domingo, junho 05, 2011

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 5 de Junho de 2011 – Conheci o Luís Telhado em Julho de 1976, quando o PREC ainda escaldava. Tivemos pequenas escaramuças verbais; porém, soubemos sempre deixar as pontes de pé, que é assim que deverá ser. No dia do meu casamento – e porque não fizera convites – o Luís apareceu de surpresa para me dar um abraço. E cumprimentar a minha família. Por mais anos que eu viva, nunca esquecerei esse gesto. Como não esquecerei as roupas que ofereceu à Filipa, quando era bebé.


O Luís atravessava então um período muito complicado da sua vida particular. Hesitava entre o Bº Azul, onde residiam os pais, e a sua bem-amada Cascais. Decidiu-se por Cascais, de onde vinha, quotidianamente, trabalhar em Moscavide. Num minúsculo Fiat grená, que parecia estar equipado com um motor de rega. Chegava, poisava as chaves, os óculos escuros e o seu inseparável maço de Português Suave, cumprimentava os colegas e quase invariavelmente dizia: “Lúcia, vou tomar café.” Da Lúcia bem se pode dizer que era uma segunda mãe do Luís Telhado, porque era esta amiga que lhe aturava as madurezas e os atrasos. A vida dá as voltas que dá, mas sei que o Luís, nunca se esqueceu de nenhum de nós e nomeadamente da Lúcia.


O ano passado, encontrei-o em Vila Franca, nos primeiros dias de Maio. Um curto cumprimento de circunstância, porque ia em peregrinação a Fátima. A vida e a idade tornaram-no um homem de fé. Feliz ou infelizmente, não o posso acompanhar em matéria de fé. E este ano já nos vimos novamente e conversámos alguns minutos, no Parque das Nações, junto ao Vasco da Gama. Lá ia nas suas inseparáveis calças de ganga, magro como sempre, mas como sempre afável.


Quando deixar de ter obrigações profissionais, hei-de ir a Cascais almoçar com o Luís e rememorar histórias passadas. Muitas. E algumas rocambolescas. Até breve.

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