sábado, setembro 29, 2007

DO MEU DIÁRIO

Santa Iria de Azóia, 29 de Setembro de 2007 – É sempre gratificante receber cartas simpáticas. Nomeadamente, de pessoas com a qualidade de Lídia Martinez, com quem tenho descascado a cebola, nos últimos tempos, como diria o Gunter Grass. Mesmo sem trema, pois, que ainda não domino bem esta máquina fantástica.

Um dia hei-de aprender a trabalhar com os computadores, que utilizo apenas como máquinas de escrever e pouco mais, e hei-de fazer um “blog” bonito. Não como o da Lídia, que tem muita estética aprendida e praticada. Tão-pouco como o da Alex, que tem muita sensibilidade e bom gosto.

Continuando a descascar a cebola, revelo-lhe, Lídia, que assisti, já não sei onde, a uma representação da peça de Peeter Weiss, que se chamaria o AUTO DO FANTOCHE LUSITANO. Não sei se o encenador era o Benjamim, mas que vi a peça, vi. Nos arredores de Paris, em 1970 ou 71. Tive um exemplar da peça, que perdi, não sei onde nem quando.

Nessa época, ainda com o Maio de 68 fresquinho, os estudantes esquerdistas tinham uma simpatia muito grande pelos emigrantes. Foi por essa altura que conheci Armand Gatti, que escreveu uma peça, cujo tema era a emigração portuguesa. Bebi um sumo em sua casa, onde havia enormes estantes metálicas cheias de livros. Gilbert, Nicolas e Monique, eram os meus amigos de Anthony e Chatenay Malabry, que me proporcionaram esse encontro, já não sei bem para quê.

Foram tempos bons. António Coimbra pontificava no Centro Cultural da Gulbenkian na Av. Iéna. Henry Kissinger discutia por ali a paz no Vietname. Um tal José Augusto era o correspondente da RTP em Paris. No café do Luxembourg planeavam-se revoluções em Portugal. As mandíbulas da PIDE não chegavam a Paris, ainda que todos nós conhecêssemos muitos bufos.

Como vivia à conta do orçamento familiar, devorei, mas provavelmente sem proveito, todo o teatro de Santareno e Sttau, Sartre e Sastre, Camus e muitos outros. Calcorreei as ruas de Paris e namorei o que me foi possível. Em Paris, nos anos de 1970 e 71, na ressaca da borracheira que foi o Maio de 68.
(tem continuação)

5 comentários:

José Antunes Ribeiro disse...

Gostei muito desta tua lembrança de Paris naqueles tempos.
Também por lá passei naquele tempo e me recordo de uma noite fantástica à conversa com um nosso patrício ligado ao Teatro " Le Vieux Colombier" e não sei o que é feito da nota (francesa? portuguesa?) que foi cortada ao meio e cada um de nós ficou com a sua metade!...
Acho muito justa a referência ao talento da Lidia Martinez, minha grande amiga, e à estética do blogue da Alex, nossa amiga também!
Ah, desculpa o esquecimento! Gostei muito da última frase!...
Um abraço. Bom fim de semana! Desculpa lá aquilo do Sporting, mas ambos mereceram não ganhar...Que grande crise vai pela Segunda Circular!

José Antunes Ribeiro disse...

Manuel, erro meu, queria dizer que também gostei da penúltima frase, claro!...

LM,paris disse...

Mil mercis dois amigos meus!
Sim Manuel, viu esse espectàculo, entao? , ah, o benjamim vai ficar tao feliz!
Foi uma época tao empolgante!
Acabei de comprar hà dois meses as duas mil pàginas da obra completa d'Armand gatti, la parole errante. vao-lhe fazer uma homenagem agora em outubro, eu devia ter participado com um espectàculo, mas nao aconteceu...è um poeta, um homem espantoso.
que bonitaa historia do Zé com o blhete em metades, como nos filmes!
Adoro o blog da alex, é maravilhoso de intuiçao e beleza. Entao amigos, nao chega falar das coisas boas e de ontem...venham-me visitar em Paris!!!Manuel seria uma ideia de vir dar um abraço ao Gatti?
easy-jet...melhor preços!
beijinhos de Paris com solinho hoje. nao vao acrediatr, comprei tremoços no mercado na Bastille!!!!
até jà, venham os dois!
LM

Alex disse...

São momentos assim que mostram bem a distância entre o coração dos homens: NENHUMA. Bom, alguns.

Estou aqui a sorrir Manuel. Não sei se me está a ver!? A imaginar a Lidia, o Zé, O Manuel ... em paris, acabadinhos de chegar para uma conversa solta (acesa) no café do Luxembourg. E eu corro pelo meio da praça porque já vou atrasada e não quero perder o inicio da conversa.

Esperam por mim?



Um bom blog, Caro Manuel, não precisa ter imagens, ser estético ou enfeitado com molduras fotográficas. O seu, é um bom exemplo, aliás, o seu e o do Zé Ribeiro.

Grande abraço, não comecem antes de mim.

Alex disse...

E a Lidia comprou tremoços no mercado da Bastille!!!!

e eu, eu já tenho o cheiro do Sena entranhado no nariz.