Santa Iria de Azóia, 18 de Maio de 2010 – Ouvi com atenção a entrevista de José Sócrates à RTP-1 e fiquei surpreendido com a ideia de que o mundo mudou imenso nas últimas três semanas. Eu já sabia que em 1917, o mundo mudara imenso em dez dias.
Pertenço aquele grupo de portugueses que lerem Jonh Reed e que ainda acham que a Revolução de Outubro foi o momento em que os russos e depois o mundo acreditaram que era possível fazer grandes transformações à escala planetária. A realidade, no entanto, foi bem diferente, porque os homens são naturalmente egoístas e não têm disponibilidade para abdicarem de privilégios. Estas, no entanto, são contas do meu diário.
Sócrates acha que os portugueses entendem as medidas tomadas pelo governo. Os portugueses não percebem o que está a acontecer, porque já lhes foram pedidos sacrifícios durante vários anos, pelos vistos inutilmente, e agora ainda lhe exigem mais, não se sabendo muito bem onde se quer levar o barco, se é que se quer levar o barco a sítio algum.
Sócrates esteve igual a si próprio, tal como Judite de Sousa, ainda que o facto da senhora estar igual a si própria não nos faça grande mossa. Já o facto de Sócrates estar igual a si próprio é grave, porque terá repercussões nas nossas vidas. Não pede desculpas, porque o mundo mudou, ou seja, a realidade foi tão dinâmica, que não foi possível fazer previsões e evitar a grande crise.
Aquela cara muito cerrada cheira-me a pose estudada. Sócrates, goste-se ou não dele, é um político a sério. Tem estofo, tem fibra, tem garra. Dizer que os portugueses são todos convocados para fazer sacrifícios, de forma equitativa, foi, em minha opinião, a coisa menos verosímil, das muitas coisas inverosímeis que debitou.
Sem comentários:
Enviar um comentário