segunda-feira, dezembro 01, 2008

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 1 de Dezembro de 2008 – O último romance de José Saramago, A VIAGEM DO ELEFANTE, é, certamente, um dos melhores que o nosso Prémio Nobel escreveu, na sua já longa vida de autor. Poderá mesmo ombrear com Levantado do Chão, O Memorial do Convento e O Ano da Morte de Ricardo Reis.

No seu estilo único, Saramago conta-nos as peripécias da viagem do elefante Salomão e do cornaca Subhro de Lisboa até Viena, num itinerário através de Portugal, Espanha, França, Itália e finalmente a Áustria, com travessias marítimas e fluviais.

Salomão é oferecido ao arquiduque Maximiliano II da Áustria pelos réus de Portugal, João e Catarina, assim como uma prenda complementar de casamento. Esta dádiva, longe de ser generosa, foi apenas a forma expedita que os lusos soberanos encontraram para se livrar de um paquiderme que devorava palha e água e nada dava em troca.

Maximiliano aceitou o presente, que implicou as diplomacias portuguesa e austríaca, e a viagem iniciou-se com a presença de D. João III, dez dias após a tomada da decisão pelo régio casal. A entrega de Salomão fez-se em Castelo Rodrigo, ainda que o comandante da lusa força tivesse acompanhado o animal até Valladolid, onde se encontrava Maximiliano e Maria, recorrentemente chamada de “a filha de Carlos V”. Em Valladolide o elefante e o cornaca haviam de receber novos nomes, por decisaõ do arquiduque: Salomão passou a chamar-se Solimão e Subhro, o tratador, Fritz.

Em solo italiano hão-de ocorrer os acontecimentos mais importantes da viagem, nomeadamente o milagre de Pádua, encomendado pelas entidades religiosas, no preciso momento em que se reunia o concílio de Trento. Em Veneza, soube Maximiliano do prodígio do paquiderme, que após treino, e às ordens do seu tratador, se ajoelhou à porta da Catedral de Santo António. Depois foi a épica subida dos Alpes e ainda a viagem através do Danúbio até às proximidades de Viena.

Num estilo vivíssimo, Saramago aproveita A Viagem do Elefante Salomão para fazer uma profunda reflexão sobre a condição humana, não se coibindo de abordar alguns dos temas que lhe são mais caros, nomeadamente o religioso. Neste romance excepcional, Saramago usa abundantemente da ironia e do anedótico, tornando-o um livro divertido, o que é um facto verdadeiramente extraordinário, conhecendo nós as circunstâncias em que foi escrito.

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