e com a convicção de que não fico a dever nada à dr.ª Ferreira Leite. E isto é para mim um consolo muito grande.
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