Santa Iria de Azóia, 18 de Abril de 2008 – Na Mata, a minha terra natal, a Páscoa verdadeira era na segunda-feira de pascoela, que era o dia em que o pároco dava o Senhor a beijar. Lembro-me muito bem dessa cerimónia, que, apesar da rapidez com que o padre entrava e saía da casa dos pobres, durava algumas horas.
Organizava-se a comitiva, que era composta necessariamente pelos rapazes e/ou homens da campainha, o encarregado de guardar as ofertas pecuniárias ao pároco, o transportador da caldeirinha da água-benta e do hissope e ainda o portador da cruz com o Senhor crucificado. Mais o padre e o senhor professor Falcão, com a sua imponente barriga, que tinha a relação de quem pagava a côngrua. Eu próprio também ajudei nalgumas das tarefas que requeriam menos esforço e davam mais prazer, como era tocar a campainha para anunciar a chegada do padre.
Conta-se que um ano, já quase a terminar as boas-festas, em frente da casa que foi do ti Zé Júlio, se passou a cena, que passo a descrever:
Professor (em voz alta, dirigindo-se ao padre e acompanhantes):
- José Júlio. Aqui, o senhor padre não entra. Deve a côngrua.
Ti Zé Júlio (que já estava à espera do padre, ouvindo a conversa, vem à rua e pergunta igualmente, com voz determinada):
- Quanto é que eu devo, senhor professor?
E o professor lá lhe disse o montante da dívida.
Organizava-se a comitiva, que era composta necessariamente pelos rapazes e/ou homens da campainha, o encarregado de guardar as ofertas pecuniárias ao pároco, o transportador da caldeirinha da água-benta e do hissope e ainda o portador da cruz com o Senhor crucificado. Mais o padre e o senhor professor Falcão, com a sua imponente barriga, que tinha a relação de quem pagava a côngrua. Eu próprio também ajudei nalgumas das tarefas que requeriam menos esforço e davam mais prazer, como era tocar a campainha para anunciar a chegada do padre.
Conta-se que um ano, já quase a terminar as boas-festas, em frente da casa que foi do ti Zé Júlio, se passou a cena, que passo a descrever:
Professor (em voz alta, dirigindo-se ao padre e acompanhantes):
- José Júlio. Aqui, o senhor padre não entra. Deve a côngrua.
Ti Zé Júlio (que já estava à espera do padre, ouvindo a conversa, vem à rua e pergunta igualmente, com voz determinada):
- Quanto é que eu devo, senhor professor?
E o professor lá lhe disse o montante da dívida.
José Júlio (célere, entra em casa e traz a quantia para pagar o calote):
- Aqui tem, senhor professor.
Professor (agora, em tom cordato):
- O Nosso Senhor já pode entrar.
José Júlio (que era uma caixinha de surpresas, diz-lhe frontalmente):
- Nesta casa o Nosso Senhor não entra, senhor professor, porque o Nosso Senhor não é de vinganças.
E não entrou.E a comitiva seguiu caminho, sem mais truz nem bus.
- Aqui tem, senhor professor.
Professor (agora, em tom cordato):
- O Nosso Senhor já pode entrar.
José Júlio (que era uma caixinha de surpresas, diz-lhe frontalmente):
- Nesta casa o Nosso Senhor não entra, senhor professor, porque o Nosso Senhor não é de vinganças.
E não entrou.E a comitiva seguiu caminho, sem mais truz nem bus.
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