Paços do Concelho
Santa Iria de Azóia, 7 de Julho de 2012 – As aulas do ciclo e do secundário começavam sempre no primeiro dia do mês de Outubro. E foi precisamente no dia um de Outubro de mil novecentos e sessenta e quatro que fui viver em Castelo Branco. Na acanhada Rua de Santa Maria, a pouco mais de cinquenta metros do antigo Albergue Municipal, onde era popular um homem com problemas mentais, de nome Raul, que cravava cigarros a toda a gente.
Eu não tenho a certeza se nesse ano desfilei no 1º de Dezembro, com a farda da Mocidade Portuguesa, da Praça Rainha D. Leonor até à Sé, onde era celebrada missa e abençoada esta criação do fascismo português. Eu gostava de ir e de assistir à missa, onde a páginas tantas, se ouviam poderosos clarins, que emprestavam um tom guerreiro à festa da Restauração. Ou pelo menos era assim que eu sentia as coisas.
Eu vinha da aldeia, a Mata, onde fui aluno de um professor que obrigava diariamente a pequenada a formar e a marchar e a cantar o “somos pequenos lusíadas”. Dizia-se que era informador da ex-PIDE, facto que nunca tive curiosidade em confirmar, apesar de com ele me ter incompatibilizado naquele ano decisivo de mil novecentos e sessenta e nove. Encontrou-me no armazém do Carlos Vale, na J. A. Morão, onde eu executava uma tarefa eleitoral, ajudando a CDE. O dito professor ia à procura do Cartório Notarial e depara-se com um ex-aluno a ajudar nas actividades da oposição democrática. Por puro voluntarismo, que as convicções mais profundas só vieram a seguir.
Não estranhei muito, portanto, aquele ambiente de 1º de Dezembro, agora com camisa verde, cinto com S, calções e bivaque castanhos. Não me recordo se os sapatos também faziam parte do fardamento. Eu respirava patriotismo e catolicismo por todos os poros. E admirava sinceramente aqueles comandantes de castelo e de bandeira, que, no meu entendimento de doze anos, eram verdadeiros generais. O Rosado e o Mário eram na EICCB, actual escola Amato Lusitano, dois grandes chefes.
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