segunda-feira, abril 07, 2008

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 7 de Abril de 2008 – Sei quanto o poeta Daniel Abrunheiro aprecia a grande poesia de Ruy Belo. O meu saber radica na leitura de alguns comentários e ainda de muitos textos outros do poeta do Caramulo, Coimbra e Viseu, que permitem a minha afirmação inicial.

Não há grande poeta que não estabeleça a sua árvore genealógica. E Daniel fá-lo de uma forma explícita no texto “Um Março não este Abril ainda não”, de 31 de Março último, publicado no “Canil do Daniel”, no qual o autor escreve: “Tenho Camões em casa… (v.31) e “Tenho Cesário tenho Osório tenho Belo “(v.33).

Penso que o Daniel quotidiano se encontra muito próximo de Ruy Belo de “um homem de palavra(s)”, mesmo sabendo nós que este livro é o último publicado em vida do autor de “aquele grande rio Eufrates”, sobretudo pelo recurso à ironia. Tal como Belo – não ruy Belo e a mesma subtileza para Camões, Cesário e Osório - , também Daniel podia escrever: “Conheço as palavras pelo dorso. Outro, no meu lugar, diria que sou um domador de palavras. Mas só eu – eu e os meus irmãos – sei em que medida sou eu que sou domado por elas” ( início do poema “Não sei nada”, in homem de palavra(s)).

Não sendo Daniel um desiludido do catolicismo como Belo, Deus não aparece como tema da sua poesia. O mesmo não se poderá dizer da morte, que surge com alguma recorrência, nos textos propriamente ditos e até em epígrafes(?): a morte de entes queridos e de alguns amigos, como já escrevi num texto anterior.

Mas o ponto de contacto mais interessante, em meu entender, encontra-se na construção dos longos poemas, em que “o metro” de Daniel também “tem a voz de um cordeiro triste” (poema “A Fonte da Arte”, in despeço-me da terra da alegria). Também são válidas para Daniel, algumas das palavras que João Miguel Fernandes Jorge escreveu para Belo, em “À maneira de prefácio” para a última obra citada: “/…/ a sua obra é como a festa antiga/…/”. “Quase se pode dizer ter sido necessário acumular durante anos os víveres e as riquezas que iriam ser consumidos com ostentação, ou melhor, destruídos pelo excesso de palavra(s), pelo fôlego, pela duração dos seus poemas - aqui, creio que está a essência da sua festa, a orgia, o frenético ritmo de tantos dos seus longos poemas”.


1 comentário:

Anónimo disse...

Manuel,
Não tenho elementos suficientes para que pudesse fazer uma análise assim. Gostei de ler.

Quanto ao seu amigo Daniel, como em relação a outras leituras que fiz e faço, na sua maioria, o prazer de ler, sempre presente!!