SONETO ESCRITO NA MORTE
DE TODOS OS ANTIFASCISTAS
ASSASSINADOS PELA PIDE
Vararam-te no corpo e não na força
e não importa o nome de quem eras
naquela tarde foste apenas corça
indefesa morrendo às mãos das feras.
Mas feras é de mais. Apenas hienas
tão pútridas tão fétidas tão cães
que na sombra farejam as algemas
do nome agora morto que tu tens.
Morreste às mãos da tarde mas foi cedo.
Morreste porque não às mãos do medo
que a todos pôs calados e cativos.
Por essa tarde havemos de vingar-te
por essa morte havemos de cantar-te:
Para nós não há mortos. Só há vivos.
Ary dos Santos, Obra Completa, Edições Avante.
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