quarta-feira, agosto 25, 2010

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 25 de Agosto de 2010 – Nos últimos dias, António Lobo Antunes (ALA), escritor, tem sido notícia nos jornais e nas televisões por razões extra literárias. E o teor dos comentários na NET, indicia quão vivas ainda estão as questões relativas à guerra colonial.

ALA, do qual fui leitor atento durante mais de vinte anos, não precisa da minha defesa. De resto, ainda que tenha produzido alguns textos acerca da sua obra e/ou de alguns dos seus livros, nunca apertamos as mãos, nunca nos dirigimos uma palavra. No entanto, penso que os exaltados do costume têm ameaçado, soezmente, um dos grandes criadores actuais da língua portuguesa, um ex-combatente, um dos autores a quem devemos das melhores páginas sobre a Guerra Colonial.

Não direi que ALA não tenha, aqui ou ali, carregado nas tintas com que pintou o seu quadro. Creio, todavia, que durante os catorze anos de guerra em Angola, foram cometidos inenarráveis actos a que hoje poderíamos chamar crimes contra a humanidade. Cometidos pelas nossas tropas e pelos combatentes inimigos.

A guerra deixou traumas em milhares de portugueses, que, por incúria do regime anterior e do instituído em 25 de Abril, não tiveram o acompanhamento e o tratamento adequados. Por isso mesmo, ainda há por aí muitos tresloucados capazes de cometimentos idênticos aos de trinta e tal, quarenta, cinquenta anos.

O autor de Os Cus de Judas e de Cartas de Guerra não merece este ódio, que, bem vistas as coisas, já deveria estar enterrado; mas neste pobre país, que nunca foi capaz de cotejar Os Lusíadas e A Peregrinação, tudo é possível.

Os factos narrados pelos media são eloquentes.

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