quinta-feira, setembro 27, 2007

SONETO

"Rudes e breves as palavras pesam
mais do que as lajes ou a vida, tanto,
que levantar a torre do meu canto
é recriar o mundo pedra a pedra;
mina obscura e insondável, quis
acender-te o granito das estrelas
e nestes versos repetir com elas
o milagre das velhas pederneiras:
mas as pedras do fogo transformei-as
nas lousas cegas, áridas, da morte,
o dicionário que me coube em sorte
folheei-o ao rumor do sofrimento:
ó palavras de ferro, ainda sonho
dar-vos a leve têmpera do vento."

OLIVEIRA, CARLOS, TRABALHO POÉTICO, Vol. 1,
Livraria Sá da Costa, Lx, s/d.

2 comentários:

José Antunes Ribeiro disse...

Grande Carlos de Oliveira!
Excelente oficina poética!
Um abraço, Manuel.

Alex disse...

Era este o poema do Carlos Oliveira ...



Que dizer Manuel? É perfeito e estupidamente real. É lindo.

São palavras.

** São pétalas de alma que vamos deixando cair ** (é a minha própria definição),

porque saem de dentro,


Têm poder, as palavras.
Têm sentidos, as palavras.
Têm alma, as palavras.
Pudor, também, como as pedras à beira mar. Há coisa mais pura que uma pedra na nossa mão?

Tenho as mãos abertas, as palmas das mãos abertas e tão cheias de palavras por escrever.


e descubro que escrever doi.







PS. Pareço um puto amuado ao canto da sala mas sei que preciso deste recolhimento, talvez as apanhe uma a uma (todas as palavras que até agora escrevi) e as volte a escrever de novo sem sentir o peso que delas vem e sem os punhos tão cerrados em cima da mesa.



Um abraço Manuel.