segunda-feira, agosto 09, 2010

DO MEU DIÁRIO

Charneca da Cotovia (23H00), 9 de Agosto de 2010 – De vez em quando, surpreendo-me a ler um dos volumes do Diário de Miguel Torga. Hoje foi o volume II do dito, que começa com uma estada em Monfortinho e também Monsanto, que lhe permitem uma incursão pela Geografia europeia e pelas questões ibéricas. Monsanto – aquele excepcional afloramento de granito… -, é comparado a Trás-os-Montes. Provavelmente a Panoias, ali a dois passos de S. Martinho de Anta, no distrito de Vila real.

Eu estarei para Torga como o meu remoto amigo Tó Pina estava para o Goethe. Entrava no albicastrense Arcádia, café-restaurante com sala de bilhares contígua, com uma edição popular do Fausto, que estaria, permanentemente, a traduzir. Eu, de Torga, sou apenas um leitor assíduo, embora conheça alguém que o queira para tese de doutoramento. A ver vamos como diz o cego.

Do António Pina, que não sei sequer se ainda é vivo, tenho boas recordações. Numa manhã primaveril, há cerca de quarenta anos, encontrámo-nos em Penamacor e fez questão de me levar ao solar de família, onde me mandou preparar um inolvidável sumo de laranja. Mais tarde, na casa dos pais, na actual Avenida General Humberto Delgado, havia de pegar no violino e no arco para tocar para ambos. Ainda hoje lhe reconheceria a voz, se, porventura, me pedisse um cigarro naquele seu jeito muito peculiar.”Manuel, tem um cigarro que me dê?”

Charneca da Cotovia (23H25), 9 de Agosto de 2010 – Hoje parece aquele dia em que Alberto Caeiro ( olá Manuela Mendes!) escreveu aquela caterva de poemas. Apetece-me escrever e escrevo. E pronto, como se diz agora por aí acerca de tudo e de coisa nenhuma.

Em Sesimbra, a água tem estado excepcionalmente limpa, ou seja, a condizer com o esforço que a autarquia faz para manter o areal asseado. Na verdade, todas as noites o areal é limpo, desde o molhe ( a O) até à praia da Califórnia (a E). É claro que molhei os pés, mas só os pés, que a minha relação com a praia não é de amor. Gosto do mar, nomeadamente do mar de Sesimbra, que é como que a pedra do lar, como escreveu Miguel Torga.

Este Torga persegue-me. Estou cansado. Vou entregar o corpo a Morfeu.

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