quarta-feira, maio 18, 2011

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 18 de Maio de 2011 – Desconheço qual seja a polémica do dia, neste tempo chamado pré-eleitoral. Ontem, falou-se copiosamente do programa “Novas Oportunidades” e o senhor Passos Coelho voltou a falar para que não digam que está calado. Novo tiro no pé.


Admito perfeitamente que haja algum facilitismo no programa “Novas Oportunidades”. Nenhum programa do género há-de atingir a perfeição absoluta; porém, desta vez até estou de acordo –oh, milagre dos milagres!- com o engenhoso Sócrates. De facto há que respeitar as pessoas que se esforçaram e obtiveram equivalência a um grau da escolaridade obrigatória. Só eu sei da indescritível alegria da minha vizinha Manuela, quando me disse, com um sorriso de enorme contentamento, que tinha obtido a equivalência ao 9º ano. De dia trabalhava no seu negócio e à noite ia estudar, quando teria sido muito mais fácil ter ficado no sofá a ver telenovelas.


Eu tenho um primo por afinidade, que foi meu condiscípulo de escola primária, que também obteve o 9º ano no âmbito deste socrático programa. E não tenho quaisquer dúvidas, que o meu primo, carpinteiro de profissão, tem conhecimentos mais do que suficientes para ter aquele grau de escolaridade. Ainda antes do cumprimento do Serviço Militar Obrigatório, emigrou para França onde começou a ganhar a vida aos dezasseis ou dezassete anos. Veio cumprir o SMO – esteve em Angola até princípios de 75 -, casou e voltou a emigrar para França e a partir deste país fez estágios na Argélia, no Egipto(!) e noutros sítios. Levou consigo uma cunhada com dois ou três anos, órfã, e em França lhe nasceram os dois filhos. Regressaram a Portugal e o meu primo por afinidade tornou-se empresário da construção civil, na área da carpintaria. A cunhada licenciou-se, a filha licenciou-se e o filho licenciou-se. E o Pedro trabalhou e educou da melhor forma aqueles que tinha ao seu cuidado. Vai fazer sessenta anos e decidiu dedicar-se apenas à sua quintinha e aos seus “hobbies”. Produz um vinho para consumo pessoal, que até rotula com esmero. Sempre foi um apaixonado pela fotografia.


Chegados aqui, há uma pergunta que não pode deixar de ser feita: poderá alguém, com um mínimo de bom senso, contestar a atribuição de uma habilitação equivalente ao 9º ano a um cavalheiro com um percurso de vida assim e com tantos saberes?

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